Review: Like a Dragon: Pirate Yakuza in Hawaii nunca vai te deixar entediado
Entre o caos e o amor, novo jogo abraça o ridículo e integra bem mini-games à história
Like a Dragon: Pirate Yakuza in Hawaii é um jogo estranho. Sim, é estranho até mesmo para os padrões de Like a Dragon, ou Yakuza, que é tranquilamente uma das franquias campeãs do mundo dos games quando se trata de te colocar em rolês aleatórios com personagens esquisitos. O novo título do Ryu Ga Gotoku Studio é uma mistureba de gêneros e referências que você pode até dar uma olhada de longe e fazer aquela careta, mas na hora de jogar… o negócio é bom pra caramba.
Esse jogo faz parte de uma nova era de Like a Dragon, que se dividiu em dois tipos de jogos: os principais, agora como RPGs, contam a história do protagonista Ichiban Kasuga, e novos derivados que trazem o gameplay clássico da franquia e seus protagonistas consagrados em situações peculiares, como o Kiryu agente secreto de Like a Dragon Gaiden e, agora, o caótico Goro Majima no papel de pirata,
Essa premissa é tão absurda que, quando a existência desse jogo vazou antes do anúncio oficial, ninguém deu muita bola porque a ideia era absurda demais até mesmo para Like a Dragon. Bom, é real, e o próprio Majima conta essa história quebrando a quarta parede com aquela energia de alguém que tá chegando pra você falando: “calma, eu posso explicar”.
Majima acorda sem memória em uma ilha próxima ao Havaí. Ele veio de uma ilha vizinha que está ocupada por fanáticos religiosos e yakuzas tentando limpar lixo radioativo, mas as duas facções parecem ter algo a esconder debaixo dessa suposta boa intenção. Sem saber de seu passado como um temido membro da yakuza, ele abraça a nova vida de capitão de um navio pirata, levando consigo o garoto que o resgatou, Noah, um menino asmático doido pra conhecer o mundo, e seu pai, Jason, ressentido de traumas do passado envolvendo sua vida antiga como pirata, entre outros problemas familiares.
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A partir daí, Pirate Yakuza se passa em três cenários diferentes. O primeiro deles é o alto-mar, por onde Majima e sua tripulação a bordo do Goromaru viajam saqueando tesouros e enfrentando outros piratas. O segundo é Madlantis, um paraíso pirata escondido em uma caverna aquática que une bares, coliseus e outros tipos de entretenimento para yakuzas, criminosos e piratas. E o terceiro é Honolulu, capital havaiana que também serviu de palco para Like a Dragon: Infinite Wealth, que faz as vezes de cidade mais tradicional de Like a Dragon, na qual você anda por aí, vai em bares, canta no karaokê, joga sinuca, dá porrada em vagabundo e sai ajudando desconhecidos na rua, muitas vezes vendo o legado de Ichiban em sua passagem por lá.
Like a Dragon têm se especializado nos últimos anos em colocar seus personagens em situações que, à primeira vista, parecem completamente fora da realidade da franquia - Kiryu, ou Joryu, como agente secreto, toda a loucura da história do Ichiban. Tudo isso é fichinha perto da salada de referências e gêneros de Like a Dragon: Pirate Yakuza in Hawaii, que uma hora se deixa ser musical, em outra se transforma um blockbuster de ação com piratas, passando pelo já esperado contingente de personagens peculiares te chamando para participar de atividades duvidosas em Honolulu ou Madlantis. Mas o que prevalece, como de costume na franquia Like a Dragon, é justamente o drama com foco nos personagens, seja o conflito familiar entre os Rich, seja as inúmeras dificuldades vividas pelas várias pessoas que pedem a sua ajuda ao longo da história.
Nisso, quem acaba perdendo um pouco de suas características é o próprio Majima. Sem memória, ele prefere se lançar em sua nova identidade de capitão de um navio, servindo como uma mistura de agente do caos, como manda a sua personalidade doidona, e de cara bonzinho que ajuda desconhecidos por aí, num papel ao qual estamos mais acostumados de ver sendo interpretado pelo estóico e sisudo Kiryu.
Até aí tudo bem, porque a gente já viu o Majima em um papel mais sério em jogos como Yakuza 0, mas aqui parece, em boa parte do jogo, um coadjuvante da sua própria história, deixando as pessoas ao seu redor e as tretas do mundo dos piratas assumirem um papel mais central durante boa parte do jogo. Isso destoa um pouco do que Like a Dragon normalmente faz, jogando seus heróis sempre no centro de uma história complicada na qual eles precisam enfrentar o mundo e sempre têm muito a perder (ou perdem tudo e precisam recomeçar do zero).
Enquanto a trama transita entre essas questões, o gameplay integra o legado de Like a Dragon de maneira exemplar com os novos sistemas e elementos ligados à pirataria.
Vou começar falando rapidamente do gameplay de combate porque aqui não tem muita surpresa: as lutas corpo a corpo continuam bem parecidas com as dos outros jogos e são competentes, resgatando o espírito clássico de beat em’up que sempre caracterizou a franquia, e no qual você vai desbloqueando habilidades para deixar seu personagem ainda mais imparável. Aqui, o RGG Studio se permitiu abraçar um pouco mais o ridículo ao criar um estilo pirata para Majima, com direitos a golpes esdrúxulos como invocar uma horda de tubarões imaginários ao tocar violino.
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A grande novidade é o combate naval, em que você precisa enfrentar embarcações de bandos rivais seja durante a sua exploração em alto-mar, seja no Coliseu dos Piratas, um torneio realizado em um ringue aquático dentro de Madlantis no qual as principais companhias piratas colocam em risco sua vida para aumentar a reputação dentro do submundo criminoso no Havaí. A melhor qualidade do jogo é manter essa parte do jogo simples: em vez de tratar os barcos como operações ultra-complexas e pesadas, como Assassin’s Creed e outros jogos bem-sucedidos nesse campo, Pirate Yakuza in Hawaii vai na direção oposta, colocando um botão turbo no seu navio e permitindo que Majima use um lança-foguetes pra dar aquela ajuda quando os ventos não sopram ao seu favor.
Mas a principal sacada aqui é incluir os já famosos mini-games de gerenciamento de pessoas e negócios pelos quais Like a Dragon é tão conhecido, vide os mini-games de cabaré ou de mercado imobiliário de outros jogos. Você pode recrutar diversos NPCs para fazer parte da sua tripulação e colocá-los para gerenciar canhões, reparos e outras partes do navio, como também vai com eles junto a missões de saqueamento em ilhas e embarcações, nas quais a porrada come solta.
Dá pra recrutar essas pessoas de vários jeitos diferentes. O principal é fazer sidequests, e às vezes o jogo vai te empurrar pra essas missões quase que de forma obrigatória. Em outros casos, as missões paralelas clássicas de Like a Dragon acabam trazendo novas pessoas para o seu bando. Também é possível chamar pessoas com habilidades especiais ao fazer atividades específicas dentro do jogo, como tirar um placar alto em um mini-game de sinuca ou simplesmente convencê-las na base da porrada.
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Agora, quando essas pessoas são recrutadas, suas histórias pessoais também passam a fazer parte do jogo, seja quando você acha um jovem que quer honrar a morte do pai encontrando um tesouro que ele tinha marcado em um mapa, ou uma garota que quer se vingar do bando de piratas rival que acabou com sua família. Essa integração é um dos melhores momentos de Pirate Yakuza, que consegue fazer um jogo complexo e cheio de coisas a se fazer sem apelar para cenários gigantescos ou entupir o jogo de atividades inúteis e tediosas.
Inclusive, tédio é uma sensação que dificilmente existe ao jogar Pirate Yakuza in Hawaii, e aqui está uma lição valiosa que o RGG Studio traz para outras desenvolvedoras de jogos de ação.
Aqui, vale a gente dar um contexto da franquia como um todo. Like a Dragon existe desde 2005, o primeiro jogo é lá do PlayStation 2, e por muitos anos ele foi vendido no ocidente como uma espécie de “GTA japonês”, em um processo que resultou até na mudança de nome da franquia fora do Japão para Yakuza. Só que na verdade, o jogo não poderia ser mais diferente da filosofia da Rockstar: são jogos focados em mapas pequenos, com muita coisa para se fazer e muitas histórias para conferir, de modo que você praticamente “tropeça” em sidequests enquanto está fazendo o caminho da missão principal. A SEGA, inclusive, demorou muitos anos para tirar essa imagem errada da franquia.
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Alguns anos depois de vencer essa barreira, o RGG Studio decidiu chacoalhar a fórmula ao transformar a série principal de Like a Dragon em um RPG, enquanto derivados como Like a Dragon Gaiden: The Man Who Erased His Name, de 2023, e esse aqui, retém o gameplay tradicional de ação dos jogos mais antigos. Tudo isso aconteceu mantendo uma filosofia tradicional de produzir jogos de tamanho menor, mas muito variados em termos de atividades, mini-games, e com muita ênfase na qualidade da história e no carisma de seus personagens.
Isso permitiu que o RGG Studio nadasse na contramão do estado atual de produção de jogos de alto orçamento. Em um mundo no qual estúdios levam de cinco a sete anos para produzir um título AAA, essa desenvolvedora já lançou quatro Like a Dragon inéditos só nesta geração de consoles e, com Pirate Yakuza in Hawaii, têm mostrado que consegue inovar em cima de sua fórmula tradicional fazendo um jogo com várias novidades interessantes e super integradas ao que já dá certo nos outros games. Inclusive, Pirate Yakuza in Hawaii mostrou também o quão acertado foi levar o gameplay clássico da série uma linha para jogos derivados, em que se pode experimentar ainda mais e alcançar um sucesso por caminhos diferentes.
Tudo isso faz de Like a Dragon: Pirate Yakuza in Hawaii um jogo que, na aparência, é sim muito estranho, mas no fundo é também cheio de vida e personalidade, e dificilmente vai te deixar entediado.
- Lançamento
21.02.2025
- Publicadora
Sega
- Desenvolvedora
Ryu Ga Gotoku Studio
- Censura
18 anos
- Gênero
Ação, Beat'em up, Aventura, Hack n' slash
- Testado em
PlayStation 5
- Plataformas
Xbox One Xbox Series X Xbox Series S PlayStation 5 PlayStation 4 PC