Fãs de Resident Evil, Silent Hill e até mesmo Dino Crisis precisam dar uma chance para Fobia - St. Dinfna Hotel (PS5, Xbox Series, PS4, Xbox One, PC). Não há outra maneira de começar este texto.
É realmente impressionante o que esse jogo consegue fazer com fãs de longa data do gênero survival horror. Enigmas espalhados por todos os lados, um perseguidor implacável, gerenciamento de inventário, trilha e efeitos sonoros maravilhosos.
Fobia tem tudo o que tanto elogiamos nas franquias importadas, mas com a adição de um detalhe importante: o jogo do estúdio Pulsatrix é brasileiro. Então, não bastassem os acertos inegáveis, bate ainda um certo orgulho de ver algo desse nível disponível por aqui.
Em Fobia, você controla um jornalista recém-formado chamado Roberto Leite Lopes, que vai investigar uma região misteriosa de Santa Catarina após receber uma dica amiga da nossa querida Stephanie.
De acordo com ela, o passado do hotel que dá nome ao jogo, localizado em Treze Trilhas, é cheio de mistérios e digno de uma investigação. No mundo real, aliás, existe uma cidade em Santa Catarina chamada Treze Tílias, mas confesso que nunca a visitei.
Basicamente, a função do jogador é levar o protagonista pelos diferentes andares do hotel com o objetivo de desvendar um mistério e sair de lá vivo.
A história pode ser meio confusa, às vezes, já que existe uma dinâmica de viagem no tempo que nunca é explicada de maneira muito didática, mas juntar as peças aos poucos é sensacional.
Fica sempre a sensação de que existe um trabalho investigativo sendo feito. Sabe? Não existe aquele famoso discurso de um personagem que já sabia de tudo e vai lá contar para o jogador. É preciso ler os arquivos de texto; prestar atenção em todos os detalhes.
Já que falei em arquivos de texto, dificilmente isso não despertou algum tipo de memória nos fãs de Resident Evil. E, sim, essas pequenas adições contribuem muito para a história como um todo.
Diferente de outros jogos, que perderam a mão na ideia de arquivo escrito, como aquelas coisas imensas que encontramos em Cyberpunk 2077 ou mesmo no próprio Resident Evil 7, os relatos são condensados e competentes.
Mas deixando de lado esses detalhes, ainda há muito em comum de Fobia com outros jogos de terror. É o caso de Silent Hill, por exemplo.
Apesar de começarmos em um quarto de hotel vendo tudo em primeira pessoa, o que pode remeter a Silent Hill 4, a ideia de visitar apartamento por apartamento em um prédio relativamente grande me fez lembrar muito de Silent Hill 2, pouco antes do encontro com o Cabeça de Pirâmide.
Os enigmas, como falei, também estão espalhados por todos os lados. Alguns são mais tradicionais, como acertar na dosagem de uma fórmula para obter um veneno especial ou identificar desenhos para alinhar os da fechadura com os da chave e ganhar acesso a algum item ou ambiente.
Em outros casos, os enigmas são o próprio ambiente. Já que, quando pegamos a câmera, temos acesso a um outro mundo. Então, se uma passagem está bloqueada, por exemplo, basta pegar a câmera e um caminho até então invisível pode se abrir.
Mais do que qualquer outro equipamento, a câmera é fundamental nesse jogo. Não por causa da visão noturna, já que existe uma lanterna disponível para o jogador também, mas pelo fato de que é só com a visão da câmera que a gente consegue passar por certos lugares.
Talvez o principal mérito de Fobia, aliás, seja justamente esse: o fato de que o jogo valoriza, durante todo o tempo, os puzzles. Essa palavra em inglês que todo fã de toda franquia de terror um dia usou na frase: "ah, sei lá, parece que não tem tanto puzzle mais, não gostei".
É prazeroso encontrar os itens que você precisa para abrir as portas, voltar e ter de resolver um rápido enigma para conseguir realmente passar. Isso deixa todo aquele vai e volta recompensador. Você anseia por aquele minigame que vai lhe fazer sentir mais inteligente.
No meio de toda essa exploração em primeira pessoa por ambientes escuros cheios de enigmas em um mundo misterioso, também temos os famosos monstros... E aqui é o ponto em que vou perder um pouco do entusiasmo.
Os monstros de Fobia são legais? Ah, talvez. Mas uma variedade maior cairia muito bem. O impacto dos tiros também poderia ser um pouco mais forte, para não sentirmos que estamos atirando contra a parede em certos momentos.
Eu adoro o fato de que esses monstros, às vezes, dão um pique do nada para chegar no jogador rapidamente, mas não muito mais do que isso. O design não é lá tão inspirado. E, também, eles só assustam mesmo quando estão em grupo, porque aí, se mais de um corre na direção do jogador, ferrou.
Os ataques em si também não são dos melhores. Eles ficam lá balançando os braços e nós sofremos dano. Sabe? É bem simples. Faltou algo mais.
Mais uma coisa, ainda pensando em combate, não foi muito agradável: os chefões. Nossa. Pelo que contei, são três chefões obrigatórios, mas todos eles me deixaram um tanto reticente.
A movimentação desses inimigos é super robótica, o design (de novo) não é dos melhores. Aliás, quando falo em design, é o visual mesmo. Não é o design da luta... Que também poderia ser melhor.
Mas das baratinhas eu gostei. Pulei de susto umas quinze vezes por causa desses bichinhos.
É óbvio que precisamos ter em mente também a questão de que Fobia é um jogo independente. Então, obviamente, algumas limitações iriam aparecer. Mas, justamente por já saber que essas limitações existem, o caminho mais seguro para o estúdio teria sido tomar uma direção mais focada nos enigmas.
Isso poderia deixar o jogo menor? Poderia, já que ficar resolvendo enigmas sem parar pode acabar sendo enjoativo. Ainda assim, talvez fosse melhor diminuir um pouco o peso do combate e valorizar mais o que Fobia realmente traz de melhor, que é a vivência proporcionada somente pelos jogos de terror.
A ambientação, por exemplo. Nossa senhora. Que coisa maravilhosa. Os efeitos sonoros, a trilha. Aliás, há uma peculiaridade importante sobre o som.
Sabe quando você chega nos pontos de salvamento em Resident Evil, e entra uma musiquinha super calma? Fobia usa exatamente o mesmo recurso. O tema é bem curtinho, mas fica na cabeça por um bom tempo.
De forma geral, Fobia é uma experiência que talvez pareça um tanto inacreditável para os jogadores brasileiros. É surreal... Tanto figurativa quanto literalmente. É impressionante mesmo. Dá gosto de jogar.
Eu realmente espero que, um dia, o estúdio Pulsatrix lance um jogo de terror com menos combate — por mais que seja legal ir conquistando novas armas no maior estilo Resident Evil — e mais foco ainda na exploração.
Poderia ser um jogo inteiro no estilo do capítulo da Floresta, segundo trecho de Fobia. Aposto que funcionaria super bem, porque esse capítulo é maravilhoso.
Algo talvez até sem monstro algum ou só com um perseguidor implacável. Sabe? Inclusive, falando nisso…
O monstro principal de Fobia funciona, durante trechos bem curtos como uma espécie de Mr. X. Acredite quando digo que esse cara tem presença. Quando você vir a luz vermelha, apenas corra, como consta em um dos arquivos de texto. Minha única morte no jogo inteiro foi causada por esse vilão.
Enfim, eu queria muito que esse monstro tivesse aparecido mais vezes. Ele realmente traz uma tensão a mais. E ele até muda o mapa completamente quando aparece, é muito legal.
A esta altura, deve estar nítido que amei Fobia. É um dos meus jogos favoritos de 2022. Uma das provas da gradual consolidação do mercado brasileiro de jogos. E, provavelmente, vou jogar de novo depois, com mais calma, porque deixei muitos enigmas opcionais passarem.
Se você gosta de jogos de terror, nem pense. Apenas jogue. Garanto que é um investimento certeiro.
- Lançamento
28.06.2022
- Publicadora
Maximum Games
- Desenvolvedora
Pulsatrix Studios
- Censura
16 anos
- Gênero
Survival Horror
- Testado em
PlayStation 5