Quase duas décadas após seu lançamento, Mafia: City of Lost Heaven promete ganhar um remake robusto, apresentando a história de Tommy Angelo e sua ascensão e queda no mundo do crime para fãs de longa data e uma potencial nova audiência.

Quando foi lançado em 2002, o jogo original impressionava pela qualidade gráfica, trabalho de voz e narrativa em relação a outros títulos da época - sem falar na trilha sonora, com composições como o tema original e a música de perseguição que ainda reverberam na minha cabeça todos estes anos depois.

Com estes 18 anos, porém, muitos jogos aprenderam e evoluíram com a fórmula do jogo, ao ponto de ser uma experiência difícil de lidar para muitos jogadores, especialmente um público mais jovem: os gráficos e o trabalho de voz definitivamente envelheceram, o ritmo das missões é um tanto enrolado para os dias de hoje, e o mundo não é mais tão vivo quanto até mesmo outros games da série.

Sendo assim, fiquei curioso e interessado com o anúncio de Mafia: Definitive Edition, um remake que retrabalha todos os aspectos do game original para a atual era de PC e consoles.

E, após testar algumas das missões do jogo à convite da 2K Games, a impressão geral é positiva, mas agora com um interesse pessoal em alguns dos rumos que a Hangar 13 quer trazer à história.

Mafia: Definitive Edition segue o mesmo arco narrativo do jogo original, com o protagonista Tommy Angelo recontando sua história para um detetive policial na cidade de Lost Heaven, inspirada na Chicago dos tempos da Lei Seca dos EUA dos anos 1930.

Por meio do depoimento de Tommy, podemos ver sua ascensão no mundo do crime ao ir de um pacato taxista até um perigoso membro da Família Salieri, assim como a guerra com a gangue rival liderada por Don Morello.

O gameplay do remake de Mafia não se difere radicalmente de Mafia III, com um combate em terceira pessoa acessível e funcional, mas sem trazer nada de particularmente revolucionário.

O grande diferencial vem nas armas, bem mais rudimentares no período pré-Segunda Guerra Mundial, tornando o arsenal de Tommy um pouco mais limitado e as balas um pouco mais preciosas - particularmente na dificuldade Clássica, em que o jogador deve tomar cuidado para recarregar antes da hora, já que qualquer munição restante não-disparada é perdida.

Os elementos de furtividade trazidos do jogo anterior também dão oportunidade ao jogador de se adaptar e tentar diferentes táticas ao enfrentar seus inimigos.

As mecânicas de direção também são bem típicas de um jogo de terceira pessoa em mundo aberto dos tempos atuais, mas com carros com mobilidade bem menos graciosa do que veículos modernos.

Assim como no original, também é possível manter a velocidade abaixo do limite permitido para não chamar atenção da polícia, mas em geral mesmo quando um guarda ou carro percebia o carro em velocidade, foi relativamente fácil de despistá-los nas horas em que joguei.

Toda a cidade parece mais viva e bem realizada, com os pedestres mais ativos e o design e estética das ruas, prédios e veículos trazendo uma sensação quase nostálgica e perdida deste período da História, já com quase cem anos de distância.

O atrativo principal de Mafia: Definitive Edition, porém, está em sua história e a forma em que ela é contada, e é possível ver que a Hangar 13 tentou ser fiel à estrutura do original, mas com suas próprias mudanças e ideias de como aprofundar a narrativa - alterando algumas caracterizações de personagem no processo.

Há um tom bem mais agressivo logo de cara dentro do jogo, desde a interação entre Tommy e o detetive até o sequestro que dá início à história. O novo Mafia parece ter um tom bem mais pesado do que a versão de 2002, que já não era particularmente leve.

Tommy, por exemplo, não parece ser tão inicialmente ingênuo e tranquilo como sua contraparte do original, tendo uma atitude bem mais agressiva e vingativa logo de cara - é por exemplo, aqui é ele quem propõe destruir os carros de Morello como retribuição pela quebra de seu táxi, e não Salieri.

É uma direção interessante para seguir com o personagem nesta versão, e espero que os roteiristas consigam fazer um equilíbrio para não torná-lo violento e inconsequente demais, como achei que acabou acontecendo com Vito em Mafia II (ainda que saiba que este era o ponto daquela história).

Outra personagem que parece receber uma expansão considerável e bem-vinda é Sarah, interesse romântico de Tommy que no original aparecia por uma ou duas vezes - incluindo uma cena de sexo que já era um tanto vergonhosa na época -, mas que aqui é uma figura bem mais presente, ajudando seu pai com o bar e conversando e flertando com o protagonista, além de servir como compasso moral por vezes.

Duas mudanças mais questionáveis para mim (pelo menos até este ponto) estão em Paulie e Sam, os dois capangas da Família Salieri que levam Tommy para o mundo do crime e tornam-se seus principais aliados.

Paulie, por exemplo, ainda mantém o papel de gângster mais amigável para Tommy, mas há definitivamente um elemento maior de "Joe Pesci em Os Bons Companheiros" nesta versão do personagem: ele é abertamente mais agressivo e rude com diversos personagens - em particular Ralphie, o mecânico da gangue -, e seus aspectos mais inconsequentes parecem ter tomado mais foco do que em relação ao original.

Sam, por sua vez, não tem mais necessariamente o estilo mais distante e profissional do personagem original, sendo às vezes quase difícil de diferenciar com Paulie.

Isso não é necessariamente um problema, e há bons momentos especialmente entre Paulie e Tommy, mas deixa questões sobre como eles seguirão os pontos da história com estas novas atitudes dos personagens.

E no fim do teste, era o que mais queria saber: como o resto da história será adaptada. Em teoria eu sei o que espera Tommy, Paulie, Sam, Frank e Salieri, mas rever esses personagens (mesmo com um verniz diferente) me fez ansioso em rever como esta narrativa vai se desenrolar desta vez, e como as missões clássicas foram repensadas.

Neste quesito já tive a oportunidade de testar a memorável fase da corrida de carros, que ao meu ver parece um mais desafiadora desta vez (e Deus te ajude se tentar começar no modo Clássico, como eu tentei), e com o benefício extra de ouvir os xingamentos e choque dos outros pilotos ao serem ultrapassados por você.

Para fãs mais antigos ou novos interessados, Mafia: Definitive Edition sai em 25 de setembro para PC, PS4 e Xbox One.