Foi alguns anos depois dos grandes sucessos da série GTA no PlayStation 2 que o estúdio Volition lançou o primeiro Saints Row. O diferencial desse sandbox urbano de 2006 estava em oferecer mais liberdade para realizar as missões, mais elementos caóticos e absurdos na jogabilidade e um foco maior na guerra de gangues. Essa combinação fez com que o game ganhasse seu próprio espaço e logo virasse uma franquia.
Enquanto Saints Row 2 continuava no no mesmo tema, Saints Row: The Third investia mais no ridículo e em uma narrativa muito mais leve do que nos capítulos anteriores. Já Saints Row IV perdeu todo interesse na sobriedade e colocou o protagonista na presidência dos Estados Unidos, lutando contra uma invasão alienígena e ganhando superpoderes.
A série encerrou sua primeira década com o epílogo Gat Out of Hell, que levava os protagonistas ao inferno, e com o derivado multiplayer Agents of Mayhem que infelizmente não vingou. Mas em 2022, nove anos desde o último capítulo principal da franquia, a Volition está trazendo Saints Row de volta em um reboot.
E a Deep Silver, que publica o jogo, convidou o The Enemy pra ir os Estados Unidos, em Las Vegas, pra jogar cerca de 4 horas da campanha. Minhas primeiras impressões depois de testar o game você confere a seguir — com alguns spoilers do início do jogo.
Seja quem você quiser em Santo Ileso
O playground de Saints Row é uma cidade fictícia do sudoeste dos Estados Unidos chamada Santo Ileso e que é inspirada em cidades reais da região como Las Vegas. E assim como em jogos anteriores, existem no local três gangues dominantes:
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Os Marshalls, uma organização paramilitar bem armada com tecnologia de ponta;
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Os Panteros, um grupo de marombeiros que usam força bruta e são aficionados por carros;
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Os Ídolos, uma seita de clubbers que usam neon e atacam em grandes bandos.
Você joga com um personagem customizável apelidado de “The Boss”. Esse chefe ou chefa pode ser de qualquer etnia ou gênero — algo que de certa forma já existe desde o segundo jogo.
O reboot oferece uma quantidade razoável de opções. Você pode, inclusive, experimentar agora essas customizações baixando a demo Boss Factory no seu console ou PC, de forma gratuita, e depois usar esse personagem no jogo, quando ele for lançado.
A coisa mais interessante sobre a personalização é que você pode mexer nela em praticamente qualquer momento do game. Se a cada sessão você quiser refazer seu boneco do zero, você pode.
Empreendimento gângster
A história é ambientada num futuro próximo e você começa vivendo seu primeiro dia de trabalho como um mercenário novato da Marshall. É o tutorial básico de mecânicas de tiro. Ali são apresentados os comandos essenciais de combate, esquiva, movimentação e as finalizações.
Um medidor te entrega de tempos em tempos a possibilidade de acabar com um inimigo, com variedade de execuções especiais sendo desbloqueadas.
Depois de sua primeira missão, você não recebe um esperado bônus em dinheiro e volta pro seu apartamento com um tutorial de direção de veículos.
O protagonista divide apartamento com mais três colegas: Kevin, Eli e Neenah. E o que eles têm em comum é viver sem dinheiro e ter talento para praticar crimes.
Depois de assaltar um local com seus amigos, o protagonista vai em mais um trabalho da Marshall pra destruir um comboio. A gangue dos Panteros está envolvida e matar esses caras estremece sua relação com a Neenah, que faz parte desse grupo.
Porém, o sucesso da missão te garante uma promoção dada pelo próprio chefe da organização Marshall. Entre esse e o próximo serviço, você acaba entrando em conflito também com os Ídolos, com quem seu amigo Kevin tem uma ligação.
Todas essas tensões acabam explodindo na próxima missão da Marshall, na qual é preciso proteger uma antiguidade em um evento social. Tantos os Panteros quantos os Ídolos invadem o local na mesma noite e, apesar de sobreviver à batalha… Você falha no seu trabalho e é demitido.
No meio de toda essa confusão, as relações de Neenah e Kevin acabam sendo cortadas com suas respectivas gangues. E, numa missão de resgate, os amigos percebem que são muito bons no que fazem e decidem parar de trabalhar para outros grupos de criminosos e formar sua própria gangue, os Saints.
Um reboot familiar
O anúncio de Saints Row em 2021 veio acompanhado de controvérsia. A internet reagiu mal ao trailer conceitual que mostrava a nova versão dos Saints, dizendo que a proposta estava errada, que os protagonistas não pareciam gangsters, que o reboot era da “lacração”… E no fim, acho que essa galera precisava jogar o jogo antes.
Pessoalmente, eu achei a voz da Boss padrão, aquela do material de divulgação, meio irritante, mas assim que eu modifiquei o personagem… o game funcionou melhor pra mim. E está tudo bem. É possível montar seu boneco e fazer seu próprio jogo, com suas próprias decisões.
Dito isso, essa é uma história cômica. Houve momentos nesse trecho inicial em que essa veia satírica funcionou muito bem pra mim e momentos em que não funcionou – o que me deixou curioso pra ver como tudo se desenrolaria, já que 4 horas foi apenas uma breve introdução a esses personagens.
O novo Saints Row é um retorno às raízes dos primeiros dois jogos, com a briga de gangues sendo o principal aspecto da trama, mas ele também preserva o tom mais leve dos dois últimos. Além disso, ele é um game menos "maluco", mas está longe de ser realista.
Existem várias outras atividades paralelas pra realizar, um multiplayer cooperativo, que promete criar vários momentos inusitados, e dezenas de horas de conteúdo que infelizmente não tive acesso.
Questões de gameplay
Apesar da jogabilidade de combate armado não oferecer nada extraordinário à primeira vista, outras mecânicas como o chute e as finalizações dão mais profundidade às batalhas.
A mobilidade também tem seu charme. Como o jogo não tem muito compromisso com o realismo, a física permite muito mais manobras malucas, já que veículos e objetos são mais leves e explodem mais facilmente.
Porém, eu senti que os NPCs não respondiam adequadamente. Apesar de ter brincado bem pouco com essas interações, algumas pessoas da cidade ficavam imóveis em situações que não deveriam. Resta esperar que o polimento que deve ocorrer até o lançamento resolva o problema.
A volta dos jogos de sandbox urbano
Saints Row emana a mesma energia daqueles sandboxes urbanos de criminoso da velha guarda — mas no bom sentido. Esse é um gênero que chegou a ficar saturado nas sexta e sétima gerações de consoles (PS2, Xbox, PS3 e Xbox 360), mas agora praticamente não se vê mais nada de novo dele além de atualizações de GTA Online.
Aliás, esse reboot, quando se fala da balança de sobriedade e nonsense, tá em algum ponto de equilíbrio entre os últimos Saints Row despirocados e Grand Theft Auto, mas deve agradar os órfãos da franquia da Rockstar enquanto o próximo jogo principal não chega. Contudo, Saints Row tem seu próprio tempero e, apesar de não ter visto o jogo todo, eu fico feliz que a série esteja de volta.
Saints Row tem lançamento agendado pra 23 de agosto de 2022, com versões para PlayStation 4 e 5, Xbox One e Series X|S, e PC, via Epic Games Store. E, é claro, assim que ele chegar em sua versão final, você encontra a review completa aqui no The Enemy.