Chris Barrett, que até o final de março liderava o reboot de Marathon na Bungie, foi demitido da empresa – ao contrário do que relatos da época diziam ao afirmar que ele quem havia deixado o estúdio da Sony.
O motivo: uma investigação interna – cujos detalhes só vieram à luz agora – descobriu pelo menos oito situações de “conduta inapropriada” por parte do ex-diretor, com acusações movidas contra ele por diversas funcionárias e ex-funcionárias mulheres dentro da Bungie.
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Os detalhes levantados pela Bloomberg apontam que Barrett usava da influência de seu cargo para forçar funcionárias a participarem de situações potencialmente misóginas, como brincadeiras de “Verdade ou Desafio” onde as punições teriam conotações sexualizadas.
Quando encontrava alguma oposição, o ex-diretor “lembrava” a todos de seu cargo, sugerido até que seu poder dentro da empresa lhe permitiria “avançar suas carreiras” caso elas colaborassem com seus avanços.
Mais além, pessoas que participaram da investigação confirmaram que Barrett comumente fazia comentários sexistas sobre os corpos de funcionárias de cargos abaixo do dele. E várias das mulheres entrevistadas corroboraram o método favorito do gestor: ele se aproximava de funcionárias no intuito de construir uma amizade, apenas para “afogá-las em mensagens de texto que confundiam os limites entre o pessoal e o profissional”.
Ele, inclusive, fazia isso com vários departamentos – não necessariamente pessoas sob sua liderança direta. Algumas dessas mensagens de texto foram vistas pela própria Bloomberg, que confirmou o tom de flerte por parte do então diretor. No ato de sua saída, a Bungie disse apenas que ele estava tirando um período sabático, mas o real motivo não foi informado a nenhum dos funcionários da companhia.
Ex-diretor de Marathon pede desculpas “a quem se sentiu desconfortável”
Chris Barrett ingressou à Bungie em 1999, como um dos artistas digitais por trás da série Halo. Rapidamente, ele assumiu a posição de produção e direção da marca e, posteriormente, também liderou o desenvolvimento de Destiny, outra franquia de sucesso do estúdio. A compra da empresa pela Sony, em 2022, solidificou a sua posição executiva, efetivamente levando-o à liderança do reboot de Marathon.
Questionado pela Bloomberg, Barrett respondeu ao caso via e-mail, dizendo que ele nunca percebeu que suas comunicações tivessem sido invasivas e pedindo desculpas a quem tenha se sentido desconfortável com essas interações. Veja o comunicado do ex-diretor na íntegra:
“Ao longo dos meus 25 anos com a Bungie, eu sinto que sempre me comportei com integridade e fui respeitoso e apoiador aos meus colegas, muitos dos quais eu considero meus amigos mais próximos. Eu nunca enxerguei minhas comunicações como algo invasivo e nunca pensaria que elas poderiam deixar alguém desconfortável. Se alguém alguma vez se sentiu desta forma em relação às suas interações comigo, eu verdadeiramente peço desculpas.”
Também à agência, a Sony – dona da Bungie – disse que investiga cuidadosamente toda e qualquer acusação de assédio no ambiente de trabalho, seja internamente ou em qualquer uma de suas subsidiárias. A fabricante do PlayStation 5 não mencionou especificamente o caso de Barrett.
Não é a primeira vez que a indústria de jogos é estremecida com o impacto de acusações de assédio – sexual ou de outra natureza – no ambiente de trabalho: como a própria Bloomberg apontou, empresas como Ubisoft, Riot Games e Activision Blizzard King tiveram sua parcela de acusações comprovadas, com alguns casos sendo levados à justiça de seus respectivos países, e condenações milionárias na forma de multas. Em outros casos – como o da Riot – os acusados foram inocentados.
A própria Bungie já passou por isso antes: em 2021, uma reportagem do IGN revelou como o departamento de recursos humanos (RH) da empresa evitava a tomada de ações quando recebiam acusações de má conduta por parte de seus gestores.