A Electronic Arts nunca teve receio em dizer aos quatro ventos que é extrema entusiasta do uso de Inteligência Artificial em seus jogos. Desde que a tecnologia começou a ganhar tração, a empresa elogiou as formas em que ela podia ajudar no desenvolvimento de seus games, e até melhorar a monetização deles. Após o teste de EA Sports FC 25, a convite da própria EA, fica fácil ver que eles pretendem cumprir com a palavra.

Há, no mínimo, duas grandes mudanças para a edição deste ano do game que escancaram o uso de IA: o FC IQ, que reimagina totalmente o modo em que as táticas são aplicadas dentro de campo, e o sistema chamado de Cranium, que dá rostos muito mais precisos a jogadores que não foram escaneados pelo time de desenvolvimento, evitando faces genéricas.

O caso do Cranium é bem óbvio para quem viveu o surto de fotos geradas por IA que tomou conta do Instagram há alguns meses. Usando algumas fotos como base, o computador consegue gerar uma réplica bastante fiel dos jogadores.

Há algumas nuances a mais no FC IQ, tecnologia que deve reger o aspecto tático do game nos próximos anos. Idealizado pelo brasileiro Thomas Caleffi, o IQ atribui funções e familiaridades a milhares de jogadores no game. É óbvio para todos que nomes como Harry Kane vão ter mais ligação com as características tradicionais de um camisa 9, mas escalar isso para os incontáveis atletas disponíveis no jogo é quase impossível — e é aí que entra a IA.

O Futuro

Sem surpreender ninguém, a EA deve só olhar para frente no que diz quesito ao uso dessa tecnologia. Conforme novas possibilidades forem surgindo com o avanço da IA, a equipe do EA FC deve beber mais e mais dessa fonte, nas palavras do veteraníssimo produtor Sam Rivera.

Um dos motivos que continuamos falando sobre IA é porque nós queremos continuar melhorando nosso uso dela, porque basicamente é o futuro, nós sabemos disso. Não é fácil colocar todas as features no jogo usando IA, temos um time de avanço que pesquisa tecnologias e recursos difíceis de se implementar em um ano, e continuamos a investir alto nisso. Você definitivamente vai nos ver mantendo um grande investimento nisso”, explica Rivera.

Imagem de divulgação de EA Sports FC
Divulgação/EA

Thomas é um pouco mais cauteloso, mas reconhece que é impossível ignorar a tecnologia.

Temos que saber usar. O jeito que estamos usando no IQ é pra ler todos os dados, que não tem como humanos fazer. Como é que tu vai descobrir a role de 19 mil jogadores? É impossível. Como é que tu vai olhar 90 partidas de 19 mil jogadores? É impossível”, afirma o brasileiro.

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A gente criou essa IA, mas aí que tá o detalhe, a gente descobriu o que é um Attacking Playmaker, o que é um Striker, a gente determinou todos os stats que eles precisam. Passes laterais, passes progressivos, chutes a gol, a gente pegou tudo isso e falou pra IA: 'Isso é um Playmaker, agora vai nos jogadores e descobre quais deles são Playmakers'. Meio que fizemos tudo, estruturamos, e a IA faz a escala. O truque é saber usar, não é só botar”, complementa.

O desenvolvedor menciona que a lógica é a mesma para o Mimic, sistema que dá mais realismo à movimentação dos jogadores. Antes, a equipe da EA conseguia replicar 7 estilos de corrida anualmente; com o uso da nova tecnologia, eles atingiram 1800 jogadores para o FC 25.

Thomas brinca que a equipe testou usar a IA sem as instruções dos humanos, e ela falhou totalmente, colocando todos os jogadores em um mesmo grupo: “Ah, eles chutam uma bola, é tudo a mesma coisa”.

Vai ser o futuro, mas tem que ter o toque humano”, finaliza.