Ninguém precisa dizer, hoje em dia, como a versão original de Resident Evil 4 marcou e mudou a indústria. Também deveria ser óbvio que a mais nova recriação da Capcom não repete esse feito, embora torne mais contemporânea toda a experiência.
Parece que a empresa japonesa ouviu as críticas de fãs ao redor do mundo em relação a Resident Evil 3, cuja recriação tomou liberdades demais na comparação direta com o original. Principalmente, ao retirar trechos importantes, como o da torre do relógio.
Muita ação, mas não tão exagerado
Resident Evil 4 Remake, chamado pela Capcom somente de Resident Evil 4, é extremamente fiel ao clássico de 2005. Existem ângulos de câmera idênticos em algumas cenas cinematográficas, cenários muito familiares e inimigos tanto tradicionais quanto inéditos (no último caso, em menor número).
De forma geral, é muito provável que os trechos favoritos dos jogadores do Resident Evil 4 original sejam exatamente os mesmos da nova versão. Infelizmente, entretanto, isso também vale para os momentos menos divertidos — apesar de algumas exceções.
Em primeiro lugar, deve-se destacar a melhoria já esperada na jogabilidade. Leon parece mais pesado do que Ethan, em comparação com Village, jogo anterior mais recente da série, mas está, também, muito mais versátil em comparação tanto com o Leon do Resident Evil 4 clássico quanto com o Leon da segunda versão de Resident Evil 2.
Não faltam combos de tiro na cabeça e chute na cara. Tiro na perna e golpe de luta-livre. Como a demo já indicava, o nosso agente especial favorito se tornou, de fato, o próprio John Wick. Contudo, não pense que se alcançou o nível de absurdo visto em Resident Evil 6.
Mais assustador que o original
Aliás, não pense também que Resident Evil 4 Remake passa longe de ser um jogo de terror, como muitos fãs diziam a respeito do original. Mais escura desde o início, a nova versão soube equilibrar a ação mais intensa com sustos memoráveis e uma ambientação que não demora tanto para se tornar digna do que chamamos de terror.
Seja pela decoração dos cenários, com ossos e sinais de sacrifícios espalhados por todos os lados, ou pela resistência de inimigos específicos, como o da serra elétrica, muitos serão os momentos nos quais jogadores se desesperarão e não saberão escolher entre combate e fuga.
Há quem diga que alguns jogos da franquia até são bons, mas não "parecem Resident Evil." O próprio Resident Evil 4 original aparece nessas listas, já que fundou as bases para o que viriam a ser os muito menos amados 5 e 6.
Contudo, a recriação de Resident Evil 4, que parece ter se beneficiado bastante de alguns assets de Resident Evil Village, soube deixar o tom menos frenético. Basta ouvir os Ganados rezando em voz baixa, como se estivessem atrás de Leon, para saber do que estou falando — isso antes mesmo de chegar ao castelo.
A quantidade de inimigos nos cenários contribui para aumentar a tensão. Há situações nas quais Leon precisa lidar com dezenas de Ganados, sendo que alguns se transformam antes de morrer, e o ideal é conseguir eliminar o máximo de inimigos perdendo o mínimo de munição — ainda que exista muito mais munição disponível do que em outros jogos da série.
Perceba que quase tudo o que foi dito até aqui também existe no Resident Evil 4 original, com a diferença de que a dosagem de terror, agora, é maior. Não importa se as combinações de tiro e golpes de artes marciais se tornaram mais frequentes. O tom do jogo ainda é adequado, indiscutivelmente, para o que se espera da série.
Adições, no geral, funcionam
O que pode surpreender bastante alguns jogadores é que a Capcom abraçou de vez algo que já vinha sendo indicado em Resident Evil Village.
Apesar de Resident Evil 4 Remake não ser, exatamente, um mundo aberto, há notável liberdade na locomoção de Leon entre cenários. E, embora o embargo me impeça de entrar em detalhes, digamos que jogadores terão motivos para revisitar áreas já visitadas.
Eu não poderia deixar de citar a melhoria imensurável na maneira como os personagens interagem entre si. Ashley, especificamente, está muito mais ativa nessa nova versão e há mais conversas entre ela e Leon ou mesmo entre Leon e outros coadjuvantes.
Por mais que traços um tanto cômicos da personalidade de Leon tenham sido mantidos, o que pode ser bom ou ruim dependendo de quem joga, é fato que todos estão muito mais humanos. Isso ajuda demais na construção de uma atmosfera em que nos preocupamos com todos os envolvidos.
O que não agrada tanto assim
Devo confessar que um trecho específico do jogo foi particularmente desagradável, pouco depois da introdução dos regeneradores, mas isso não chegou a comprometer a experiência como um todo.
Objetivos secundários específicos também poderiam ser um pouco mais criativos, apesar de algumas atividades específicas serem excelentes — e inéditas, diga-se de passagem.
Mais do que tudo isso, entretanto, o que pode frustrar alguns jogadores é a quantidade questionável de situações em que Leon pode morrer instantaneamente.
Quando pensamos em jogos nos quais o gerenciamento de inventário é parte importante da jornada, é fundamental que os desafios propostos pelo jogo exijam inteligência e estratégia na organização dos itens. No entanto, quando nos organizamos para, em um confronto direto, o personagem morrer após somente um ataque, a consequência natural é que o jogador se decepcione.
Não é algo que acontece a todo momento, mas ainda ocorre com mais frequência do que deveria.
Para quem é Resident Evil 4 Remake?
Nitidamente, a nova versão de Resident Evil 4 foi cuidadosamente elaborada, em muitos momentos, com os fãs antigos em mente, mas esse jogo funciona perfeitamente para quem nunca nem encostou no original também. Referências podem passar despercebidas por jogadores novatos, mas nada que cause tanto estranhamento.
Talvez seja surpreendente, para quem conheceu Resident Evil por meio das recriações, ver um sistema de progressão que funciona com base em compra de melhorias para armas e itens, mas não chega a ser algo inédito para os jogadores de Village, por exemplo.
Resident Evil 4 Remake é impecável na maneira como atualiza o jogo mais elogiado na história da franquia. Aos que nunca tiveram contato com a primeira jornada solo de Leon, fica o convite para que entrem de cabeça nesse mundo lotado de criaturas muito mais perigosas do que os tradicionais zumbis. Aos que já conhecem a história, preparem-se para revivê-la como nem sequer sonharam.
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- Lançamento
24.03.2023
- Publicadora
Capcom
- Desenvolvedora
Capcom
- Censura
18 anos
- Gênero
Terror e Ação
- Testado em
PlayStation 5