JenniferHale.com
Atriz de Mass Effect critica uso da IA generativa em jogos
Jennifer Hale é uma entre vários profissionais que ingressaram à greve SAG-AFTRA que começou em julho
Jennifer Hale, atriz que emprestou sua voz à Comandante Shepard em Mass Effect, posicionou-se contra o uso da inteligência artificial (IA) generativa nos jogos, alegando que o emprego da tecnologia pode “tirar a nossa habilidade de alimentar nossos filhos”.
Em entrevista à Variety, Hale falou especificamente sobre a capacidade da IA generativa de imitar a voz de atores sem a devida permissão, o que, para a maior parte dos adeptos da greve SAG-AFTRA começada em julho, justifica o medo de que estúdios simplesmente parem de contratar profissionais, mas ainda se beneficiem de seus talentos vocais nos videogames.
LEIA TAMBÉM
“Se você usa algo que se origina dos nossos corpos e nossas vozes, será que poderíamos, por favor, receber por isso?” – disse Hale à Variety. “Porque, desta forma, você está usando a tecnologia para nos impedir de alimentar nossos filhos”.
Jennifer Hale é uma das proponentes mais vocais da chamada “Lei Anti Fake” (“No Fakes Act”, a tradução livre é nossa). A proposta visa regulamentar o uso da inteligência artificial no que tange à sua aplicação no campo do entretenimento – onde “videogames” costumam se encaixar.
Nas muitas entrelinhas do projeto de lei, atores e apoiadores o sinalizam como uma via de proteção às suas vozes e aparências – o que é defendido por eles como suas propriedades intelectuais. Mais além, o projeto também prevê uma reformulação na base de pagamentos desses profissionais, bem como estabelece punições a pessoas e empresas que criem deepfakes com ou sem fins comerciais.
Nesta parte de remuneração,a própria Hale detalhou episódios de sua longeva carreira. Um de seus trabalhos mais conhecidos é o da voz da Dra. Naomi Hunter, uma das personagens mais importantes da franquia Metal Gear, da Konami. Segundo Hale, em um dos jogos que participou, ela foi contratada por apenas duas longas sessões onde gravou o roteiro inteiro e recebeu apenas US$ 1,2 mil (algo como R$ 6,75 mil). Conforme a Variety apontou, a marca tem hoje um faturamento próximo de US$ 180 milhões (R$ 1,01 bilhão).
“O que eu quero que todo mundo faça é continuar a perguntar as questões verdadeiras, ou seja, ‘tem muito dinheiro sendo feito aqui. Para onde isso vai?’ – e na atual configuração, na forma como nossos sistema opera hoje, e toda essa ideia de supremacia dos acionistas, [esse dinheiro] está fluindo na direção do 1%”, ela comentou. “Se você direciona esse dinheiro assim, não consegue nem mesmo alimentar as pessoas que tornaram [o produto] possível.”
Os games e a greve SAG-AFTRA
A mais recente greve do Sindicato de Atores de Cinema-Federação Americana de Artistas de Televisão e Rádio(SAG-AFTRA, na sigla em inglês) foi oficialmente declarada em 25 de julho de 2024. Assim como as greves da mesma organização em 2023, a inteligência artificial continua sendo um dos pontos mais contenciosos da paralisação.
Essencialmente, atores que participam de jogos – seja como dubladores ou em captura de movimento (mocap) – alegam que o uso não regulamentado da IA pode permitir que estúdios de desenvolvimento e publishers do setor consigam reproduzir, artificialmente, suas aparências, corpos, rostos e vozes, mas sem ter que pagar os honorários dos profissionais para isso.
Mais além, a greve também pede que o governo estadunidense estabeleça um “piso” de pagamento mais justo à categoria, que hoje é relegada à negociação “caso-a-caso”, com alta disparidade de salário. Este último ponto, aliás, também gera bastante debate: o ator de Hollywood, Kiefer Sutherland, teve tão pouco diálogo em Metal Gear Solid 5, que sua participação total nas duas partes – Ground Zeroes e Phantom Pain – soma um total de…seis minutos.
Já Jennifer Hale, apenas para o primeiro jogo em 1997 (pelo qual ganhou os US$ 1,2 mil acima), teve horas e horas de gravação e sua voz pode ser ouvida em pelo menos dois terços do jogo. Obviamente, Sutherland ganhou bem mais, para trabalhar bem menos, justificado apenas pela fama.
No Brasil, discussões similares também estão tomando forma: segundo o ANMTV, há desde janeiro de 2024 um movimento chamado “Dublagem Viva”, que pede, entre outras coisas, pela regulamentação do uso da IA.
