Uma das grandes novidades da Electronic Arts para o EA Sports FC 25, nova edição da franquia anual de futebol, é o FC IQ, tecnologia que aprofunda imensamente o lado tático do game, mostrada em primeira mão para jornalistas e criadores de conteúdo no escritório da empresa em Vancouver. O que boa parte do público não sabe, entretanto, é que a ferramenta foi criada sob chefia de um brasileiro, Thomas Caleffi, que foi o responsável por mostrá-la em uma sala repleta de pessoas que vivem o game.
Thomas, que hoje tem 36 anos, se formou na faculdade em meados de 2005 e, junto de alguns amigos, criou uma empresa para desenvolver jogos. A iniciativa durou bastante, mas não rendeu games que de fato o orgulhassem — afinal, já é difícil ser desenvolvedor no Brasil hoje em dia, imagina naquela época.
“Em 2014 tava muito difícil, sempre brigando, batalhando, e a gente decidiu ir cada um tomar seu rumo. Eu queria trabalhar com jogos de verdade, não que não tenha sido, mas queria fazer jogos de PlayStation, de computador. Vi que Vancouver tinha bastantes empresas, e é perto de Los Angeles, e cá entre nós é mais fácil de imigrar pro Canadá do que pros Estados Unidos”, contou em entrevista ao The Enemy.
Ele fez um curso de um ano na Vancouver Film School e, assim que seu visto de trabalho ficou pronto, ele aplicou para uma vaga na EA. Ele conseguiu entrar na empresa em 2017, como Produtor Assistente do FIFA Mobile, e nunca mais olhou pra trás.
“Trabalhei no Mobile por 2 anos e meio, e quando eu entrei eu comecei a falar bastante com o Sam Rivera, porque sabia que ele era o chefe de gameplay na época. Quando deu 2 anos e pouco de Mobile, eu perguntei pra ele se tinha uma vaga de gameplay, e ele chamou. Entrei no final do FIFA 19 no gameplay, e naquele momento eu falei: ‘Vou ficar aqui pro resto da minha vida’. Eu vou pro Brasil o tempo inteiro, mas foi quando decidi que ia morar e trabalhar aqui”, narrou.
Cinco, seis anos depois, ele se vê responsável por aquela que é, provavelmente, a maior adição ao FC 25. O FC IQ reinventa táticas no jogo, designando “roles” (papéis, funções) para os jogadores, assim como suas familiaridades com cada uma delas. Em um escopo maior, instruções dadas coletivamente à equipe também ganharam mais profundidade.
“No passado eu trabalhei em coisas grandes, como o Hypermotion, com Mimic, fiz passe e um monte de outras features. Foi legal, mas agora eu sou responsável pelo FC IQ e dá medo, mas é muito legal”, confessou.
Ele ainda adicionou que o DNA brasileiro está presente em outra novidade do jogo:
“Eu tô fazendo o IQ e tem outros dois brasileiros que trabalham comigo no time, o Breno e o Danilo, e eles fizeram o gameplay do Rush, então a gente tá sempre conversando, nós três, e é muito legal. A gente ama muito o jogo, estamos sempre tentando fazer coisas, mudar coisas”, complementou.
Uma ideia simples
Apesar de parecer megalomaníaco, o IQ surgiu de um simples pedido de Sam Rivera, mentor de Thomas e veteraníssimo da equipe da EA: fazer um novo sistema de posicionamento. O brasileiro acabou se empolgando na ideia:
“Quando eu comecei a apresentar ele percebeu que era bem mais que um positioning novo, e felizmente tem gente que ajuda, vê a nossa ideia, e tivemos essa oportunidade”, disse Thomas, que ainda brincou: “Deram as rédeas para um brasileiro, né?”.
A ideia não foi exatamente bem recebida logo de cara: “No começo, quando eu comecei a apresentar pras pessoas, todo mundo ficou com esse medo. 'Putz, isso é muito grande... Não dá pra fazer isso, você tá maluco, Thomas. Tu não pode mudar todo o gameplay, não tem tempo suficiente'. Mas eu sabia que se a gente não fizesse isso, não ia funcionar; não dava pra fazer mal acabado, pela metade, tinha que ser o tudo ou nada [...] Pegamos todas as táticas que tinham no jogo, jogamos no lixo, e só estamos indo pra frente agora”.
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Thomas reforçou bastante que esse era o momento certo para essa mudança, e deu duas respostas diferentes quando questionado do porquê. Jogador de Football Manager, ele sempre teve vontade de aprofundar a parte tática de outro game de futebol do seu coração, mas as razões também envolvem o avanço tecnológico.
“Quando eu entrei no time, eu falei com o cara que cuidava de táticas e falei 'Olha, por que a gente não faz isso?' Não, não, não, e agora eu tive a chance. É um momento bom porque temos todos os dados, podemos olhar os dados reais das partidas e analisar todos os jogadores. A gente consegue ter muito mais processamento, mais poder, pra fazer a IA responder instantaneamente. A tecnologia chegou num lugar que a gente pode fazer tudo que a gente quer, e com o rebranding pro FC a gente tem mais liberdade pra fazer algumas coisas que antigamente”, explicou.
Thomas deu de cara com algumas paredes até chegar nesse ponto de sua carreira, responsável por uma grande feature de um dos maiores jogos do mundo. Ele não nega o medo de mexer demais com uma franquia que já tem mais de 30 anos, mas encara o desafio com um sorriso: “Só podia ser um brasileiro pra fazer isso”.