Tales from the Borderlands é meu jogo favorito de Borderlands.

O que não é necessariamente algo difícil de se fazer, já que minha impressão geral da franquia sempre foi um grande "... é OK, acho". É difícil não elogiar as mecânicas de tiro, ou a inventividade das armas criadas pelo time da Gearbox Software, assim como o impacto cultural do jogo ao popularizar o conceito do "looter shooter".

Por outro lado, o universo, narrativa e personagens criados para os jogos principais nunca me prenderam a atenção, e acho o senso de humor chato, beirando o insuportável.

Borderlands 3 - Claptrap

Tudo envolvendo Claptrap me dá cansaço e dor existencial

Gearbox Software/Reprodução

Mas a união com a Telltale Games original — um estúdio com um legado de alguns bons jogos (The Walking Dead, The Wolf Among Us), alguns péssimos jogos (Game of Thrones, Jurassic Park) e um mar de mediocridade — trouxe o melhor dos dois mundos, combinando as bizarrices e senso de humor da Gearbox com personagens carismáticos, divertidos e surpreendentemente cativantes.

A jornada de Rhys, Fiona e seus companheiros conseguiu, inesperadamente, conquistar pessoas que não teriam interesse em spin-offs da franquia, como eu ou (especialmente) meu bom amigo PH Lutti Lippe.

Infelizmente, o jogo vendeu mal (ou pelo menos abaixo do esperado), e a Telltale original fechou alguns anos depois.

Por isso, faz sentido que tenha levado quase uma década para um novo Tales from the Borderlands ser lançado, e sob circunstâncias bem diferentes de como surgiu o original.

E, após assistir uma demo de gameplay de New Tales from the Borderlands, está bem claro que todo o humor e estética do jogo ficam mais para o que a Gearbox fez com a série principal do que o que ela e a Telltale fizeram com o jogo anterior.

New Tales from the Borderlands
Gearbox Software/Reprodução

New Tales from the Borderlands está sendo desenvolvido primariamente pela própria Gearbox, via seu estúdio de Québec, e como o produtor Frédéric Scheubel definiu em entrevista com o The Enemy, esse novo jogo é mais um "sucessor espiritual" do que uma sequência direta ao jogo de 2014.

O jogo se passa um ano após os eventos de Borderlands 3 no planeta Promethea, que é tomada pela corporação Tediore, que busca abrir um Vault.

Em meio ao caos que isso gera, a aventura é focada em três personagens centrais: Anu, uma cientista que abomina violência; Octavio, o irmão de Anu que busca fortuna e glória; e Fran, dona de uma loja de frozen yogurt e desafeta de megacorporações.

No trecho mostrado, o trio explora os esgotos de Promethea, seguindo nos passos dos soldados da Tediore. O jogador tem a opção de seguir a estratégia do Octavio, que é focada mais em furtividade, ou o caminho de Fran, que é mais na base da porrada.

Se você jogou um adventure desenvolvido pela Telltale, o formato é bem familiar: você escolhe diferentes diálogos, alguns com um timer para dar uma tensão extra, que podem ter impactos na narrativa no curto, médio e longo prazo.

Além disso, você precisa fazer realizar quicktime events (ou QTE) para fazer certas ações, podendo falhar em alguns casos, ou causar game over em outros.

Durante a demo e em papo com o The Enemy, a chefe de roteiro da Gearbox, Lin Joyce, reforçaram que trabalharam em conjunto com veteranos da Telltale que trabalharam no jogo original.

Joyce destacou especialmente como essas pessoas ajudaram a encontrar "a fórmula — quais eram as filosofias que eles poderiam trazer à mesa em termos de como fazer um adventure com história interativa", assim como elementos do roteiro, mas no geral o jogo aparenta ter a personalidade da Gearbox.

E, infelizmente para mim, isso significa que o senso de humor não bateu bem.

A demo seguiu principalmente o caminho de Octavio, que por ser furtivo trouxe a oportunidade para fazer piada com os sistemas e mecânicas de Metal Gear Solid, com direito ao personagem se escondendo em uma caixa para despistar um inimigo.

New Tales from the Borderlands
Gearbox Software/Reprodução

O que seria um tanto batido em 2017, quando MGS V: The Phantom Pain foi lançado, quem dirá agora em 2022. Os próprios desenvolvedores fizeram piadas sobre a mecânica de caixas pelo menos desde os tempos de Metal Gear Solid 3, que a esse ponto já tem quase 20 anos.

Além disso, não quero fazer nenhum julgamento precipitado, mas tanto no trailer quanto na demo os personagens centrais não me prenderam muito, parecendo muito mais caricatos do que Rhys e Fiona.

Obviamente, isso pode mudar ao interagir mais com eles, mas até agora eles são mais um exemplo do senso de humor da série, o que não me atrai.

Mais do que isso, o que foi mostrado do jogo me parece bem... básico para um adventure moderno, não mostrando opções de interagir com o ambiente, conversas opcionais ou outras coisas que até os próprios jogos da Telltale tinham.

Não posso dizer que elas não estão no jogo, mas se estão acabaram ficando de fora da demo.

Uma adição de gameplay foi o minigame Vaultlanders, uma espécie de jogo de bonecos por turno em que o jogador enfrenta o oponente, com QTEs aparecendo para fazer seus ataques ou defesas.

New Tales from the Borderlands
Gearbox Software/Reprodução

Me pareceu até divertido, mas não tenho ideia de quantas vezes ele pode aparecer.

O que não quer dizer que a Gearbox não tenha trazido novidades, especialmente em termos de acessibilidade, com Scheubel detalhando um sistema de acessibilidade para quem quiser customizar a experiência, incluindo aumentar o tempo dos QTEs.

Joyce também falou sobre uma narrativa mais ambiciosa, com cinco finais diferentes dependendo das suas escolhas e caminhos percorridos durante o jogo.

No geral, New Tales from the Borderlands não me trouxe uma boa primeira impressão, especialmente vindo de alguém que gostou tanto do jogo original. Mas estou sempre disposto a dar uma chance para ver o jogo completo antes de me decepcionar.

Especialmente tendo ouvido coisas boas de Tiny Tina's Wonderlands.

New Tales from the Borderlands sai em 21 de outubro para PC, PS4, PS5, Xbox One, Xbox Series X/S e Nintendo Switch. Assim como Life is Strange: True Colors, o jogo tem formato episódico, mas com todos disponíveis de uma vez.