A série Gran Turismo completa 25 anos de existência em 2022 e, durante esse período, vimos a franquia influenciar o gênero dos jogos de corrida e apresentar a cultura “gearhead”, dos amantes de carros. Gran Turismo 7, que chega no dia 4 de março para PlayStation 5, pretende dar um passo além.

Kazunori Yamauchi, criador e diretor de Gran Turismo, diz que "Originalmente, nós criamos Gran Turismo de uma imensurável fonte de inspiração que recebemos da rica cultura dos automóveis que sempre esteve presente há 25 anos. Mas hoje, você não vai encontrar tantas pessoas falando sobre a cultura dos carros”.

Carros diferentes juntos.

“Menos pessoas estão falando sobre a beleza dos carros ou na diversão de dirigir. Gran Turismo 7 foi produzido com o entendimento dos dias atuais e dessa era em que vivemos”, completa.

Esse foi o discurso de abertura de um evento online no qual o The Enemy teve a oportunidade de participar poucos dias antes da apresentação do State of Play do dia 2 de fevereiro. E, sendo uma das pessoas que acompanhou toda a evolução da série ao longo desses 25 anos, entendo o que ele quer dizer.

Montanha.

Antigamente, na época em que Gran Turismo chegou ao PlayStation original, existia uma certa mística envolvendo a indústria automobilística. Revistas sobre carros apinhavam as bancas de jornal, programas de televisão eram mais presentes, a Fórmula 1 era um dos principais temas do mundo esportivo. A impressão que tínhamos era de que a cultura “gearhead” fazia parte do mainstream e não era apenas um nicho do mercado de consumo.

Gran Turismo 7 quer resgatar essa percepção e, de quebra, ser o melhor jogo da marca. Desde sua estreia a série já vendeu mais de 80 milhões de cópias ao redor do mundo e é uma das maiores (se não a maior) franquia da família PlayStation. Então, fica claro que Yamauchi reconhece que, sob certos aspectos, a série precisa passar por um rejuvenescimento.

Visão em primeira pessoa.

Seu objetivo é traduzir a cultura dos amantes de carros para qualquer pessoa poder apreciá-la, independentemente se o jogador for um fã do automobilismo ou não. “Este é o gadget mais fantástico criado pela humanidade no século 20”, afirma o diretor.

De olho no retrovisor

Carro branco.

A primeira novidade de Gran Turismo 7 que foi mostrada à imprensa foi o menu do jogo. É até estranho falar sobre menus de um jogo nos dias atuais, porém, tendo em vista que grande parte da experiência de Gran Turismo está justamente na quantidade de atividades que podem ser feitas, falar sobre navegação é essencial, afinal é parte integrante da experiência dos jogadores.

Seu desenho é inspirado em Gran Turismo 4, porém muito menos apinhada de ícones e tentando passar o sentimento de ser um canto do mundo onde tudo o que você precisa saber sobre o mundo do automobilismo está ao alcance de poucos cliques.

Mapa do mundo.

Apesar do visual ser bastante semelhante com a interface de um celular, toda a iconografia é intuitiva. Da loja de automóveis usados, aos testes de habilitação, o museu e a bandeira de chegada, que representa as corridas. Porém, mantém as adições de Gran Turismo Sport que foram muito bem-vindas, como a informação de qual carro você está “equipado”, a quilometragem que dirigiu e os créditos que tem em sua conta.

“Acredito que GT7 é o tipo de jogo no qual você vai constantemente descobrir novas formas de jogar, mesmo depois de um ano”, afirma o diretor.

Customização de carros.

Nesse menu você vai notar que são três formas de comprar carros como a central de marcas, o retorno dos usados e um vendedor de carros lendários.

A central de marcas é onde você encontrará carros “novos”, fabricados desde 2001 aos tempos de hoje. GT7 também vai trazer o retorno dos carros usados com faixas de preços menos que os lançamentos e que será atualizada de tempos em tempos. Já a seleção de carros lendários é onde você vai encontrar tanto modelos históricos, quanto os bólidos que marcaram gerações.

Gameplay em primeira pessoa.

No total, Gran Turismo 7 vai trazer mais de 400 carros no dia do lançamento, porém o diretor deixou claro que mais e mais modelos serão adicionados no futuro. A lista não foi compartilhada, porém durante a apresentação vimos desde Nissan RTX Skyline (que ficou famoso no ocidente justamente por conta da série), Porsche 911 ao Fusca.

Gran Turismo sempre foi uma série com números portentosos e claro, isso também é refletido na quantidade de pistas que o jogo vai trazer. Segundo Yamauchi são 34 localidades e mais de 90 traçados diferentes.

Carros usados.

Os fãs das antigas podem comemorar, pois vamos ver o retorno de High Speed Ring e Trial Mountain, dois circuitos que estrearam no PlayStation 1 e que estavam desaparecidos nas últimas versões da série.

Durante a apresentação busquei outra pista que nós, brasileiros, amamos: o circuito de Interlagos. Há um sinal de esperança, afinal, no menu é indicado que nas Américas têm 10 localidades, enquanto Europa tem 15 e Ásia-Oceania são 9. Entretanto, mesmo olhando frame a frame não encontrei nenhum sinal do traçado brasileiro e nem tive minha pergunta escolhida para ser respondida. Então, se Interlagos estiver no jogo, é algo que só vamos saber no futuro.

Carro vermelho.

No total serão mais de 100 eventos de corrida, além de poder desfrutar uma “Experiência de Circuito”, na qual os jogadores poderão usar para conhecer os traçados, time trials, provas de drift, corridas personalizadas e um “local de encontro”.

Outra coisa que marca seu retorno são as provas de licença. Esse é geralmente o ponto de partida para quem nunca teve experiência com Gran Turismo ou até mesmo para os fãs de longa data. Yamauchi não deu detalhes, mas pude ver que a clássica prova de arrancada está presente, assim como a grande curva aberta de High Speed Ring e também a zona de frenagem de Trial Mountain.

Circuitos mundiais.

Os entusiastas dos ajustes finos vão perceber que toda a parte de calibragem de peças foi reformulada. E, mesmo que pareça algo bastante complexo, Yamauchi prometeu que os novos usuários vão poder aprender um pouco mais sobre o que cada peça de desempenho faz com seu carro e, mesmo quem não entende nada de mecânica, vai poder fazer troca de peças para ganhar mais desempenho.

Para ilustrar isso, foi exibido um menu no qual o jogador pode acompanhar rapidamente coisas como ganho de pontos de performance, redução de peso e se o carro vai ficar mais rápido ou não.

Na reta para o futuro

Missão de Gran Turismo.

Agora, nem só de passado Gran Turismo 7 poderia se sustentar e, assim como nos títulos mais recentes, o novo título da Polyphony vai trazer dois modos de gráficos para os jogadores, um destinado ao Frame Rate e outro para o Ray Tracing.

Segundo o diretor, o Frame Rate, como o nome sugere, vai fazer com que o jogo rode na maior quantidade de quadros por segundo, seja durante as corridas ou durante um replay. Yamauchi diz que o padrão são 60fps.

Já o modo Ray Tracing, que possibilita visuais mais elaborados, não estará presente nas corridas. “Ray Tracing é um processo muito complexo, mas esse modo vai aplicar Ray Tracing para os modos onde não são exigidos uma resposta rápida dos jogadores, como nos replays, estágios 3D ou na renderização para o Photo Mode”, explica o diretor.

Na apresentação, Yamauchi mostrou algumas cenas que mostraram o Ray Tracing em ação, como em lojas ou cenas de replay. Neste modo vemos claramente o traçado de raios fazendo muito bem para o visual dos carros, principalmente em seus interiores. Porém, é um tanto decepcionante saber que não vamos poder aproveitar essa tecnologia durante as corridas, que ficaram muito mais bonitas, principalmente na chuva.

Sobre o multiplayer, o diretor confirmou que vai continuar o trabalho que tem feito em Gran Turismo Sport e apenas isso. Porém vale um contexto: foi em Gran Turismo Sport que o brasileiro Igor Fraga se tornou campeão mundial e, para quem não acompanhou a evolução dessa categoria, atualmente GT Sport até parece outro jogo se comparado com o seu lançamento original.

Naquela época o modo online teve alguns problemas, principalmente com conexão e até mesmo as mais leves alterações de rede atrapalhavam a experiência do jogador. Hoje, em 2022, o game é referência na categoria. Se isso vai ser um ponto relevante, aí é algo que temos que esperar para ver com nossos próprios olhos.

Ainda falando de um componente online, porém sem estar ligado diretamente ao gameplay, Yamauchi revelou que toda a parte de personalização dos carros, pilotos além de outras features, como fotos e replays, estarão reunidos em uma seção chamada Showcase. É lá que vamos poder customizar e compartilhar as pinturas dos carros, as fotos e os momentos mais emocionantes das corridas.

Sob um céu estrelado

Carro visto por dentro.

Desde que Gran Turismo 3 chegou ao PlayStation 3, os fãs vinham pedindo que fossem implementados recursos de danos nos carros, alterações climáticas e passagem de tempo. Esses recursos foram sendo implementados pouco a pouco e, por mais que alguns fãs se deem por satisfeitos, a grande maioria do público ainda critica a série pela demora.

Pelo visto, Yamauchi andou lendo os comentários na internet e trouxe muitas novidades nestes campos. O principal foi demonstrado no State of Play, no qual o diretor fala principalmente sobre a forma como o céu de cada região vai corresponder ao mundo real.

“A cor do céu e a forma das nuvens que você vê todos os dias é determinada pela energia do sol e da Terra, além das condições atmosféricas. Se você olha numa escala global, a umidade do ar que vem dos oceanos viajam para os continentes. Esse ar é aquecido pela superfície, que por sua vez é aquecida pelo sol e que forma uma corrente de ar ascendente. Isso cria nuvens que você vê no céu. Em GT7 nós simulamos os processos de como essas nuvens são formadas baseado em vastos dados meteorológicos, temperatura, umidade e pressão atmosférica são únicas em cada região”, explica o diretor.

O mesmo acontece com o céu que vemos todas as noites em cada canto do mundo. Segundo Yamauchi, o céu estrelado, o nascer do sol, as estrelas e até mesmo os planetas vão aparecer nos céus do jogo com base na simulação que a Polyphony desenvolveu.

A “simulação do céu” vem em conjunto da experiência climática e como ela afeta as corridas diretamente. Com a chuva, muda a forma na qual os jogadores encontram o estado da pista e o próprio traçado vai reagir conforme os carros forem passando.

Até mesmo em pistas como Nürburgring, que tem quase 10 Km de extensão, os jogadores poderão encontrar diversos “climas” diferentes. E como reagir a isso vai se tornar um grande desafio para os jogadores.

Ronco do motor e músicas

Seleção de músicas.

Talvez o que os jogadores mais querem saber é sobre como Gran Turismo 7 vai se aproveitar dos recursos do controle háptico do PlayStation 5. Afinal, são poucos os jogos que podem transmitir no próprio controle o que acontece no carro. E Yamauchi promete coisas bastante ambiciosas.

Um dos exemplos que ele foi foi que o jogador vai sentir em suas mãos coisas como o tipo de superfície que o carro está, como asfalto, terra, neve, brita e zebra. Outra promessa é uma vibração que vai acontecer na hora da mudança de marcha e que pode ajudar a identificar se você está forçando muito o motor.

Nos gatilhos será possível sentir se você está freando com muita força e se os pneus travaram. A aceleração também vai dar um feedback para o jogador sobre a tração das rodas e diversos outros fatores.

Infelizmente a caixa de som do controle não será utilizada. Yamauchi não explicou o porquê disso com clareza, porém, acredito que muito disso se deve pelo fato de Gran Turismo 7 ter focado bastante de seus esforços na experiência do áudio 3D.

Foi exibida uma demonstração visual, que infelizmente não podemos exibir, sobre como o áudio 3D funciona. De uma forma bem reduzida, cada roda, barulho de motor, mudança de engrenagem na marcha e outros aspectos poderão ser sentidos pelo jogador através de fones de ouvido compatíveis com o áudio 3D do PlayStation 5 (ou seja, o próprio fone da Sony).

A demonstração ainda mostrou que isso não se resume ao seu próprio carro, mas de todos os veículos da pista e até sobre a forma na qual o som reflete nas superfícies e retornam para os ouvidos do jogador. Porém é mais uma promessa que só vamos poder nos certificar como de fato isso vai influenciar no jogo quando estivermos com o jogo na mão. No papel (ou no vídeo) tudo é maravilhoso.

A apresentação acabou falando sobre a influência das músicas em Gran Turismo 7. Segundo Yamauchi, GT7 vai ter mais de 300 músicas de 75 artistas e essas músicas vão fazer parte integrante da experiência de replays onde as câmeras serão trocadas de forma a acompanhar o ritmo da música.

Pode parecer uma bobagem, porém, precisamos lembrar que esse recurso está presente desde o debute da franquia e é algo muito elogiado por seus fãs.

Porém, se todas essas novidades vão realmente trazer novos fãs para a cultura “gearhead” é um ponto que precisamos esperar para ver. Gran Turismo 7 tem potencial para trazer esse público para amar o “gadget” que Yamauchi tanto gosta e quer compartilhar seu amor.