É difícil acreditar que, a partir de 2024, viveremos em um mundo sem jogos da série FIFA. Com o fim já decretado da parceria de exclusividade entre Electronic Arts e a Federação Internacional de Futebol, a série da EA passa a se chamar EA Sports FC. É, portanto, o fim de uma era.

Presentes na vida de inúmeros jogadores desde 1993, os jogos da série FIFA passaram por altos e baixos ao longo dos anos. Durante muito tempo, no Brasil, você deve se lembrar de que Winning Eleven, da Konami, dominava o mercado. Ainda assim, FIFA fez o que poucas séries na história conseguiram fazer e virou o jogo para cima do adversário (o jogo de palavras foi acidental).

Na última década, ou até mais do que isso, FIFA se tornou uma série de jogos de futebol sem qualquer oponente à altura. Em parte, evidentemente, isso aconteceu por causa dos direitos exclusivos em relação a grande clubes europeus — algo que pode diminuir de agora em diante.

Ah, FIFA 23. O último herdeiro de uma dinastia vitoriosa. Sem dúvida alguma, existiram melhorias notáveis no novo jogo em relação ao título anterior. Entretanto, alguns problemas já tradicionais se fizeram presentes também nessa despedida que entra para a história dos games.

Novo sistema de bolas paradas

Cobrança de escanteio.

Talvez um dos aspectos mais importantes do jogo de futebol mais recente da EA seja o crossplay. Finalmente, após tanto anos, jogadores de diferentes plataformas podem se enfrentar à vontade. Encontrar partidas se tornou mais rápido — e isso é o que todos querem, com certeza.

Logo nos primeiros minutos de jogo, é fácil perceber algumas mudanças notáveis no que diz respeito às cobranças de falta e escanteio. Com um radar que indica exatamente o tipo de efeito que o jogador vai obter nos momentos de bola parada, o sistema está muito mais fácil de entender do que nos últimos dois jogos da série, finalmente.

Os pênaltis também estão mais fáceis de cobrar, ainda que possa ser relativamente frustrante bater com alguns jogadores específicos. A sensibilidade da mira parece mais equilibrada do que nos últimos jogos, assim como a influência da força do chute na chance de erro. Defender os pênaltis, entretanto, talvez exija se colocar mais à direira ou mais à esquerda antes do pulo, já que algumas bolas são inalcançáveis quando saltamos com o goleiro no centro do gol.

Houve uma preocupação notável por parte da EA em atender a pedidos de alguns jogadores sobre mecânicas com bola parada. Não eram poucas as reclamações sobre bater faltas, por exemplo, nos últimos jogos. E, esteja você satisfeito ou não com a mudança, o novo sistema é mais intuitivo.

Nova dinâmica de ataque

Partida rolando em FIFA 23.

Visualmente, também existem algumas melhorias muito bem-vindas em termos de animação. Com a tecnologia HyperMotion 2, os modelos de personagem se movem de maneira mais próxima à de um corpo humano na vida real. Inevitavelmente, prezar pela coerência na movimentação torna o jogo tanto mais bonito quanto mais lento.

Sim. Apesar de alguns jogadores específicos serem extremamente rápidos e chatos de marcar, como Mbappé e Vini Jr., o jogo, de forma geral, está mais lento. A plasticidade dos movimentos faz com que algumas decisões de última hora levem mais tempo. Então, na hora de se preparar para fazer um passe, um cruzamento ou mesmo chutar, é nítido que devemos antecipar um pouco mais as nossas ações. Isso está longe de ser um problema em si, mas é difícil apenas ignorar.

Os chutes, inclusive, passaram por uma renovação curiosa. Agora, existem os chamados Power Shots, que são Super Chutes literais. Basicamente, você segura dois botões de cima do controle (no meu caso, L1 + R1) enquanto chuta e isso gera uma animação de câmera que dá um zoom no jogador antes do chute ser executado na forma de uma verdadeira bomba.

A ideia é que o jogador aproveite esses Super Chutes para disparar com força na direção do gol adversário. Durante o zoom da câmera, é possível posicionar o corpo do jogador como você achar melhor e achar a direção ideal pro chute. No entanto, a defesa pode nos interceptar durante a preparação. Com certeza existem pessoas que saberão explorar essa mecânica, mas confesso que está longe de ser algo que relamente me interessou.

Você vai xingar os zagueiros

Mbappé pedalando.

Já que falamos sobre a defesa ter mais chance de tirar a bolta durante o Super Chute, é bom mencionarmos que os defensores, por mais que estejam relativamente mais inteligentes, ainda são alvos fáceis para os atacantes com mais habilidade ou mais velozes.

Ainda é extremamente fácil fazer passes adiantados exatamente pelo meio dos zagueiros, que acabam ficando para trás enquanto tentam alcançar o atacante. Esteja muito atento às táticas, que, no geral, continuam bem familiares para quem jogous os últimos títulos. Achar que todos os clubes terão as mesmas soluções só leva à frustração.

Também merecem destaque aqui os goleiros, que talvez estejam mais fáceis de superar do que em outros jogos. Mesmo com goleiros de alto nível no FIFA Ultimate Team, por exemplo, existem até chutes no meio que passam facilmente pela última linha de defesa dos times. O bom é que muitas partidas são cheias de gols. O ruim é que, às vezes, quem tá tomando esses gols é você — e a culpa pode nem ser só sua.

Modos de jogo

Ted Lasso em coletiva.

Ainda encontramos todas as opções de jogo às quais tantos fãs estão acostumados, desde os amistosos no esquema padrão até partidas com regras alternativas bizarras, seja no Volta ou não. De forma geral, você poderá jogar seus campeonatos como sempre jogou.

No caso do Modo Carreira, como técnico, uma adição divertida é a opção de escolher técnicos reais e controlá-los. Aliás, é possível até mesmo controlar Ted Lasso — que, obviamente, foi a minha escolha logo de cara. Também foram adicionadas novas decisões a serem tomadas na Carreira de jogador, incluindos alguns perks específicos que acrescentam uma camada de RPG bem irritante ao jogo.

De forma geral, você não terá dificuldade alguma de se adaptar aos modos já conhecidos em FIFA 23. Com exceção dos já mencionados perks, que são, sim, uma perda de tempo para quem não tem interesse nesse aspecto da jogabilidade, tudo parece aquilo que você já conhecia.

Só é uma pena que os exercícios para obter pontos que vão ser investidos nos jogadores do Pro Clubs e da Carreira de jogador, por exemplo, sejam tão entediantes. Se você tem paciência para fazer cada exercício pelo menos uma vez para obter a nota máxima, meus sinceros parabéns.

FIFA Ultimate Team (FUT)

Formação no FUT.

Mesmo que a proximidade entre jogadores ainda possa interferir na química do time, criar uma equipe entrosada parece mais fácil em FIFA 23. Não foram poucos os casos em que, simplesmente por serem do mesmo país, mesmo que estivessem distantes uns dos outros, jogadores contribuíram para melhorar o entrosamento geral. É nítida a preocupação da EA com tornar tudo mais acessível e intuitivo.

Além disso, existe uma série de desafios específicos no FUT que facilitam o entendimento do modo até mesmo para aqueles jogadores que tinham preguiça de aprender ou nunca tinham investido tanto tempo nessa opção de jogo.

O principal "problema" do FUT continua presente em FIFA 23 e, honestamente, de ser herdado até por EA Sports FC. É óbvio que quanto mais dinheiro uma pessoa gasta com microtransações, mais jogadores podem ser obtidos. Então, sim, mesmo que seja possível montar boas equipes sem gastar grana, há um quê de "pay to win" na experiência, algo que tende a se tornar frustrante no longo prazo.

Também existe a questão dos menus. Como FIFA, de modo geral, é um jogo em que se navega constantemente por menus, é difícil não se irritar com a lentidão da transição entre telas, até mesmo no PS5. A interface de FIFA nunca foi muito boa, mas é particularmente tosca em FIFA 23. Afinal, já passou da hora de arrumar algo tão básico.

Ligas femininas em peso

Drible na liga feminina.

A presença de times femininos foi expandida em FIFA 23. Agora, existem tanto as seleções femininas quanto times femininos de ligas, exatamente como sempre aconteceu no futebol masculino.

O número de equipes é bem reduzido, infelizmente. Existem somentes as ligas da Inglaterra e da França, além das seleções nacionais dos países. Ainda assim, é um passo à frente do que existia em FIFA 22.

Só é uma pena que as seleções brasileiras — tanto feminina quanto masculina — sejam completamente tomadas por personagens genéricos.

Sem a Liga Brasileira

Jogadores genéricos.

Todos os times brasileiros de FIFA 23 estão divididos em categorias que não são a famosa "Liga do Brasil" ou "Liga Brasileira". Para encontrar os times em um simples amistoso, por exemplo, você terá que selecionar "Conmebol Libertadores" como o "tema" do amistoso, lá em modos de jogo.

Fazer parte da Libertadores: América Mineiro, Athletico-PR, Atlético-MG, Corinthians, Flamengo, Fortaleza e Palmeiras.

Mais times brasileiros podem ser encontrados na partidas da Sul-Americana: Atlético-GO, Ceará, Cuiabá, Fluminense, Internacional, Santos e São Paulo.

Para os jogadores que queriam escolher os próprios times em amistosos, as opções são bem limitadas. Contudo, escudos dos times podem ser obtidos no FUT, então, há pelo menos essa maneira de valorizar os clubes brasileiros.

Adeus, FIFA

Chute em FIFA 23.

O saldo geral é positivo. Ainda que o último jogo da série FIFA não tenha corrigido alguns problemas apontados há tanto tempo pela comunidade, é fato que o simulador de futebol continua tão divertido quanto sempre foi — e se tornou ainda mais intuitivo.

As melhorias podem não ser o bastante para dizer que FIFA 23 foi uma despedida revolucionária, mas, ainda assim, nos aspectos em que houve renovação, não há do que reclamar. Que venha EA Sports FC, cujo maior desafio é se mostrar digno de carregar o legado da série de futebol da EA.


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FIFA 23
  • Lançamento

    30.09.2022

  • Publicadora

    Electronic Arts

  • Desenvolvedora

    EA Sports

  • Gênero

    Esporte

  • Testado em

    PlayStation 5

Nota do crítico