Atuais queridinhos dos fãs de pancadaria, a Arc System Works não para. De Guilty Gear Xrd a Dragon Ball FighterZ, a produtora vem acertando nocautes um atrás do outro com títulos que são mais do que apenas rostinhos bonitos - jogos de luta com mecânicas únicas e identidades próprias.

Granblue Fantasy: Versus é mais um acerto na trajetória do estúdio. Inspirado pelo extremamente bem-sucedido RPG para celulares da Cygames, o game agrada muito fãs já familiarizados com aquele mundo, mas também se sobressai de uma maneira bem mais importante para a população geral: como um dos melhores novos jogos de luta dos últimos anos.

O número total de personagens jogáveis disponíveis no lançamento pode deixar a desejar e o promissor modo campanha decepciona, mas Versus não deixa de impressionar em vários aspectos, incluindo visualmente e quando o assunto é acessibilidade sem perder a profundidade.

Divulgação/XSEED Games

Como o RPG que o inspirou, Granblue Fantasy: Versus se passa no Mundo dos Céus - um cenário diferente do esperado, que consiste em uma coleção de ilhas flutuantes no céu. Os protagonistas desta história são o capitão Gran e companhia, aeroviajantes a bordo da nave Grandcypher, que vagam pelo mundo ajudando pessoas e se intrometendo em perigosos esquemas envolvendo impérios malignos, criaturas lendárias e poderes ocultos.

A mitologia da série é muito rica e interessante, e ganha vida em Versus através dos belíssimos gráficos possibilitados pela tecnologia proprietária da Arc System Works, que parece transformar personagens 3D em desenhos animados feitos à mão.

Fãs de Granblue Fantasy irão se deliciar com a enxurrada de referências a momentos antigos do game de celular espalhados por todos os lados, incluindo um vasto glossário que reintroduz termos específicos deste mundo e uma excelente tradução para o português do Brasil, mas até mesmo aeroviajantes de primeira jornada recebem contexto o suficiente para entender tudo o que está acontecendo.

E é no modo RPG que a influência do jogo original mais pode ser sentida - tanto para o bom, quanto para o ruim.

Divulgação/XSEED Games

Servindo como a campanha para Granblue Fantasy: Versus, o modo RPG intercala diálogos entre os personagens com fases de luta ao estilo beat-'em-up, nas quais o objetivo costuma ser derrotar os capangas genéricos que aparecem na tela até que o jogo se dê por satisfeito e mande você prosseguir. É uma sequência entediante de batalhas pouco envolventes, que recria um tipo de experiência repetitiva que até mesmo o jogo original já deixou para trás há anos.

Após cada sequência de três ou quatro fases assim, o jogador enfim fica frente a frente contra uma batalha contra chefe - que pode ser um outro personagem a ser desbloqueado para o resto da jornada, ou então um chefe exclusivo do modo RPG inspirado pelas batalhas contra Bestas Primordiais da série. Estes enfrentamentos, sim, divertem: mas só na dificuldade mais alta, que é destravada após o jogador passar por toda a aventura pelo menos uma vez. Na dificuldade padrão, o conteúdo é muito fácil, e passa despercebido.

Inspirado pelo RPG da série, o jogador pode montar um arsenal de armas para aumentar o poder de combate de seus personagens dentro do modo RPG. Assim como as batalhas contra chefes, porém, a mecânica só começa a importar de verdade na dificuldade mais alta, quando os chefes começam a oferecer certo nível de desafio.

Os problemas do modo RPG são acentuados pelo excesso e pela demora das telas de carregamento, que torna ainda mais difícil manter o interesse na campanha até o fim.

Divulgação/XSEED Games

Mas quando o assunto é pancadaria, Granblue Fantasy: Versus não vacila.

O jogo usa um esquema de controle baseado em quatro botões, com três deles dedicados para ataques fracos, médios e fortes, e um último voltado para a ativação de habilidades únicas de cada personagem. Em vez de utilizar a tradicional lógica de combos em que ataques leves servem de abertura para médios e médios para pesados, Versus separa completamente os três tipos de golpes. É como se os três níveis de força fossem três combos automáticos diferentes que não se conectam.

O sistema faz com que os combates sejam muito mais focados em ataques a partir da posição neutra do que a maioria dos jogos de luta da Arc System Works. E a lógica funciona, dando aos combates um ritmo cadenciado e mais espaço de manobra para jogadores inexperientes.

Jogadores novatos também são contemplados pelo sistema de poderes especiais, que podem ser ativados por atalhos rápidos que recarregam e podem ser reativados alguns segundos após o uso. A opção de ativar os mesmos poderes através dos 'comandos técnicos' (como são chamados os inputs tradicionais do gênero, como o bom e velho meia lua para a frente e soco) ainda existe, e jogadores que as dominam são recompensados com um tempo de recarga de habilidade mais veloz do que quem usa os atalhos. A lógica faz uma diferença palpável nos combates entre jogadores veteranos e novatos, diminuindo o abismo entre eles sem desprestigiar quem treinou para dominar as mecânicas.

Ainda que a pequena lista de personagens controláveis possa desanimar veteranos do gênero - eram 11 no lançamento, e são 15 na data de publicação deste review -, algumas horas gastas nas filas ranqueadas deixa claro que o foco na qualidade acima da quantidade compensa. Os personagens têm estilos de ação completamente díspares, principalmente por influência de suas habilidades únicas, mas também por fatores como altura e velocidade. Mesmo descondierando o nível de habilidade de cada oponente, uma estratégia de luta que funciona de maneira exemplar contra Ladiva, por exemplo, pode não surtir efeito nenhum contra Charlotta.

Divulgação/XSEED Games

Para jogadores brasileiros, convém saber que, ao longo do meu tempo com o game, sempre tive facilidade para encontrar partidas de baixa latência contra outros jogadores da região através do sistema de lobbies online regionais.

Versus é uma boa adaptação do universo de Granblue Fantasy para o PlayStation 4 e o PC, mas um ótimo jogo de luta. Resta saber se a comunidade irá abraçar o game à longo prazo, já que o lado dos produtores já está garantido: o game já tem até mesmo um segundo passe de temporada com lutadores adicionais confirmado.

  • Lançamento

    03.03.2020

  • Publicadora

    XSEED Games

  • Desenvolvedora

    Arc System Works

  • Censura

    12 anos

  • Gênero

    Luta

  • Testado em

    PlayStation 4

  • Plataformas

    PC PlayStation 4

Nota do crítico