Nada me preparou psicologicamente para descobrir o quanto Metal Gear Solid Delta: Snake Eater é, para quase todos os propósitos, o mesmo jogo que eu joguei 20 anos atrás no PlayStation 2.

Especialmente porque isso pode ser bom ou ruim, dependendo do rumo em que a conversa sobre o remake seguir.

À convite da Konamique também nos deu a chance de jogar três horas do remake de Silent Hill 2The Enemy teve a oportunidade de testar a nova versão de não só outro grande clássico da empresa, como outro candidato a um dos melhores jogos de todos os tempos.

E, pessoalmente, não só um dos meus games favoritos, como um que está marcado a ferro e fogo na minha memória desde a primeira vez que o joguei em 2004 – o que ficou mais do que claro durante o teste.

Metal Gear Solid Delta: Snake Eater
Konami/Divulgação

Para quem precisa de um contexto maior, Metal Gear Solid 3: Snake Eater é uma prequel da série de espionagem que se passa na década de 1960 e mostra as origens de Big Boss, uma das figuras mais importantes da franquia, sendo seu primeiro antagonista e pai/progenitor do protagonista original, Solid Snake.

A build testada era composta pela missão inicial do jogo, conhecida como Virtuous Mission (ou Missão Virtuosa), em que o protagonista Jack/Naked Snake deve se infiltrar em uma região selvagem da União Soviética para resgatar o cientista/designer de armas a contragosto Sokolov.

Em retrospecto, talvez eu não devesse ficar tão surpreso por MGS Delta não querer fugir das linhas traçadas pela antiga Kojima Productions décadas atrás, especialmente após o anúncio de que o remake manteria a mesma estrutura narrativa do original, incluindo a reutilização das mesmas falas gravadas para o jogo de 2004.

Mas mesmo assim, sinto que há uma diferença entre "não fugir das linhas" e "literalmente fazer o mesmo desenho, mas com detalhamento e sombreamento mais bonito".

E a Konami parece, no geral, ter escolhido o segundo caminho.

Metal Gear Solid Delta: Snake Eater
Konami/Divulgação

Para ser justo, há duas diferenças fundamentais em Metal Gear Solid Delta, que são as que aparecem no título deste artigo.

A primeira, logicamente, é que ele é impressionante de bonito. Metal Gear Solid 3 não é um jogo que envelheceu particularmente mal para um jogo de PS2, mas o salto técnico visto na build (testada em um PS5) é de outro mundo.

Os modelos de personagens, os animais, as armas, ambientes, sistemas de iluminação... tudo está em um nível de qualidade impressionante, não só pela fidelidade, mas pelo jeito em que esses elementos conversam uns com os outros.

É possível, por exemplo, fazer Snake rolar no poço de lama logo após a área inicial, e a sujeira continua presente no seu rosto e nas roupas durante as áreas seguintes.

Metal Gear Solid Delta: Snake Eater
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Além disso, em algum momento o rosto dele bateu em alguma coisa, pois ficou com um corte durante boa parte da demo, e tenho (quase) certeza de que isso não aconteceu com mais ninguém, ou pelo menos não desta forma.

Além do visual, a segunda alteração vem na movimentação: MGS 3 é um dos grandes pais do jogo de ação em terceira pessoa moderno – especialmente com o sistema de câmera de Subsistence –, mas seu esquema de controle é profundamente arcaico comparado às mudanças e avanços feitas nas décadas seguintes.

Por isso, agora o jogo conta com um novo esquema de controles que faz Naked Snake se mover mais como Punished "Venom" Snake de MGS V: The Phantom Pain.

Por exemplo, agora é possível andar agachado e rolar para ficar de costas enquanto se infiltra pela floresta – o que talvez não pareça grande coisa para um jogador moderno, mas é o tipo de coisa que muda completamente sua estratégia, especialmente rejogando o original depois de testar o remake.

O sistema de camuflagem se mantém essencialmente o mesmo, com Snake precisando mudar sua roupa e pintura facial via menu, mas agora você não precisa necessariamente o menu de pausa: ao usar o direcional para cima, há uma espécie de "pré-seleção" que te mostra outra opções de combinação que podem ser melhores ou piores para o ambiente em que você está, e que são trocadas automaticamente se selecionadas.

Metal Gear Solid Delta: Snake Eater
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Há algo parecido com as frequências de rádios dos seus contatos, em que você pode acessar mais rapidamente os números de figuras como Major Zero e Para-Medic.

Metal Gear Solid Delta: Snake Eater
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Também vale notar que uma adição menor são os GA-KOs, patinhos de borracha que, assim como os sapinhos Kerotan, estão escondidos pelo ambiente.

Metal Gear Solid Delta: Snake Eater
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Mas tirando isso, Metal Gear Solid Delta É o mesmo jogo que Metal Gear Solid 3: ele conta com a mesma estrutura de mapas, a mesma disposição de inimigos, o mesmo sistema de sobrevivência... tudo essencialmente inalterado.

Conversando com o produtor Noriaki Okamura, ele deu a entender que MGS Delta começou como mais como uma atualização gráfica do jogo, mas que logo perceberam que seria necessário também refinar os elementos de movimentação e combate para as plataformas modernas.

O problema é que, ao menos do que eu joguei, eles parecem ter parado neste ponto, ao invés de olhar para o escopo maior.

Mesmo levando em conta o uso dos mesmos áudios de 2004, o que limita qualquer mudança ou reestruturação narrativa maior (um vespeiro por si só, sem dúvidas), ainda há coisas que poderiam ser feitas para modernizar a experiência de jogo.

A mais notável, a meu ver, é o design de mapa: ao invés de usar o hardware de PCs e dos consoles modernos para adaptar e transformar a região de Tselinoyarsk, ela tem exatamente a mesma estrutura que tinha no PS2, incluindo o fato de elas serem separadas entre áreas diferentes.

Tendo jogado a Virtuous Mission mais vezes do que consigo contar, eu tenho na minha memória a posição dos elementos cenográficos, assim como a disposição e rotas dos soldados ao redor da floresta e do casarão abandonado onde Sokolov fica preso.

E a build do remake correspondeu exatamente à minha memória, o que não acho que seja algo necessariamente bom. Eu nem posso opinar sobre a inteligência artificial dos inimigos, já que o fato de eu saber onde eles estavam, mais os controles modernos, fizeram o processo de evitá-los ou nocauteá-los extremamente simples.

Metal Gear Solid Delta: Snake Eater
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Aliás, isso até leva a outra consideração, já que com os controles modernizados, há o risco de o jogo acabar ficando fácil demais caso a inteligência artificial e sistemas de inimigos não forem adaptados e modernizados.

Não acho que possa chegar no nível de Twin Snakes, que às vezes nulificava o desafio de certas partes do jogo (as lutas contra Ocelot e o tanque vem à cabeça), mas o design de mapas e inimigos de MGS 3 foi pensado no contexto e nas mecânicas de 2004, e não equilibrá-los com o que for atualizado para o remake pode deixar a experiência menos recompensadora.

Ao fim da demo, tinha sentimentos complexos. Por um lado, jogar Metal Gear Solid 3 com controles modernos e gráficos de última geração foi genuinamente maravilhoso, e meu lado fanboy quer ver como vai ser jogar momentos icônicos como o duelo contra The End e a luta final contra The Boss com estes avanços.

Metal Gear Solid Delta: Snake Eater
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Não só isso, ver cutscenes e interações de rádio traduzidas em português do Brasil é de aquecer o coração do fã semi-abandonado.

Por outro lado, não posso deixar de pensar que a Konami poderia ter ido mais longe com o projeto. Mesmo que não quisesse tocar nos elementos narrativos – seja por respeito ao material, medo de mexer com o trabalho de Hideo Kojima, ou qualquer que seja o motivo –, tanto ela quanto o estúdio chinês Virtuos (um nome apropriado para ter neste projeto) poderiam fazer mais para modernizar os conceitos de MGS 3 para além de só gráficos e movimentação.

É claro que só vi uma pequena parte do todo, e pelo estado da build o jogo deve demorar um bom tempo para ser lançado, mas não tenho expectativas de que a estrutura de mapas do jogo, ou até outras ideias como o uso do sistema de adaptação de equipamentos de inimigos que Phantom Pain trazia, vão aparecer no remake.

Metal Gear Solid Delta: Snake Eater ainda não tem data de lançamento, e será lançado no PC, PS5 e Xbox Series.