Não faz muito tempo que você leu aqui no The Enemy, algumas das minhas impressões sobre Grid Legends. No fim de dezembro testamos a jogabilidade e, em fevereiro, foi a vez de falar sobre o modo de história

Desta vez estou aqui para falar sobre o pacote completo do jogo e como essas peças se encaixam e, preciso dizer que estou surpreso de ver o trabalho da Codemasters reunindo o melhor de suas suas mecânicas e trazendo muito de sua expertise construída ao longo dos anos com F1, Dirt e as aventuras no universo de Grid.

Grid nunca deixa o jogador acomodado, sempre apresenta novas formas de jogar e trazer visuais incríveis para as provas. São mais de 120 veículos que estão disponíveis e mais de 22 locais espalhados pelo mundo e tudo isso é unido com uma história que, apesar de ter minhas ressalvas, é instigante do início ao fim.

A Codemasters é uma desenvolvedora britânica especializada em jogos de corrida e, mesmo que tenha um ou outro jogo que fuja do tema, seu curriculum atesta que sua área de excelência é sobre as quatro rodas.

Em sua coleção estão títulos assinados por Colin McRae Rally que, mais tarde adotou o nome de Dirt, além de produzir os jogos oficiais da Formula 1 desde 2009, encabeçar o desenvolvimento do excelente Project CARS e o divertidíssimo Micro Machines.

Ou seja, os caras gostam mesmo de jogos de corrida. 

Se Project CARS tem como seus principais concorrentes Gran Turismo e Forza Motorsport, Grid se emparelha com Need For Speed e Forza Horizon.

Um salto na inteligência dos jogos de corrida

Se você acompanha meus textos sobre games de corrida aqui no The Enemy, também deve ter esbarrado em uma crítica que venho fazendo em todos os jogos do gênero: a Inteligência Artificial. Porém eu tenho que falar que a Codemasters se superou em Grid Legends com o seu sistema Nemesis.

Para refrescar sua memória, é preciso lembrar que esse sistema nasceu no reboot de 2019 e tinha como grande ambição fazer com que a IA emulasse a forma de dirigir por outro jogador, fazendo fechadas e até mesmo empurrando seu carro para fora da pista. Lá em 2019 o sistema não foi perfeito, porém a história mudou em Grid Legends.

Aqui o sistema Nemesis volta com tudo e você vai criando rivalidades conforme sua atitude na pista. Por exemplo, os adversários ficam “irritados” se você bate em suas traseiras, se faz fechadas bruscas ou até mesmo impede ultrapassagens. Se você joga “limpo”, dificilmente vai angariar muitos rivais. Mas se você faz de tudo para vencer, aí a história muda completamente.

Quando um corredor controlado pela IA se torna seu rival, ele vai fazer de tudo para acabar com seu dia, mesmo que para isso esse mesmo piloto tenha que fazer coisas como “sair do trilho” para que você bata no guard rail. E esse é um tipo de desafio que você, jogador de games de corrida, vai adorar.

E o mais importante é que o sistema Nemesis pode se acumular com diversos pilotos da IA e se você for muito imprudente logo vai perceber que todos querem sua máquina fora da competição e sobreviver até o fim da corrida vai ser praticamente impossível.

E não pense que os corredores estão todos contra você, jogador. Invariavelmente você vai ver dois carros da IA lutando para ultrapassar e até causar grandes acidentes. A sensação é de que o jogo é vivo, moderno e que a produtora ouviu o que a comunidade dos jogos de corrida gostaria de ver. Sem essa de andar sobre trilhos. Grid Legends passa uma sensação de imprevisibilidade única nas corridas e é o que eu mais gostei de ver no título..

Sobre a jogabilidade em si, Grid traz tudo o que está no DNA da Codemasters, permitindo com que você jogue com danos nos carros, reduza as assistências para os controles e tem até diversos ajustes finos para quem usa volantes de simuladores. 

Assim como em todos os jogos da produtora, existem diversos ajustes para deixar o seu jogo mais ou menos desafiador que vão desde coisas simples como o controle de tração, ou até mesmo sinalizações de pontos de frenagem. 

Para quem é fã das acessibilidades que Forza Motorsport introduziu ao gênero, vai gostar de ver que o sistema de “voltar no tempo” está presente para corrigir algum erro de cálculo ou batidas. Porém, se você é daqueles que acha que isso é trapaça, pode tirar completamente esse recurso e arcar com as penalidades e até mesmo com danos nas peças dos carros.

Minha experiência anterior com os jogos da série permitiu que arriscasse mais e até mesmo em provas que sentia dificuldade, como o Drift, me ajudaram a me adaptar à sua jogabilidade. Comparado com o Grid de 2019, percebemos que a Codemasters teve um belo trabalho de ajustes e na calibragem dos controles para deixar o jogador mais à vontade.

Nos meus testes no PlayStation 5, senti falta de ter um uso mais profundo dos recursos do DualSense para transmitir a emoção e até mesmo nuances de diferentes tipos de asfalto ou até mesmo ao usar a zebra ou sair da pista. 

Já no PC eu pude testar o game com o volante G923 da Logitech e confesso que esta foi uma das mais impressionantes experiências que tive nos últimos tempos. Por exemplo, é muito impressionante sentir como o Audi A4 Quattro trota pedindo pra você pisar fundo ou como você precisa ser cuidadoso para pilotar os Super Trucks pra não sair do traçado e até mesmo a emoção de segurar o drift em um  Lancer Evolution X.

Mas mais inteligente do que tudo isso que eu disse, é a forma que ficou mais fácil jogar online, tendo em vista que Grid Legends tem um sistema de crossplay e que encontrar uma partida se tornou bem rápido. Você ainda vai encontrar um ou outro jogador “porra louca” nas pistas, mas conforme for jogando e adquirindo experiência, logo vai deixar de ver esses malucos e partir para uma competição de alto nível. 

É claro, ainda você vai ter que lidar com alguns trapaceiros, pessoas que usam exploits ou programas de hacks para fazer voltas mirabolantes. Mas tenho certeza de que a Codemasters vai frear esses trapaceiros em breve com uma ou outra atualização.

Como um bom jogo arcade, você pode deixar a história de lado para se concentrar apenas nas corridas individuais e experimentar todas as pistas. Porém, para ter acesso a mais carros você vai precisar passar pelo modo carreira para completar a sua coleção e ter mais variedade na jogatina.

São 22 locais para correr e mais de 130 variações de traçados. Os números são impressionantes e os locais vão desde circuitos reais como Barcelona e Brands Hatch e passam por cidades pitorescas como Paris e Havana. 

Entretanto, sinto que por vezes alguns traçados deixam um gostinho de “quero mais”.Seria interessante trazer mais pistas do mundo real para as corridas de monoposto, por exemplo. Além disso, a falta de variedade de locais deixam sempre uma sensação de “eu já estive aqui”. Indianapolis tem 8 variações de traçado, Havana tem 7, enquanto Mount Panorama tem apenas 2 variações. Acredito que essa divisão poderia ser mais equilibrada.

Mundo injusto

Grid Legends, porém, dá um passo adiante se comparado aos outros jogos da série. Aqui podemos ver um pouco do DNA da produtora e o seu amor aos paddocks, trazendo como seu principal diferencial um modo de história que conta a ascensão do Piloto 22 no competitivo - e cruel - mundo do automobilismo.

Você tem a difícil missão de se tornar o segundo piloto da equipe Seneca no Grid World Series, o torneio multicategoria no qual você precisa ganhar a confiança da equipe ao mesmo tempo em que Yume Tanaka rouba os holofotes.

Mas não pense que você é a estrela. Na verdade, o enredo se desenvolve como se fosse um documentário dramático que mostra a história de superação de Yume que tem plenas condições de disputar e vencer o campeonato. Porém, esta chance lhe é roubada, pois, como visto logo na cena de abertura, Yume fica fora por grande parte do circuito por conta de um acidente causado pelo irresponsável Nathan McKeane, estrela da equipe Ravenwest.

No decorrer da narrativa você cruza com Valentin Manzi da equipe Voltz e sente que ele até poderia ser um parça das baladas. Já McKeane, é o estereótipo do piloto egocêntrico e insuportável. Será que este sentimento vem à tona por ele ter sido o causador do acidente? Talvez. 

Mas não quero dar spoilers, afinal, este é um grande diferencial de Grid Legends. Mas digamos que o "documentário" se desenvolve muito bem para contar a trajetória de Yume. Mas você, o Piloto 22, acaba sendo jogado para fora da narrativa e é como se não passasse de um coadjuvante qualquer. Até mesmo o engenheiro da equipe acaba sendo mais relevante para essa história do que você. 

Após jogar a campanha e ter sido o principal responsável por tornar a Seneca a campeã da temporada, me senti um tanto injustiçado pela forma que o “documentário” simplesmente traça a narrativa. 

Talvez seja o mesmo sentimento que qualquer segundo piloto sente nas equipes. Extrapolando muito (e até exagerando), é como Rubens Barrichello deve ter se sentido ao lado de Michael Schumacher na Ferrari. 

O sentimento de “Hoje não” vem com tudo no fim da campanha.

Mas deixando a história de lado, os atores e a cenografia fazem bonito em trazer você, jogador, para o mundo das corridas. Como disse anteriormente, é como fazer parte de um documentário como F1: Dirigir Para Viver na Netflix. 

No fim das contas, a campanha de Grid Legends é uma das melhores que já vi em jogos do gênero e eleva a barra. E essa é uma chicane que a Electronic Arts vai precisar superar e se diferenciar no próximo Need for Speed.

Em resumo, Grid Legends é um excelente jogo de corrida. É uma pena que foi “espremido” em uma temporada com muitos jogos do gênero igualmente excelentes. Competir com Forza Horizon 5 e Gran Turismo 7 não é fácil, mas Grid Legends traz sua própria identidade e acerta onde os outros erraram.

  • Lançamento

    25.02.2022

  • Publicadora

    Electronic Arts

  • Desenvolvedora

    Codemasters

  • Gênero

    Corrida

  • Testado em

    PlayStation 5

Nota do crítico