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Review: Monster Hunter: World

A emoção da caçada

Por Bruno Silva 26.01.2018 12H38

Da perspectiva de quem não conhece Monster Hunter, o mais novo título da franquia, Monster Hunter: World, pode ter uma estranha razão de existir. Em um esforço para conquistar uma audiência global, a Capcom retirou amarras e simplificou processos para tornar seu jogo mais parecido com… um título de ação qualquer.

Mas, como o experiente caçador que sabe como conduzir feras grotescas do naipe de um Diablos ou um Rathalos a uma armadilha, a produtora na verdade criou uma aparência “ocidentalizada” o suficiente para atrair jogadores novos (como eu) ao que Monster Hunter tem de melhor: a emoção da caçada.

A primeira vez que a percebi foi numa missão para exterminar o Anjanath, o tiranossauro cospe-fogo que estampa os materiais promocionais do jogo. Da primeira vez, prevaleceu a lei da natureza: o bicho é muito maior do que o caçador, e fez valer seu tamanho. Da segunda, já ciente dos seus padrões de ataque, fui com mais cautela, sabendo a hora de avançar para cima dele. Acuado, o Anjanath começou a fugir, até que acabou o tempo da missão - era necessário completar em 50 minutos.

Capcom/Divulgação

Da terceira vez, eu estava preparado. Equipei-me com uma armadura resistente a danos de fogo, para resistir às baforadas flamejantes do monstrengo, e decorei não apenas seus padrões de ataque, como também seus padrões de movimentação. Quando o Anjanath está perto de morrer, ele foge para o ponto mais alto da Floresta Ancestral. Acontece que este também é o ninho da Rathian, uma wyvern tão imponente quando meu alvo.

Quando a luta chegou àquele local, fiquei "enrolando", desviando dos golpes do Anjanath, até que sua rival viesse para defender o território. Foi a estratégia decisiva para enfraquecer a caça.

Derrubar seres gigantescos como o Anjanath ou a Rathian requer um misto de preparação (escolher a melhor armadura, a melhor arma), observação (descobrir os padrões de ataque e de fuga) e, sobretudo, paciência. Mas, quando tudo isso se junta dentro da experiência, você realmente se sente no encalço de uma criatura, e não um monte de polígonos programados.

Atacando de perto ou de longe, o arsenal de Monster Hunter: World impressiona

Capcom/Divulgação

Perdido na tradução

Essas sensações não são novidade para quem conhece Monster Hunter, uma saga de mais de dez anos que começou no PlayStation 2 e, apesar de sucessos tímidos no Ocidente, vê sua popularidade vir de praticamente um único país: o Japão. Isso tem motivo. Nos outros jogos, para chegar até a emoção verdadeira da caçada, você precisava passar por uma série de missões burocráticas e lidar com decisões de design que deixavam tudo muito arrastado.

Capcom/Divulgação

Monster Hunter: World tenta entregar exatamente isso: a mesma experiência, sem os empecilhos, em um esforço notório da Capcom de emplacar a franquia no mundo todo. Para quem já a conhece, as mudanças são bem significativas (e positivas). São coisas como eliminar as transições entre áreas, criando um grande e imersivo cenário, ou implementar um sistema de localização de monstros e itens por meio de guialumes, seres luminosos que apontam o caminho, desde que você tenha investigando o suficiente das pegadas de sua caça.

Monster Hunter: World faz concessões, mas não abre mão de sua essência

Capcom/Divulgação

O resultado é a fórmula clássica de Monster Hunter de uma forma muito mais acessível (mas um tanto cheia de menus e coisas pipocando na tela), que faz concessões, mas não abre mão de sua essência. Para quem está chegando agora, temos um jogo que facilita o caminho para o que realmente interessa: os combates e as caçadas.

Versatilidade ao extremo

Monster Hunter sempre brilhou na variedade de jeitos de jogar, retratada pelas catorze armas de seu arsenal. Os armamentos contemplam tanto quem gosta de partir para o combate direto quanto quem prefere atacar à distância - e o fato de ambos os estilos serem muito competentes é um feito impressionante do ponto de vista técnico.

A versatilidade das armas de Monster Hunter é complementada pela criatividade. Claro, você tem a tradicional dupla espada e escudo, assim como katanas, adagas que permitem ataques mais rápidos, arco e flecha e até mesmo metralhadoras. Mas você também tem uma espada que se transforma em machado, acumulando energia em uma forma para soltar ataques devastadores na outra. Você tem lanças que soltam explosivos, ou um martelo em forma de tuba que atordoa com uma pancada na cabeça e toca músicas capazes de dar benefícios temporários ao seu grupo.

Cada arma, a sua maneira, é colocada a prova quando se está frente a frente com os bichos. O combate de Monster Hunter é cadenciado sem ser extremamente pesado, e complexo o suficiente para oferecer a alegria de acertar uma estilosa combinação de ataques e punir quando se está exagerando demais na ofensiva - mas sem os excessos masoquistas que se vê em jogos de ação nos últimos anos.

Animais fantásticos e onde habitam

O arsenal à disposição dos caçadores é complementado por um rol igualmente interessante de monstros para conquistar. A princípio, as criaturas impressionam pelo tamanho, mas pelo seu comportamento e pela riqueza dos detalhes em sua biologia.

Só em variações de dragões e dinossauros, World já brilha, especialmente nas criaturas que você enfrenta nas partes finais da aventura, mas os monstros de pequeno e médio porte também não ficam atrás, como o Tzi Tzi Yaku, um lagarto azul com membranas capazes de disparar um clarão de luz, ou o Tobi-Kadachi, um misto de lagarto e pássaro cuja cauda conduz energia elétrica.

World nos conduz por seu bestiário por meio de sua campanha - que tem um foco maior na experiência do que nos jogos anteriores -, sem enrolação e sempre oferecendo bons desafios. Na história, você é parte de uma frota que viaja para um Novo Mundo no encalço de Zorah Magdaros, um dragão pedregoso e excretor de magma do tamanho de uma montanha. Os movimentos de Magdaros afetam todo o ecossistema, e também guiam a narrativa.

Monster Hunter tem uma miríade de monstros para caçar e estudar

A principal função da trama é colocar os jogadores em contato direto com boas missões de caçada, que, por sua vez, mostram o loop de gameplay pelo qual Monster Hunter é conhecido: matar monstros, utilizar suas partes para fazer armas e armaduras melhores, que por sua vez te deixam preparado para enfrentar monstros ainda mais difíceis. É simples, mas é muito efetivo. Com o tempo (e já imerso nesse mundo), World te apresenta amuletos, jóias e outros elementos que fazem parte do universo de Monster Hunter.

O novo Monster Hunter, assim como os demais, não quer que você apenas cace os monstros. Ele também quer que você os estude em missões paralelas, como investigações, permitem que você obtenha itens ainda mais raros - tudo sempre focado nas recompensas e no reforço de seus equipamentos e do seu adorável Amigato - a tradução em português de Palico no sempre excelente trabalho de localização da Capcom, que traz pela primeira vez um Monster Hunter com legendas e menus em PT-BR.

Caçando em grupos

Em outro de seus esforços para tornar a franquia mais acessível, Monster Hunter: World não faz distinção entre modos online e offline. Você pode se aventurar pelo Novo Mundo sozinho ou em grupos de até quatro jogadores. Nosso período de testes foi realizado antes do lançamento do jogo, portanto, com servidores vazios. Entretanto, foi possível avaliar como os sistemas multiplayer funcionam e, apesar de tudo ser simples, há alguns empecilhos que chateiam.

Toda vez que você começa uma partida, tem a opção de criar uma sessão online ou se juntar a de outros jogadores, pela sua lista de amigos ou digitando um código de 12 caracteres. A integração entre os grupos é bem simples: eles simplesmente aparecem no seu jogo e podem te ajudar a qualquer momento.

A única exceção, um tanto inexplicável, é em missões de história. Para formar um grupo, o líder da missão precisa assistir a uma cutscene que marca o primeiro encontro com o alvo. De todo modo, você não precisa desfazer o grupo - você pode fazer outras atividades enquanto seu amigo assiste ao vídeo.

Por outro lado, uma boa função no multiplayer online é o SOS, na qual você dispara um pedido de ajuda para seus amigos quando estiver penando para matar um monstro, o que permite a eles entrar em sua sessão.

Monster Hunter é uma franquia complicada para novos jogadores por todas as suas idiossincrasias, e World mantém algumas delas. Mas os maiores empecilhos finalmente foram embora, tornando a série de jogos da Capcom mais acessível do que nunca. E, finalmente, capaz de mostrar suas qualidades para o mundo inteiro.

Monster Hunter: World está disponível para PlayStation 4 e Xbox One. Uma versão para PC será lançada no segundo semestre. O jogo foi testado em um PlayStation 4 padrão. Clique no nome das plataformas para conferir o preço em suas versões digitais.

Nota do crítico