Sabe quando você descobre alguma obra, seja um jogo ou um livro, e sente que aquilo merece uma adaptação em televisão ou filme para alcançar mais pessoas? Tenho certeza de que muitos fãs de The Witcher, tanto dos livros do autor polonês Andrzej Sapkowski quanto dos jogos da CD Projekt Red, já se sentiram assim. Quase dez anos atrás, era o meu caso.

A descoberta de The Hexer

Geralt na capa de O Último Desejo.

Depois de conhecer os jogos da série, fui absorvido de tal maneira por esse universo que acabei comprando todos os livros que havia encontrado. Após ler O Último Desejo, A Espada do Destino, O Sangue dos Elfos, Tempo do Desprezo e Batismo de Fogo, não consegui esperar até o lançamento oficial de A Torre da Andorinha, que aconteceria em 2016 no Brasil. Me vi obrigado a ler o penúltimo romance, na ordem cronológica, usando uma tradução em inglês feita por fãs estadunidenses aleatórios. O mesmo aconteceu com A Senhora do Lago.

Nesse período de obsessão pelo universo de The Witcher, cheguei a um vídeo um tanto inusitado no YouTube. Tratava-se de um trecho de um filme ou série que mostrava a cena que rendeu a Geralt o apelido de Carniceiro de Blaviken. Você pode assistir ao vídeo abaixo.

Pois é. Nitidamente, não é uma produção de alto nível, embora as páginas de The Hexer na Wikipédia indiquem um orçamento milionário. Espere... Eu disse The Hexer? E "páginas" no plural?! Sim! Era um projeto ambicioso, acredite se quiser.

Um filme e uma série de televisão

Geralt na adaptação polonesa.

Michał Żebrowski interpretava Geralt de Rívia.

Crédito: Torp/YouTube.

Há mais de 20 anos, em 2001, um filme cujo título em inglês era The Hexer foi lançado. Tratava-se da primeira adaptação cinematográfica de Wiedźmin, a saga polonesa que, hoje, conhecemos como The Witcher.

Estrelado por grandes atores poloneses dos anos 2000, o longa-metragem com aproximadamente duas horas de duração teria sido produzido com um orçamento de impressionantes 19 milhões de zlotys, ou seja, 4.7 milhões de dólares (na conversão atual entre as duas moedas).

Inimigos cercam Geralt.

Intimidadores, né?

Crédito: Torp/YouTube.

Apesar do investimento, que foi aproveitado também para divulgação, é nítido que o cuidado artístico com a produção não foi dos melhores. Além do visual bastante caricato, críticos apontaram, à época, que o roteiro não fazia muito sentido para quem não havia lido os livros, e mesmo quem já conhecia a história poderia se perder por causa da edição e da direção. De forma geral, deu tudo errado, ainda que as atuações em si fossem apontadas como um ponto positivo.

Surpreendentemente, em 2002, a segunda adaptação de The Witcher — uma série também intitulada The Hexer — foi lançada. Os atores eram os mesmos do filme, e a recepção, de forma geral, foi bem mais positiva. Ainda assim, como o filme era péssimo, a série ficou conhecida "apenas" como ruim.

Renfri morta.

A morte de Renfri é parecida com a da série da Netflix.

Crédito: Torp/YouTube.

Digo, com honestidade, que tentei assistir a ambas as produções e nunca consegui passar mais de dez minutos olhando para a tela. Afinal, além de serem versões em um idioma sobre o qual eu não sei nada, embora já tenha visitado a Polônia, os problemas técnicos são evidentes demais.

Mesmo assim, por incrível que pareça, fico arrepiado com o final do filme, especificamente, quando Geralt e Ciri se reencontram. Memória afetiva é algo complicado.

O retorno de Geralt à televisão

Geralt, Ciri e Yennefer.

Quando a adaptação de The Witcher foi lançada pela Netflix, em dezembro de 2019, senti algo entre a alegria e a frustração. Por um lado, era uma produção mais rica e com mais alcance do que as adaptações polonesas. Dois atores específicos, Anya Chalotra (Yennefer) e Joey Batey (Jaskier), me cativaram imediatamente e se tornaram os meus favoritos na série.

Por outro lado, entretanto, a direção e o roteiro eram cheios de problemas que iam desde enquadramentos muito mal pensados até simplificações excessivas no roteiro em relação ao material original. Não digo que os livros de Sapkowski são geniais (longe disso), mas há mais nuances no jogo político que existe nos livros do que aquilo que é mostrado na série.

Geralt olha para Milva.

Você pode ter lido, nos últimos dias, que Tomek Baginski, produtor de The Witcher, da Netflix, culpou os estadunidenses pela simplificação no roteiro. Ele disse, em entrevista ao site polonês Wyborcza, conforme traduzido pelo fansite Redanian Intelligence: "Quando uma série é criada para uma grande quantidade de espectadores, com diferentes experiências, de diferentes partes do mundo, e uma grande parte dessas pessoas é composta por americanos, as simplificações não apenas fazem sentido como também são necessárias. É doloroso para nós, e para mim também, mas o alto nível de nuances e complexidade teria um alcance menor, não chegaria até as pessoas. Às vezes, talvez até vá longe demais, mas precisamos tomar essas decisões e aceitá-las."

Além de soar um tanto grosseira, a fala de Baginski não explica outros problemas da série, como o já citado baixo nível da direção em quase todos os episódios, a fotografia básica, atuações questionáveis, figurino questionável e os efeitos especiais terríveis.

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De qualquer forma, é fato que essa adaptação, ainda que possa ser o suficiente para alguns fãs, passa longe de ser o que eu gostaria de assistir tantos anos atrás, e imagino que seja o caso de mais pessoas. Existiu avanço em relação às adaptações polonesas, com certeza. No entanto, é difícil se empolgar com os próximos capítulos de um seriado que, além de ter perdido o ator principal, ainda que não fosse dos melhores, insistirá, com certeza, nos mesmos erros das temporadas anteriores em uma nova temporada.


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