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Capcom/Divulgação
Review: Monster Hunter Wilds é o melhor, maior e mais acessível jogo da série
Novo título combina aprendizados de World e Rise para criar a experiência definitiva da franquia
Monster Hunter Wilds é um espetáculo grandioso, o que é um feito para uma série de jogos que já está acostumada a superlativos. Ao aumentar seu mundo, simplificar burocracias e deixar seu processo mais convidativo a novatos, a franquia entrou em um processo que a fez catapultar seus últimos quatro games no top 10 de vendas da história da Capcom, incluindo o primeiro e segundo colocados do ranking com Monster Hunter World e Monster Hunter Rise. Wilds pega os aprendizados principais de seus dois antecessores para criar a experiência definitiva da franquia.
Com mais de 20 anos de história, Monster Hunter é um RPG de ação com um loop de gameplay simples: você caça monstros gigantes, sozinho ou em grupos de até quatro pessoas, e usa partes desses monstros para fazer armaduras e armas. Com equipamentos melhores, você pode enfrentar monstros ainda mais fortes.
Na ideia, parece simples. Na prática, caçar é um processo complexo, com mil maneiras diferentes de alcançar seu objetivo, com armadilhas, estudo do comportamento dos bichos, o uso de recursos do cenário — incluindo conflitos com outros monstros — e, principalmente, na escolha de armas e armaduras. Não é exagero dizer que daria para criar 14 jogos de ação diferentes com os fuzilarcos, espadas, machados e lanças e mais entre as 14 armas no arsenal do game.
Por conta dessa combinação de fatores, Monster Hunter foi durante boa parte de sua história um jogo bem complicado de jogar, e o esforço da Capcom de simplificar tudo isso rendeu frutos. Agora, Wilds continua essa tendência, com um foco bem importante: melhorar a experiência de quem joga sozinho.
O primeiro passo vem do que a Capcom já vinha fazendo em Monster Hunter World, transformando os primeiros passos dos jogadores em uma aventura mais cinematográfica. Wilds leva a Guilda dos Caçadores para as Terras Proibidas, um local no qual se acreditava não haver presença humana. Ao chegar lá, você dá de cara com um garoto desacordado em um deserto e, além de estudar esse novo local, precisa ajudar o menino, chamado Nata, a encontrar o caminho de casa.
De forma quase inédita, o novo Monster Hunter dá um foco a pessoas em uma série de jogos na qual os monstros sempre tiveram o papel principal. Nos anteriores, a história quase sempre era guiada pela presença de criaturas grandiosas que afetavam o bioma sendo estudado pelos caçadores, como os Dragões Anciões de World. Os monstros continuam tendo um enorme foco, mas dividem mais os holofotes com os povos das Terras Proibidas e, principalmente, a jornada de autodescoberta de Nata.
Os integrantes da Guilda de Caçadores que desempenham papéis burocráticos ao longo da história, como fabricar suas armaduras ou te dar missões, também ganham mais espaço em cutscenes e momentos de passeio pelo cenário, criando um núcleo agradável de acompanhar e que, de quebra, também apresenta o mundo de uma maneira mais interessante.
Essa ideia de dar protagonismo a humanos, que já vinha com as gêmeas de Monster Hunter Rise, também ajuda Wilds a se conectar com temáticas que já vinham de jogos mais antigos e se perderam nos títulos mais recentes: as origens do mundo, o estudo de civilizações mais avançadas e há muito tempo perdidas, ou a ideia de que os humanos, além dos monstros, também têm o papel de interferir no meio ambiente em uma escala global.
Tudo isso ajuda o jogo a ter mais cara de “jogo de ação em terceira pessoa com historinha” que é mais palatável a um público mais amplo, mas a mudança mais importante acontece mesmo no gameplay, evoluindo propostas que já vinham de títulos anteriores e fazem toda a diferença para quem está começando.
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A experiência ideal de Monster Hunter acontece quando você joga no multiplayer, com até quatro pessoas se ajudando para derrubar criaturas enormes como um Rathalos ou o Arkveld, o monstro que está na capa do jogo. O combate em Monster Hunter é, por definição, baseado em uma diferença enorme na escala de poderes: essas criaturas sempre serão maiores do que você. Às vezes, muito maiores. Preparar-se para uma missão é tão importante quanto o momento do combate e, se isso puder ser feito em grupo, é melhor.
Desde Monster Hunter World, a Capcom ajudou quem não tem amigos a encontrar seu grupo com o Sinalizador SOS, uma mecânica em que você pode pedir ajuda a desconhecidos no meio da missão. Na prática, o sistema não funcionou tão bem, já que pouca gente se dispunha a auxiliar desconhecidos. Em Rise, a desenvolvedora decidiu remediar o problema colocando caçadores controlados pela máquina à disposição do jogador para ajudar.
Agora, Wilds combina as duas mecânicas permitindo que você chame NPCs controlados pelo computador por meio do Sinalizador SOS, o que é uma grande ajuda quando uma criatura está te dando um sufoco. Esses personagens também têm habilidades equilibradas no ponto certo, desempenhando um papel de complementar a sua equipe, mas sem tirar a sua diversão de ser o principal caçador do grupo.
Outro aprendizado importante dos jogos anteriores foi o de facilitar a travessia pelo cenário usando montarias. O Amicão de Rise dá lugar ao enorme pássaro Seikret, um primo do chocobo de Final Fantasy que consegue encontrar monstros e perseguí-los de um habitat a outro por conta própria, liberando o jogador para fazer ajustes e preparações importantes, como gerenciar seus itens e afiar sua arma (sim, isso é muito importante para os combates de Monster Hunter).
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Na parte dos combates, a principal novidade é o ataque de foco, um novo modo que te permite mirar em pontos fracos do monstro. O recurso também foi criado pensando na acessibilidade, já que acertar partes feridas da criatura causa mais dano e, em alguns casos, pode até derrubá-la, algo mais difícil de se conseguir jogando sozinho.
Desde os primeiros jogos, contemplar a grandeza dos bichos que você quer abater e um dos pontos mais legais de Monster Hunter, e o jogo não decepciona nesse quesito, seja em criaturas inéditas como o Arkveld ou no retorno de nomes conhecidos, além de reservar surpresas muito interessantes para quem é veterano da franquia. Nos jogos mais recentes, os cenários também começaram a ganhar destaque.
Wilds amplifica essa sensação ao criar ambientes que mudam após eventos climáticos extremos, como uma tempestade de areia que transforma desertos em pradarias, ou em um temporal responsável por mudar a cor da água e das plantas de uma floresta. Acompanhar essas transformações quase em tempo real devido à rapidez de carregamento do SSD deixa todo o processo ainda mais natural e bonito de se ver.
Mas o que mais me surpreendeu foi ver como os personagens do jogo também estão muito mais bonitos. Aqui, é inegável o mérito da RE Engine, motor gráfico por trás dos jogos da Capcom desde Resident Evil 7 e utilizada em títulos como Devil May Cry 5 e Street Fighter 6. A desenvolvedora já havia utilizado a RE Engine na criação de Monster Hunter Rise, criando um dos jogos mais bonitos do Switch, mas que não chega perto do que a ferramenta é capaz de fazer.
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Sem as amarras do hardware de um console lançado em 2017, a RE Engine alcança seu verdadeiro potencial, ainda mais levando em conta que você pode editar a aparência de seu personagem. Aqui, também vale ressaltar que você finalmente pode combinar partes diferentes das versões masculina e feminina das armaduras, deixando o seu personagem ainda mais do jeito que você quer.
No entanto, Monster Hunter Wilds não escapa de alguns problemas de otimização, especialmente no momento do lançamento. O jogo tem alguns momentos de quedas de taxa de quadros, especialmente quando há muitos efeitos no cenário que exigem iluminações diferentes, e é perceptível a diferença de qualidade gráfica em cutscenes e na parte de gameplay.
Isso pode ser em partes remediado pelos já esperados modos de foco em resoluções mais altas, ou foco em desempenho da taxa de quadros. Há um terceiro modo, que mistura performance e gráfico, mas acaba não fazendo nenhuma das duas coisas direito. Não são problemas que inviabilizam a experiência e provavelmente serão corrigidos com patches futuros, mas podem atrapalhar em um momento ou outro.
Por fim, vale destacar a localização de Monster Hunter Wilds, que traz pela primeira vez na história da franquia a dublagem em português do Brasil. O elenco tem algumas vozes conhecidas e complementa ainda mais as ótimas traduções de termos já empregadas pela Capcom em World e Rise.
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Todas essas novidades fazem de Monster Hunter Wilds o melhor jogo da série, e também a melhor porta de entrada da franquia para quem sempre teve interesse, mas se sentiu intimidado pelos sistemas de gameplay. Wilds já desponta merecidamente como um dos favoritos à indicação ao prêmio de Jogo do Ano, reunindo os acertos dos jogos recentes em uma experiência imperdível.
- Lançamento
28.02.2025
- Publicadora
Capcom
- Desenvolvedora
Capcom
- Censura
12 anos
- Gênero
Ação, Aventura, RPG
- Testado em
PlayStation 5
- Plataformas