Quem lembra do Xbox One no início de 2017 provavelmente não esperava que o console tivesse o ano mais importante de sua história - e um que terminaria de forma surpreendentemente positiva.

O principal aparelho da Microsoft começou o ano em maus lençóis devido ao fim abrupto de vários projetos aguardados por parte dos fãs - e a diferença em relação aos concorrentes ficou ainda mais nítida devido aos sucessos de exclusivos de Sony e Nintendo no mesmo período.

Mas, com um bom segundo semestre no qual foram traçadas uma série de estratégias corretas na parte de serviços e deu alguns golpes de mestre (em especial, ao assegurar PlayerUnknown's Battlegrounds como exclusivo em consoles), a empresa americana preparou o terreno para a chegada do poderoso Xbox One X no fim do ano.

Vamos, então, rever como foi o ano do Xbox em 2017:

Os exclusivos

Logo no início do ano, o Xbox sofreu um baque com o cancelamento de Scalebound

Microsoft/Divulgação

Esta é provavelmente a área mais sensível do ano da Microsoft. Isso porque, já no nono dia de 2017, uma bomba caiu no colo dos fãs de Xbox com o cancelamento de Scalebound.

Anunciado em 2014 como um jogo exclusivo para o XOne produzido por ninguém menos do que Hideki Kamiya, a mente por trás de Devil May Cry e Bayonetta, o título era uma das novas propriedades intelectuais mais aguardadas entre a comunidade, e um dos grandes trunfos da empresa para 2017.

Mas os problemas da Microsoft nessa área não pararam por aí: Fable Legends, nova entrada de outra marca histórica do Xbox, também acabou indo para o limbo, e levou o estúdio Lionhead junto. Outros nomes de peso que deveriam encorpar o line-up da empresa para 2017, como Sea of Thieves e Crackdown 3, também acabaram passando para o ano que vem.

Enquanto Forza Motorsport 7, líder indiscutível entre os jogos de corrida, representou bem mais uma vez o XOne, o ano só não passou em branco para a Microsoft nesta área graças a boas surpresas com duas propriedades novas. O aguardado Cuphead conseguiu transcender o nicho dos jogos independentes com seu excelente traço e sua jogabilidade desafiadora, enquanto PUBG - uma parceria alardeada pela MS desde a E3 -, já está rendendo resultados, chegando a um milhão de cópias em apenas dois dias.

O Xbox One X foi peça-chave da estratégia da marca em 2017

Microsoft/Divulgação

O hardware

É um tanto paradoxal que os jogos exclusivos tenham sido o calcanhar de aquiles do XOne em 2017, já que, no hardware, a empresa têm se destacado desde o fim do ano passado - em especial, para os consumidores que procuram o melhor em especificações técnicas.

Enquanto o Xbox One S traz melhoras substanciais em relação à versão original do aparelho (e, em alguns quesitos, fez frente até ao PlayStation 4 Pro), 2017 nos trouxe o Xbox One X, que, ao menos debaixo do capô, é absurdamente mais poderosa do que todos os seus concorrentes.

Capaz de rodar jogos em 4K nativo e com gráficos melhorados até mesmo em jogos que não foram retrabalhados para o novo console, o Xbox One X se estabelece como o aparelho no qual os jogadores podem ter o melhor desempenho visual, especialmente em relação aos concorrentes, e a Microsoft tem usado a estratégia ostensivamente no período de lançamento do One X.

É um tanto simbólico que o novo aparelho tenha chegado exatamente no mesmo ano em que o Kinect, o sensor de movimentos central para a estratégia do Xbox One quando foi lançado em 2013, teve seu suporte descontinuado pela Microsoft. O aparelho, de muitas maneiras, simboliza essa transição entre a velha e a nova fase da empresa em relação a games.

Os serviços

Xbox Game Pass

O Xbox Game Pass foi uma das melhores novidades do ano em termos de serviço

Microsoft/Divulgação

Nisso, vale ressaltar o trabalho de Phil Spencer a frente da divisão Xbox dentro da Microsoft. Desde que assumiu o comando da marca em 2014, o executivo tem feito a renovação mais interessante dentre as três grandes fabricantes, adotando um discurso de liberdade e integração entre plataformas e serviços - sem deixar de lado a concorrência.

Isso se traduziu em muitas das decisões que envolveram o Xbox em 2017, como, por exemplo, a de abrir o multiplayer da Xbox Live para se comunicar com o de outras redes. Um dos resultados foi a integração de Minecraft entre Xbox, PC, e até mesmo os aparelhos da Nintendo - algo que parecia impensável há anos atrás, devido à natureza fechada da fabricante japonesa. Foi, também, um belo golpe na concorrente Sony, que se recusou a participar do programa e teve de lidar com a má impressão dos jogadores.

Na parte online, a Xbox Live se firmou ainda mais como a melhor opção entre as redes das três fabricantes. Primeiro, por conta da retrocompatibilidade, que se estendeu para jogos do Xbox original. Os donos da marca não apenas podem jogar títulos das três gerações de Xbox no XOne, como também podem, em alguns casos, ter seu visual melhorado no Xbox One X.

Segundo, a fabricante trouxe uma das melhores novidades do ano em termos de redes online com o Game Pass, uma espécie de “Netflix de games” que oferece diversos títulos mediante uma assinatura mensal. Com um excelente valor (US$ 9,99 nos EUA, R$ 29 no Brasil), o serviço dá direito a uma ótima lista de jogos e é uma ótima opção, por exemplo, para quem acabou de comprar um Xbox One.

O hype

Cada vez mais a marca Xbox é focada em serviços - assim como o restante da Microsoft

Microsoft/Divulgação

Assolada pelos cancelamentos de grandes projetos, a Microsoft passou boa parte de 2017 focando em bombar a propaganda do Xbox One X, que foi o principal lançamento da marca no ano.

Muito embora Phil Spencer tenha tratado o assunto com sinceridade, a empresa preferiu não abordar muito a falta de exclusivos de peso em seu line-up para o ano. Uma das poucas vezes foi em sua conferência da E3 2017, quando a palavra “exclusivo” foi usada com bastante liberdade na hora de anúncios.

A Microsoft, de forma compreensível, tem focado em seus pontos fortes. Embora não consiga proporcionar experiências únicas como as de um Horizon Zero Dawn no PS4 ou a de um Zelda: Breath of the Wild no Switch, a combinação de serviços e funcionalidades existentes no Xbox One tem o tornado um aparelho cada vez mais interessante de uma série de pontos de vista para o consumidor.

O Xbox One X é só a ponta de um espectro que contempla várias faixas de preço (com o Xbox One original e o Xbox One S) e traz uma série de maneiras diferentes de comprar e jogar, seja por meio de uma assinatura mensal com o Game Pass, seja com jogos gratuitos na Xbox Live Ouro - ou no EA Access, que é exclusivo do XOne -, seja aproveitando jogos que você provavelmente tem no Xbox 360.

Há alguns anos, a Microsoft têm feito uma transição de ser uma empresa de hardware/software para ser uma empresa de serviços, focada especialmente na nuvem, e essa estratégia ficou bem nítida no Xbox One em 2017. Para a fabricante, o foco parece ser cada vez maior na quantidade de pessoas que utilizam estes serviços, de uma forma ou de outra - não à toa, ela têm usado esta métrica como medida de sucesso em vez do número de vendas do Xbox One, que já não é divulgado oficialmente há um bom tempo.

O Brasil

Dentro do mercado brasileiro, a Microsoft continuou realizando um bom trabalho, especialmente nas diferenças de tempo entre o lançamento e um aparelho no exterior e no mercado nacional.

Embora o Xbox One S tenha levado cerca de um ano para chegar ao Brasil - o aparelho desembarcou no mercado nacional em setembro, como descobrimos com exclusividade -, o One X chegou apenas um mês depois de seu lançamento no exterior. Para efeitos de comparação, o concorrente direto PS4 Pro ainda nem saiu oficialmente por aqui, mais de uma ano após ter saído lá fora. E o Switch sequer chegou, já que a Nintendo, como sabemos, não opera no Brasil desde 2015.

O veredito

2017 foi o ano em que o Xbox One X finalmente concluiu a transição de sua desastrada fase inicial para um novo momento, mais focado e mais próximo dos jogadores, com bons serviços e uma mensagem bem clara do que se pode esperar da marca e de seus consoles.

Os tropeços no line-up de exclusivos, com o cancelamento de projetos importantes, acabaram colocando a Microsoft em uma saia justa neste ano, já que os jogos que estão por vir obviamente ainda não estão prontos. Daí, construíram-se argumentos falaciosos, como o que o de Xbox não tem jogos.

Falta um título que faça pelo Xbox One o que Halo fez para o primeiro Xbox e Gears of War fez para o 360

O Xbox tem, sim, jogos, mas ainda falta no line-up um grande exclusivo de peso, um tipo de aventura que seja indissociável da marca - algo que as pessoas só poderão encontrar nos consoles da Microsoft. Falta um título que faça pelo Xbox One o que Halo fez para o primeiro Xbox e Gears of War fez para o 360 - curiosamente, nem Halo 5 nem Gears of War 4 conseguiram ocupar o posto para o XOne.

Clique aqui para conferir os conteúdos da retrospectiva do The Enemy