Essa análise vai ser tratada como um jogo 100% novo, em que a única coisa que eu realmente conhecia da franquia é o Pyramid Head.
De primeira, preciso falar sobre os gráficos do jogo. Silent Hill 2 não tenta recriar um realismo absurdo, mas possui alguns deslizes como o próprio cabelo de James.
Mas isso não estraga todo o resto do trabalho da Bloober Team. Andar na floresta inicial, nas ruas da cidade ou nos estabelecimentos escuros é envolvente, os cenários são bonitos e muito bem trabalhados — além de possuírem muitos detalhes. A névoa, os cenários e principalmente a escuridão passam a sensação exata de medo que o jogo quer que você tenha.
Durante a exploração, seja ela nas ruas de Silent Hill ou em corredores apertados, você fica imerso nesse mundo. Você não sabe da onde pode surgir uma criatura grotesca. Elas podem sair de qualquer lugar: debaixo de uma mesa, de algum canto da sala. Todo lugar pode te oferecer perigo.
Essa sensação de medo constante é feita de maneira espetacular. O jogo te faz ser cauteloso, muitas vezes até em lugares que não tem perigo nenhum.
Muitas cenas são dignas de um clássico de terror. Me peguei várias e várias vezes tirando prints do jogo ou então das cutscenes, que são espetaculares. Tudo sempre muito bem trabalhado e combinando perfeitamente com a trilha e os efeitos sonoros.
Trilha sonora essa que é um show à parte. Cada música é tocada no momento exato e encaixa como uma luva em tudo que acontece na tela. E isso se estende para os efeitos sonoros: muitas vezes a presença deles ou então a própria falta deles te passam exatamente o que sentir naquele momento.
Isso é um dos pontos que fazem a atmosfera e a sensação de medo estarem presentes a todo momento. Mesmo em partes do mapa que você já explorou, você sempre fica com medo de algo estar à sua espreita.
Um ponto importante pra criação dessa atmosfera com certeza foi o DualSense. As vibrações e barulhos vindos dele com a aproximação dos monstros fizeram com que o terror ficasse mais próximo do jogador.
O combate de Silent Hill 2 não inova a roda, mas faz o que é preciso com simplicidade. Seja no combate corpo a corpo com uma ripa de madeira, um cano ou então com as armas de fogo.
Todas elas servem bem o seu propósito e funcionam melhor dependendo da sua situação. Mas, em grande parte do jogo, as armas corpo a corpo vão ser mais utilizadas, já que os recursos são escassos e você não quer desperdiçar nada.
Algumas ações durante o game são bem repetitivas, como quando aparecem alguns buracos sinistros e você tem a opção de colocar a mão dentro deles. De início, achei incrível, dava uma tensão de saber se teria algum bom ou ruim nisso… Mas no final, nada de terrível aconteceu. Acabei ficando um pouco decepcionado com esse fato.
Quando falamos de Silent Hill, não podemos deixar de falar sobre os puzzles. Todos eles tem uma aparência grotesca e macabra, que pra mim é perfeita, casa muito bem com toda atmosfera da cidade e dos lugares que você está.
Já as resoluções são bem variadas. Alguns deles são simples e tá tudo bem, nem tudo precisa ser impossível de fazer. Outros são bem complexos e trazem um ótimo desafio, minha crítica fica somente ao fato que todos esses puzzles, em algum momento deles, se resumem a ficar andando de um lado para o outro.
Outro ponto muito bem feito é a condução dos objetivos para o jogador. Tudo que você precisa fazer é muito bem dito, a ponto de que você não precisa ficar com o seu objetivo escrito na tela o tempo todo ou algo do tipo.
Muitas vezes nem dito é, mas com os itens que você vai recebendo fica simples identificar o seu próximo passo. E tudo isso é muito natural, o que facilita a experiência e faz com que ficar perdido seja quase impossível.
Silent Hill também possui algumas lutas com chefões: elas são pequenas partes da jogabilidade mas são um grande agregado à história. Infelizmente, elas não são tão desafiadoras em questão de dificuldade, mas visualmente todas são incríveis.
O clima, a ambientação, as músicas. Tudo torna a experiência das batalhas algo surreal.
Estamos chegando na reta final deste review e eu vou falar agora da verdadeira arte por trás de Silent Hill: o seu roteiro e a sua história.
De início, você não entende muito bem o que tá acontecendo, quem são as pessoas que você encontra e nem o motivo de tudo isso. Mas cada lugar que você entra, cada pôster nas paredes, cada nota encontrada nas mesas vão te contando um pouco sobre aquilo.
De maneiras tristes e pesadas, tudo te apresenta ao sofrimento que foi vivido naqueles lugares, com aquelas pessoas.
Até mesmo as coisas subentendidas, como o porquê daqueles monstros serem daquela maneira, de por que você precisa visitar especificamente cada local daqueles e do até então sofrimento de James.
Durante grande parte do jogo, você ouve sobre a carta de Mary e sobre uma fita. Mas no momento que você senta naquela poltrona na frente da TV em Lake View Hotel e vendo por que você voltou a essa cidade… simplesmente cinema.
Todo o desenrolar é compreendido e as cenas finais são impactantes.
Inicialmente, existem três finais disponíveis e, infelizmente, fiz um dos finais que, pra mim, é um dos piores — e fica a seu critério tentar descobrir qual foi. Depois, com o New Game Plus, você libera mais cinco finais diferentes, sendo dois deles extremamente tocantes e pesados. Os outros são os que já existiam no jogo original, que trazem um toque de misticismo e comédia para essa história tão brutal.
Além dos outros finais, o New Game Plus adiciona algumas outras coisas, como uma nova arma corpo a corpo e novos documentos pelos locais que agregam aos detalhes da história de Silent Hill.
Eu finalmente entendi o porquê de Silent Hill 2 ser tão aclamado e considerado por muitos um dos melhores jogos, não só de terror, de todos os tempos.
A história, a trilha sonora, a jogabilidade. Tudo em Silent Hill se encaixa de maneira inexplicável. Das ruas nebulosas para os apartamentos sangrentos de Lake View. Chega a ser difícil explicar o real motivo desse jogo ser o fenômeno que é, de ter o impacto que teve na época de seu lançamento original.