Assim como o de outras milhões de pessoas que praticaram – e seguem praticando – o distanciamento social em 2020, meu mundo ficou menor neste ano. Mais do que nunca, coube aos games a árdua tarefa de compensar esse encolhimento, e de ajudar a amortecer a triste distância que tive que manter de familiares, amigos e de tantas outras pessoas queridas.
Por sorte – e competência de milhares de intrépidos desenvolvedores de todo o mundo –, o que não faltou em 2020 foram títulos excelentes para jogar. Do assento do piloto de uma X-Wing à uma ilha paradisíaca habitada por animais simpáticos, frequentei dezenas de mundos fantásticos e futuristas ao longo do ano – e viajei para lugares muito além do confinamento imposto pela pandemia.
Dando sequência à já tradicional série de listas de fim de ano da equipe do The Enemy, revelo quais foram as minhas experiências favoritas do ano – enquanto, é claro, faço de conta que o desastre de Cyberpunk 2077 nunca aconteceu.
Spiritfarer
Ainda que tenha me feito chorar largado, Spiritfarer foi uma das experiências mais cativantes que tive em 2020.
Conforme acompanhava a jornada da barqueira Stella para transportar os espíritos dos mortos para o além, me emocionei inúmeras vezes com as histórias dos carismáticos personagens que povoavam meu barco – aprendendo mais sobre quem foram em vida, como morreram, quais eram suas virtudes, defeitos, medos e angústias, e o que ainda os impedia de fazer a travessia final.
Para complementar a narrativa tocante – e recheada de despedidas doídas –, Spiritfarer também traz um visual vibrante e encantador, uma trilha emocionante, e um loop de jogabilidade simples e divertido – que lembra títulos como Harvest Moon ou Stardew Valley.
Como seus próprios desenvolvedores definem, a proposta de Spiritfarer é ser um “um jogo de gerenciamento reconfortante sobre a morte”. E não há dúvidas que essa proposta foi cumprida.
Divulgação/Thunder Lotus Games
Animal Crossing: New Horizons
Tirei férias em abril deste ano, poucos dias após São Paulo decretar o início de seu lockdown como parte dos esforços de combate à pandemia da Covid-19. Sem poder sair de casa ou encontrar amigos, coube a Animal Crossing: New Horizons a tarefa de me fazer companhia nas semanas de ócio que se seguiram. E não poderia ter escolhido uma companhia melhor.
Isolado em casa, fui transportado por New Horizons para uma das experiências mais prazerosas do ano, onde pude me dedicar ao design e construção da minha própria ilha paradisíaca enquanto realizava tarefas diárias divertidas para ajudar vizinhos amistosos como Isabelle e Blathers.
É verdade que, para antigos fãs da série, New Horizons não trouxe nada revolucionário em termos de gameplay. Ainda que extremamente detalhado e caprichoso, o jogo é só a mais nova iteração de uma franquia que já é querida há anos por fazer exatamente o que New Horizons faz.
Mas é também impossível negar que New Horizons foi o jogo ideal para oferecer o escapismo de que todos precisávamos frente à realidade sombria que se abateu sobre o mundo neste ano – além, é claro, de aproximar milhares de jogadores em uma comunidade positiva através de seu multiplayer, encantando outros milhões através de seu mundo e personagens adoráveis.
Divulgação/Nintendo
Hades
Em 2017, Pyre foi um dos meus lançamentos favoritos do ano. Depois de Bastion e Transistor, a Supergiant Games repetia sua fórmula de “ótima jogabilidade, arte fantástica e trilha sonora de chorar”, e emplacava naquele ano o seu terceiro título de sucesso. Hades repete tudo isso, mas vai muito além.
O mais recente jogo da produtora independente é seu mais ambicioso e ousado até hoje, e aposta na combinação inusitada entre um hack and slash intenso do gênero roguelike com uma narrativa envolvente – e recheada de personagens carismáticos – que evolui a cada nova tentativa. É um loop viciante e extremamente satisfatório de gameplay, capaz de prender até mesmo aqueles que não são entusiastas deste estilo de jogo.
Combine tudo isso ao capricho que já é característica marcante da Supergiant – que trilha, meus amigos! –, e o resultado é uma das experiências mais fascinantes do ano. Não à toa, Hades partiu para as cabeças e disputou o título de jogo do ano em pé de igualdade com outros lançamentos AAA de 2020. E merecia ter levado o caneco.
Divulgação/Supergiant Games
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Immortals Fenyx Rising
Como expliquei na nossa lista das grandes surpresas de 2020, Immortals Fenyx Rising foi um jogo que entregou algo bem diferente do que eu esperava. Muito de seu gameplay lembra o de The Legend of Zelda: Breath of the Wild, é verdade. Mas Breath of the Wild não é um jogo ótimo? Pois é. Immortals também.
Com um mundo aberto exuberante que estimula e recompensa a exploração, o título da Ubisoft Quebec foi rápido em me envolver em sua jogabilidade divertida, roteiro recheado de galhofa e nas interpretações cartunescas de contos clássicos da mitologia grega.
Além disso, o jogo é uma adição bem-vinda ao catálogo de jogos pouco inovadores e sisudos de mundo aberto que a Ubisoft investiu nos últimos anos, e uma potencial nova direção para a publisher apostar com títulos futuros.
Divulgação/Ubisoft
Star Wars: Squadrons
Não é todo ano que fãs do elusivo gênero de “jogos de navinha” ganham um título inédito para celebrar seu amor por combates frenéticos pelo espaço sideral. Graças à EA Motive, 2020 foi um destes anos.
Squadrons resgata a essência de clássicos do gênero, como Star Wars: X-Wing vs. TIE Fighter e a série Rogue Squadron, e atualiza esse estilo de jogo para plataformas modernas, dando uma nova oportunidade para jogadores pilotar caças icônicos do universo de Star Wars em embates empolgantes e em um multiplayer intenso.
É um título de pequena escala e que tropeça em uma campanha single player rasa, mas que ainda traz um gameplay extremamente recompensador e divertido, e que – com sorte – dará um novo fôlego a esse gênero de jogo que poderia ser tão melhor explorado pela indústria. Pew pew 🚀
Divulgação/Electronic Arts