Review: Avowed tem um mundo mágico que exige decisões difíceis

Depois de uma aventura de mais de 70 horas em Kingdom Come: Deliverance 2, que é um RPG extremamente imersivo, tive a missão de conhecer as Terras Férteis em Avowed, uma ilha ao norte do mundo fantasioso de Eora, conhecido da franquia Pillars of Eternity, o novo RPG de ação da Obsidian Entertainment com a Xbox Game Studios.

Aqueles que já conhecem o trabalho do estúdio já sabem o que esperar. É um RPG mais contido, com uma carga horária um pouco menor e com uma história linear e bem mais coesa, visto que eles têm no currículo títulos como The Outer Worlds, Fallout: New Vegas, Grounded e muitos outros. Com Avowed, claro, não poderia ser diferente.

Como um bom RPG, não podia faltar em Avowed uma customização de respeito. O meu critério para definir se essa customização é boa ou não é o quão feio você consegue deixar o seu personagem. Em Avowed, dá para criar umas aberrações dignas sem fugir de toda estética do mundo e do seu próprio boneco, o que torna tudo mais feio, só que de uma maneira lindíssima.

Avowed, inclusive, pode ser jogado tanto em primeira como em terceira pessoa. Eu, particularmente, não gostei muito do jogo na segunda opção e fiz toda a minha jogatina de mais ou menos 45 horas toda em FPS.

Durante sua jornada por Avowed, você vai passar por quatro localizações diferentes e cada uma delas é bem única, apesar de terem sempre um elemento em comum: a natureza.

E quando falamos de jogos da Obsidian, não podemos deixar de falar sobre as missões paralelas. Eu esperava que Avowed fosse um pouco mais parrudo nesse quesito. O jogo possui muitas coisas para serem exploradas no mundo, muito mais do que missões. Isso atinge principalmente a sua progressão, que basicamente te obriga a cumprir todas as sides disponíveis para conseguir juntar dinheiro e ter os equipamentos no nível necessário para facilitar a continuidade das missões e não morrendo com um só golpe o tempo todo.

Com isso, também fica nítido quando Feargus Urquhart, CEO da Obisidian, não quis comparar Avowed com Skyrim, mas sim com The Outer Worlds - guarde essa informação, vou falar mais dela no final. Vemos claramente muitas coisas que foram usadas em The Outer Worlds durante o jogo, principalmente por ter um escopo menor e um mundo bem mais contido.

Contudo, é impossível não ter alguma comparação, principalmente por tratar-se de um mundo repleto de segredos e locais escondidos. Mas isso é o mais próximo que teremos de Skyrim, ao menos até a Bethesda lançar o próximo The Elder Scrolls em um futuro que ainda não conhecemos.

Como foi falado também pela diretora do game, Carrie Patel, há várias maneiras diferentes de iniciar e completar as quests, principalmente por essa exploração abrangente. Muitas vezes eu me via com algum item de missão no meu inventário mesmo sem ter aceitado nenhuma missão. Além disso, em quase todos os lugares que você vai explorar, seja um acampamento com monstros ou alguma dungeon, existem diferentes formas de entrar neles, e não só a entrada principal e óbvia.

Essa liberdade também me trouxe um problema em uma quest específica de caçar recompensas em que eu matei o monstro antes de aceitá-la, e isso acabou dando um bug onde o jogo não me deu o item necessário e eu fiquei com a missão incompleta.

Essa exploração no jogo não é isolada. Logo de início você vai conhecer seu primeiro companheiro, chamado Kai, e ao longo da jornada vai conhecer os outros três que vão te seguir até o fim do game. Porém, você só pode utilizar dois deles ao mesmo tempo, o que pra mim é uma escolha para facilitar o controle destes personagens. Ao apertar o LB do controle, você abre uma roda de habilidades na qual é possível ver as seis skills dos seus companions, três de cada um, as suas skills de Deidade e itens arremessáveis, entre outros. E imagino que colocar 12 habilidades e mais todas as outras coisas ficaria extremamente poluído e mais chato de controlar.

A forma com que você escolhe qual dos companheiros vai te seguir também é importante, visto que cada um deles possui uma habilidade única. Por exemplo, Kai pode botar fogo em coisas como poças de combustíveis no chão ou teias de aranha que bloqueiam o caminho, algo que seu personagem também pode fazer via skills ou itens. Isso vale para todos eles, cada um vai te ajudar em algo que você também vai ter outra solução.

Existem puzzles envolvendo eletricidade em que você pode escolher resolver de várias maneiras diferentes, seja usando seu companheiro que tem a habilidade de disparar uma descarga elétrica no alvo, utilizando alguma skill elétrica do seu boneco ou então atacar um consumível que dispara cargas elétricas. Independente da escolha, o resultado será o mesmo.

Esses companheiros possuem também suas próprias histórias paralelas, e durante o jogo você descobre mais sobre eles, às vezes fazendo algumas quests específicas ou então só conversando com eles em seu acampamento. Os companions vão te ajudar em todos momentos, mas serão cruciais nos combates - dependendo da build que você escolher, as skills destes personagens vão tankar dano como ninguém.

Outro ponto que talvez eu estivesse esperando demais é na variedade de inimigos. O jogo tem mais ou menos 10 tipos diferentes de antagonistas. Por exemplo: as caveiras podem ser, soldados, arqueiras, magos e afins. Mas isso não atrapalha em nada a experiência do game, é mais um sentimento pessoal mesmo.

A cereja do bolo em Avowed é o combate. O jogo possui uma variedade de tipos de armas razoáveis, mas há uma grande quantidade destes poucos tipos. Há ainda muitas combinações aleatórias, como por exemplo usar uma varinha mágica junto de um revólver.

Tantas possibilidades tornam a gameplay extremamente dinâmica e divertida. Eu a fiz inteira como mago usando um grimório e uma varinha mágica. A varinha, inclusive, é usada de maneira clássica, invocando tiros mágicos, enquanto o grimório possui quatro magias que mudam de livro a livro, o que possibilita o uso de combos totalmente diferentes. Isso faz a sensação de encontrar um grimório com um combo quebrado extremamente satisfatório.

Outro ponto que eu gostei bastante é o fato de você conseguir ter dois loadouts de armas diferentes equipados e conseguir trocá-los facilmente ao apertar um botão. No caso, eu usava de segundo equipamento uma Clava com um Escudo para usar em momentos específicos.

O jogo também traz três árvores de habilidades diferentes, uma focada em Magos, outra para armas de duas mãos e tank e outra mais voltada para combinações de armas de uma mão com escudo, o que torna fácil decidir qual classe você vai optar seguir, mas caso queira alterar a sua, você pode também pagar para resetar. Isso foi algo que eu acabei fazendo algumas vezes pra testar quais skills de mago eu tinha preferência.

O game também tem um sistema de upgrade e encantamento de equipamentos que também não me agradou muito porque você sempre vai estar com armas mais fracas do que você pode comprar se for utilizar o encantamento.

As armas de Avowed possuem cinco raridades diferentes e podem receber mais três upgrades por level, porém eu percebi que quase sempre você só consegue dar upgrade em um tier abaixo dos itens que estão na loja, deixando esse upgrade quase inútil no início do game. O que eu fiz foi guardar itens que eu achava bons e que seriam legais de ter no endgame pra dar esse upgrade depois. Mas para ficar no mesmo nível dos monstros eu sempre optava por vender quase tudo e comprar direto os itens mais fortes para não ficar morrendo o tempo todo.

Em Avowed, existe um sistema de criação de comidas e isso vai ser muito importante na sua jornada. Por onde você passa, é possível encontrar coisas diferentes e, quando está no seu acampamento, você pode ir até a panela e cozinhar diferentes tipos de comidas que vão dar regen de vida ou mana, além de alguns que te dão buffs temporários. Você também consegue “empilhar” essas melhorias, fazendo elas funcionarem juntas.

Outro ponto alto do game são os gráficos. A qualidade de tudo é muito absurda, e isso somado ao design de cenários coloridos, os detalhes das construções e ao visual dos monstros são insanos. Eu joguei Avowed no Xbox Series X no modo Qualidade a 30fps e tive uma experiência incrível.

Antes de finalizar, contudo, eu preciso voltar ao comparativo com Skyrim, que foi muito feito pelo público, enquanto os devs queriam fugir disso. Esse é provavelmente o motivo que me desanimou com Avowed de maneira surreal. Vou deixar avisado aqui que, caso você tenha fugido de qualquer informação desse jogo, fuja dessa também.

Cuidado! Spoilers leves do final de Avowed a seguir.

Você não pode continuar a exploração em Avowed depois de matar o boss final. Isso me deixou muito triste, principalmente porque, para fazer esses reviews, a gente acaba não aproveitando todo o conteúdo possível do mundo do jogo, e eu estava sonhando em voltar com meu personagem e explorar mais das Terras Férteis, mas pelo visto isso vai ficar pra uma possível continuação.

Mesmo assim, Avowed prova mais uma vez a qualidade do trabalho da Obsidian de contar boas histórias e, principalmente, fazer um jogo que te diverte e te faz querer continuar jogando, e por esse mesmo motivo o jogo também me decepcionou já que para se aventurar novamente nas Terras Férteis é preciso começar o jogo do zero. Durante as minhas 45 horas de gameplay, muitas delas eu me via sentado para jogar e do nada tinha passado cinco ou seis horas e eu estava só me divertindo.