Desde os minutos iniciais, Destiny 2 parece uma antítese a toda a impressão inicial passada pelo primeiro Destiny.
Ao retornar de uma missão, seu herói se depara com a Torre em frangalhos. Sua base, o local de onde você partiu para incontáveis aventuras no decorrer dos últimos três anos, agora é nada mais do que uma pilha de escombros. Para quem jogou o primeiro, é a certeza de uma mudança definitiva, com forte peso narrativo. Desde seus primeiros minutos, Destiny 2 dá algo com o qual você deve se importar.
Enquanto eu passava pelas salas destruídas da torre, me lembrava da base russa inóspita na qual o Fantasma nos acordou no início do primeiro Destiny e, logo de cara, mostra também o quanto a Bungie aprendeu com os erros cometidos em sua aventura original - e, especialmente, aprendeu como lidar com um título dessa magnitude em seus primeiros meses, sem dúvida os mais decisivos na criação de uma comunidade.
Afinal, nenhum título nessa geração de consoles ensinou tanto os jogadores como os jogos são trabalhos em constante evolução e progresso, e como eles podem mudar, para melhor, ainda que para isso seja necessário trabalhar por meses após as caixinhas serem vendidas nas lojas. Destiny 2 é fruto direto desse aprendizado, e essas lições podem ser vistas não apenas nos primeiros, mas também em toda a extensão da campanha e das atividades multiplayer.
(E como Destiny 2 é um jogo em constante mudança e evolução, este review também será. Este texto inicial foi feito com base em nossas 16 horas iniciais com uma versão 99% finalizada do game, em um teste realizado a convite da Activision, nos Estados Unidos. Joguei cerca de metade da campanha, e fiz, sozinho e em grupo, vários eventos públicos, patrulhas e assaltos, além de disputar várias partidas no Crisol em modo quickplay e competitivo. Continuarei jogando Destiny 2 e este texto será atualizado posteriormente, com a nota final.)
O primeiro e mais importante deles é, sem dúvida, a presença firme de uma linha narrativa desde o momento em que você põe os pés de volta neste universo. Foi-se o tempo “da narrativa confusa e pouco explicada” fazia parecer que o primeiro jogo não “ligava para os próprios personagens e, por alguns momentos, parece não ligar para quem está com o controle na mão” (palavras da nossa crítica de Destiny 1, de 2014).
Para envolver jogadores, NPCs e inimigos, a essência do que se conta é simples: Destiny 2 é uma história sobre vingança. Sua principal motivação, ao lado dos demais Guardiões, é retomar a Torre, conquistada pelos Cabais da Legião Vermelha, em uma trama que rapidamente ganha contornos de urgência e grandiosidade, muito pelos planos da facção liderada pelo perverso Ghaul.
A Bungie finalmente trouxe a história para onde ela deveria estar: dentro do próprio jogo
Enquanto os Grandes Acontecimentos™ dão o tom da história em uma escala maior, Destiny 2 vai revelando, aos poucos, várias facetas menores de seu universo à medida que você vai fazendo as missões. A Bungie deixou de lado ideias mirabolantes como enxotar toda a sua mitologia em cartas e linhas de texto de seu site oficial e as trouxe para onde elas deveriam estar: dentro do próprio jogo.
Isso significa que, quando você estiver explorando um túnel abandonado da Zona Morta Europeia (EDZ) ou as estruturas mecânicas dos Vex em Nessus, o Fantasma e o NPC que lhe deu a missão certamente estarão conversando, falando sobre o que aconteceu ali e dando contexto ao local e as suas ações. É uma solução completamente óbvia, e nos faz pensar por quê a Bungie não a adotou desde o começo (sério, quem achou que as cartas do Grimório seriam uma boa ideia?).
Salve o mundo… e divirta-se
Apesar de todo esse senso de urgência, Destiny 2 é um jogo surpreendentemente engraçado, e isso fez muito bem para o jogo como um todo.
Mesmo em face de tanta adversidade, o roteiro sempre encontra um espacinho para deixar as coisas mais leves. Muito disso é feito por meio do simpático Cayde-6 (que basicamente é uma extensão da veia cômica de Nathan Fillion) e pela IA de Nessus Failsafe (cuja personalidade ácida remete a GLADoS de Portal), mas às vezes o humor é involuntário e vem de outros personagens. Como, por exemplo, de Zavala (Lance Reddick), que não consegue segurar o riso ao falar o nome ridículo de uma das missões que o seu personagem vai executar.
O humor é uma solução prática encontrada pela Bungie para unir os dois lados do jogo: o da história séria mostrada na campanha com toda a cultura de coleta e aprimoração dos equipamentos cultivada pelos jogadores (e pela própria desenvolvedora) ao longo dos três anos de Destiny 1. A comunidade mostrou à desenvolvedora que Destiny fica melhor quando não se leva tão à sério, e essa valiosa lição é implementada com louvor na continuação.
Falando de Cayde-6, Ikora e Zavala, os três líderes de classe, que vinham crescendo como figuras principais deste universo desde a expansão “O Rei dos Possuídos” (“The Taken King”), têm um papel de importância vital na história. Não à toa, boa parte do que já joguei da campanha gira em torno do nosso personagem e do Fantasma indo atrás desses três líderes para recompor o que sobrou dos Guardiões.
A Bungie aprendeu que Destiny é melhor quando não se leva tão à sério
Mas não são apenas os três - ou sequer apenas os Guardiões - que ganham um espaço de destaque na história de Destiny 2. Entre todos os pedacinhos de universo que o jogo vai mostrando, um dos detalhes que mais gostei é como ainda há vida fora da Torre. Suraya Hawthorne, dona da águia que o conduz até a Fazenda (o espaço social do jogo), é o exemplo do que estou falando, mostrando que a humanidade ainda luta para existir, com ou sem o auxílio dos Guardiões.
Começar do zero
O forte do primeiro Destiny era, sem dúvida, o gameplay, com controles precisos e extremamente agradáveis embalados por uma estrutura viciante de acumulação de recursos e melhora do seu personagem. Como diz o ditado popular, em time que se ganha não se mexe, e a Bungie mantém inalterada essa essência na continuação.
O que mudou - e isso faz toda a diferença - é o caminho que você percorre para chegar a esse estado de êxtase acumulador que prendeu milhares de jogadores durante quase três anos. Isso se traduz em chegar ao nível 20, o limite inicial do primeiro game, e o limite inicial deste, uma espécie de “pré-requisito” para ter melhores chances de conseguir os equipamentos mais raros do jogo.
Destiny 2 encurta essa jornada simplesmente permitindo que você alcance esse patamar muito mais rapidamente. Enquanto o primeiro jogo fazia você ir muito além da campanha para atingir o nível 20 (e ainda complicou as coisas com o “nível de luz”), o segundo permite que você alcance o limite com tranquilidade na metade da campanha.
Nas nossas primeiras 16 horas com o game, dentro do ambiente controlado da Bungie, chegamos a este patamar muito antes de o teste acabar, e antes mesmo de alcançarmos a última missão da história que a desenvolvedora nos permitiu jogar (em cerca de metade da campanha). Só o caminho da história nos levou até além do nível 15, e o restante veio com assaltos, patrulhas e eventos públicos. A julgar pela nossa experiência, um jogador mais dedicado conseguirá chegar no nível 20 em menos de dois dias com o game.
Os mundos de Destiny 2 são mais convidativos do que os do primeiro
O caminho mais reduzido também serve para amenizar um dos maiores impactos de Destiny 2 com a comunidade dedicada: a impossibilidade de transferir seu nível e equipamentos do primeiro game. Em jogos baseados no acúmulo de itens, ver todo o seu esforço indo pelo ralo à medida que a maioria dos jogadores deixa um título em prol da sequência pode ser frustrante, mas esta medida deve fazer com que o impacto seja mínimo.
Também faz toda a diferença o fato de os mundos de Destiny 2 serem muito mais convidativos do que os do primeiro game, com um número de missões a fazer. Já falamos muito sobre elas neste texto de impressões iniciais, mas vale reiterar aqui que Aventuras, Setores Perdidos e Eventos Públicos são algumas das atividades que, desde os minutos iniciais, dão cor ao universo e tiram de letra a monotonia inicial que Destiny 1 jamais conseguiu remover de si.
Fora as atividades de jogador contra ambiente (PvE), Destiny 2 também conta com uma série de modos de jogador contra jogador (PvP) no Crisol, em modos de luta entre equipes, entre outros. Como o multiplayer é algo que mais depende do comportamento dos jogadores, avaliaremos esta parte com mais calma e comentaremos em nossa atualização deste review.
Todo o caminho a ser percorrido pelos jogadores neste novo universo já é mais prazeroso, imersivo e recompensador do que Destiny jamais foi em seus primeiros meses. O segundo jogo, enfim, parece merecer toda a fama com o qual foi alardeado nos meses que antecederam o lançamento da franquia e, agora, parece fazer jus ao hype criado em torno de si.
Destiny 2 está disponível para PlayStation 4 e Xbox One. Uma versão para PC (Battle.net) será lançada em 24 de outubro. O jogo foi testado em um PlayStation 4 padrão. Clique no nome das plataformas para conferir o preço em suas versões digitais.