O gênero de plataforma é um dos mais peculiares nos games. A simplicidade em pular de um piso para outro sem cair pode se transformar em aventuras complexas e de altíssima dificuldade. O grande desafio para desenvolvedores que desbravam esse formato é encontrar algo de novo, e que não pareça tanto assim com outros títulos estabelecidos, ao mesmo tempo que é necessário ajustar todos os comandos e mínimos pixels para que a experiência do jogador seja satisfatória. MainFrames, jogo de estreia do estúdio Assoupi, é uma ótima síntese de tudo isso.
O jogador controla Floppy, um simpático disquete que se encontra em uma situação nada usual. Dentro de um ambiente digital, ele não tem uma função específica a ser cumprida — algo que espera-se que seja intrínseco a daemons como ele. Em busca de descobrir qual é o seu papel, o protagonista desbrava todos os cantos de um sistema operacional enquanto encara desafios cada vez mais complexos.
Pela própria designação de seu personagem principal, é fácil perceber que MainFrames usa bastante da linguagem técnica de programadores. Daemons, por sinal, são programas que rodam “no background” de um computador, sem interagir necessariamente com um usuário. Ironicamente, Floppy é controlado pelo jogador, quebrando essa regra.
A premissa por si só já é suficiente para que o game supra uma das grandes necessidades do gênero: os gráficos pixelados e até as bordas da tela deixam o jogador em uma posição curiosa. É nítido que há um mundo para além daquilo que está sendo mostrado no jogo, mas para descobri-lo é necessário prestar atenção em detalhes mínimos e buscar todos os cantinhos possíveis escondidos nos cenários do game.
Para chegar a esses cenários, é obrigatório resolver uma infinidade de quebra-cabeças de plataforma, onde fica a segunda grande aposta do estúdio Assoupi. Sem explicar muito de suas próprias mecânicas, o game coloca a responsabilidade de descobrir como cada elemento funciona nas mãos do jogador, o que pode ser tão satisfatório quanto frustrante, especialmente em um projeto único como esse.
Seguindo a temática, clicar em ícones, posicionar barras e aumentar ou diminuir janelas são algumas atividades requisitadas para avançar. A cada capítulo, novas possibilidades se apresentam e aprofundam cada vez mais a natureza complexa do jogo; pequenas sidequests de resgate de outros daemons reforçam ainda mais esse aspecto, introduzindo quebra-cabeças com propostas únicas, assim como minigames que refrescam um pouco a urgência de passar logo para a próxima tela.

A ousadia mecânica acompanha a ambientação do jogo. Logo em uma das primeiras fases, ao morrer algumas vezes em um desafio, o game me perguntou se eu estava mesmo seguindo o caminho mais fácil — e eu não estava. Esse simples comunicado se autorreferencia subliminarmente em outras sequências, especialmente em uma das fases mais difíceis do game, que tem uma solução simples e dolorosamente óbvia, trazendo de volta a dita mensagem, em letras garrafais, para a minha mente.
Dessa maneira, MainFrames se mantém fresco durante suas quatro horas de campanha. Ainda assim, a frustração marca presença em determinados momentos.
A não-explicação das mecânicas pode resultar em sequências quase desesperadoras, onde o jogador vai pensar várias vezes que não é possível que está fazendo o que é certo naquele momento. Há também alguns poucos momentos em que o polimento podia ser melhor, especialmente na sequência final, o que acaba deixando um gosto amargo ao fim de uma campanha tão divertida.

Ainda que pequeno, MainFrames ousa bastante e colhe os frutos de suas apostas para o bem e para o mal. Jogos de plataforma precisam dessa postura para conseguirem algum sucesso, e o game supera essa barreira com poucos tropeços no caminho.
O último capítulo tem, sim, uma mecânica frustrante e que poderia ser bem mais responsiva, mas isso não deleta a excelência dos outros sete. Se isso não fosse suficiente, o game ainda conta com uma subversão totalmente inesperada em seus minutos finais, deixando o jogador com muito mais perguntas do que respostas na cabeça, instigando-o a revisitar as fases do jogo para tentar entender o que está acontecendo.
MainFrames é uma boa escolha para quem quer um jogo simples e desafiador para matar o tempo. As pouco mais de quatro horas de campanha passaram sem pesar muito, e mesmo que haja alguns pontos de melhoria nítidos, amantes do gênero plataforma certamente se encontrarão no jogo.

- Lançamento
06.03.2025
- Publicadora
Dotemu
- Desenvolvedora
Assoupi