Os primeiros minutos de The Callisto Protocol (PS5, XS, PS4, PC) podem deixar qualquer jogador chocado. Quando você vê os modelos de personagem, as expectativas sobem consideravelmente. Em termos de gráficos, estamos falando de um marco histórico. No que diz respeito à jogabilidade, entretanto, não.

Protagonista vê a luz.

Desenvolvido pelo Striking Distance Studios e distribuído pela Krafton, The Callisto Protocol foi anunciado de maneira que jogadores do mundo inteiro se convenceram de que se tratava do sucessor espiritual de Dead Space. De fato, a intenção é perceptível. Contudo, as oportunidades perdidas limitam bastante o potencial da experiência. Nos sentimos constantemente impactados pela atmosfera opressiva, sim, mas somos levados à frustração com frequência.

Em primeiro lugar, durante o período em que o The Enemy pôde jogar com antecedência, alguns problemas nos arquivos de salvamento chamaram atenção. No caso, ao tentar salvar o jogo manualmente, acabei percebendo que meu arquivo foi totalmente ignorado e substituído pelo último checkpoint. Isso aconteceu duas vezes, inclusive. Se a ideia era impedir que a vida do jogador fosse facilitada demais pelo salvamento vir após a eliminação de alguns inimigos ou algo do tipo, era melhor simplesmente não permitir salvar o jogo manualmente.

Protagonista vê a lua.

Além disso, evidentemente, há os pequenos problemas de performance e qualidade de vida que, quando somados, acabam pesando bastante na experiência. Animações lentas demais, demora para recomeçar após morrer e assim por diante. São questões que podem até já ter sido em parte resolvidas via atualização (foram muitas desde que comecei a jogar), mas ainda fizeram parte da experiência de jogo. Faltou polir com mais cuidado antes da disponibilização para imprensa, influenciadores e até mesmo público.

Tal falta de lustração técnica veio acompanhada por algo mais grave: uma história extremamente sem graça. Enquanto escrevo este parágrafo, percebo que nem mesmo me recordo dos nomes dos personagens e assim vou manter o texto, já que ilustra quão pouco memoráveis eles são. Apenas saiba que o protagonista, Jacob Lee, é um piloto sequestrado que precisa fugir de uma prisão controlada por pessoas aparentemente sádicas. Espere por algumas reviravoltas importantes, mas não por papéis icônicos de nomes conhecidos como Karen Fukuhara (The Boys) e Josh Duhamel (Transformers).

Cura em Callisto Protocol.

Mais do que em qualquer outro aspecto, The Callisto Protocol brilha mesmo é na ambientação. O jogo utiliza a silhueta dos inimigos com maestria, brincando constantemente com luz e sombra de forma digna dos melhores jogos de terror. Além disso, os corpos de monstros e pessoas espalhados pelos cenários enfeitam brilhantemente espaços devastados por violência e desespero. Isso desperta, positivamente, ansiedade no jogador e ajuda a nos fazer sentir na pele do protagonista.

Como já virou tradição há muito tempo nos jogos de terror, os efeitos sonoros também contribuem de maneira precisa para situar jogadores sobre o que está acontecendo e onde está. Não há muito o que destacar em termos de músicas ou trilha sonora, mas os pequenos efeitos de monstros se movendo, por exemplo, contribuem para nos deixar atentos a tudo o que se passa ao redor. Há sempre a construção de expectativa de quando alguma criatura vai pular e atacar.

NPC caído no jogo.

Quando esse ataque finalmente ocorre, entretanto, entra em jogo o ponto que mais me deixou dividido em relação a The Callisto Protocol: o combate.

Fundamentado, principalmente, em ataques corpo a corpo mesclados com tiros (em um sistema de combos bem simples de entender), o combate é parte importante em The Callisto Protocol. Trata-se de algo que não existe apenas como "último recurso", mas, sim, como mecânica "quase obrigatória" de jogo. Correr das criaturas que cruzam o caminho do personagem principal é bem mais difícil do que parece — a partir do momento em que os monstros percebem a presença de alguém, é melhor sair na porrada mesmo.

Protagonista em frente à parede.

Por um lado, a ideia de focar no combate físico me pareceu uma mudança de paradigma interessante, no início. Poucos jogos de terror seguem com essa abordagem em vez de focarem nos tiros ou na impossibilidade de defesa. Contudo, o sistema de esquivas torna as lutas contra mais de um inimigo bem mais irritantes do que deveriam ser. A câmera também não ajuda, já que fica bem próxima do protagonista e, muitas vezes, corta um ou mais inimigos ao redor.

Posso dizer que o sistema de combate define minha relação com o jogo como um todo. Gosto de alguns aspectos o bastante para lamentar que outros tenham sido tão mal explorados. Aprecio a proposta do combate no papel, mas, na prática, senti que faltou mais cuidado. Aliás, essa falta de cuidado se aplica também às criaturas enfrentadas, que passam longe de ser originais e variadas.

Cenário legal de Callisto Protocol.

Faço questão de destacar, por último, que aquela arma usada quase como um dispositivo de telecinese foi a minha maior decepção no jogo inteiro. Existia tanto potencial para enigmas que a utilizassem com mais criatividade em um mapa futurista. Durante os combates, essa máquina até é interessante, mas a sensação que fica marcada na memória é a de que tudo poderia ter sido melhor.

The Callisto Protocol é visualmente espetacular. Se você é daquelas pessoas que se contentam com uma experiência mais imersiva do que desafiadora ou rica em narrativa, o investimento vale a pena. Caso contrário, talvez seja melhor esperar por Dead Space Remake.


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Nota do crítico