Se em 2017 Assassin’s Creed Origins engatinhou em direção ao mundo dos RPGs, agora a série mergulha de cabeça no gênero, colocando as rédeas da história nas mãos dos jogadores de Odyssey.
Em um evento realizado pela Ubisoft em San Francisco, o The Enemy teve a chance de experimentar as primeiras cinco horas da nova aventura, que logo de cara prova que todas as conversas da produtora sobre querer com que as escolhas dos jogadores importem não são da boca pra fora.
O jogo sai no próximo dia 5 de outubro para PlayStation 4, Xbox One e PC, totalmente em português do Brasil.
Odyssey começa 400 anos antes do surgimento dos primeiros assassinos, como visto em Origins, quando a região que hoje conhecemos como Grécia estava prestes a ser rachada por um conflito brutal entre Atenas e Esparta. O jogador participará ativamente da Guerra do Peloponeso, podendo escolher seu lado nas batalhas por territórios.
Antes disso, porém, o jogador precisa fazer uma outra escolha ainda mais vital: qual pele ele vestirá durante o que está por vir. Odyssey, pela primeira vez na série, oferece a escolha de dois protagonistas: Alexios ou Kassandra. Diferente de como era em Syndicate, no qual uma dupla de heróis se alternava, aqui a escolha é para valer, entre um ou outro.
Como Alexios ou Kassandra, as oportunidades apresentadas aos jogadores são quase todas as mesmas (incluindo as de romance). Mas a escolha é um sinal claro de que a Ubisoft Quebec quer que as pessoas se sintam no controle da história – algo que nunca tinha acontecido antes em um Assassin’s Creed.
"Nos capítulos anteriores, os jogadores acompanhavam a história de uma maneira passiva, como um mero espectador dos eventos. Em Odyssey, isso é diferente: tudo neste jogo é sobre escolha. Essa é uma palavra que falamos o tempo todo," explica a diretora de narrativa, Melissa MacCoubrey.
Homem ou mulher, Atenas ou Esparta – algumas das escolhas que o jogador fará são bem evidentes. Outras, nem tanto. No início de nosso teste, Kassandra passou por pequeno vilarejo que tinha sido destruído por chamas, e seguiu os chamados de socorro. Um homem ameaçava matar os poucos habitantes do local que ainda estavam vivos – inocentes que, segundo ele, estavam afetados por um mal oculto. A mercenária optou por salva-los.
As consequências de tal escolha só ficaram claras várias horas depois: praticamente todos os habitantes da ilha morreram, e com eles, um enorme leque de missões secundárias não cumpridas. As pessoas do vilarejo estavam com uma infecção contagiosa, que acabou se espalhando por causa da clemência da heroína.
Melissa revela que o jogador que resolver sacrificar os inocentes contaminados também tem que lidar com outras consequências: a jovem Phoibe, que idoliza a protagonista como uma irmã mais velha, acaba perdendo parte do respeito que tem por ela.
Enquanto as missões opcionais de Origins eram apenas tediosas, as equivalentes em Odyssey são interessantes e envolventes, simplesmente por causa do acréscimo do fator escolha.
Conversas que em outros jogos da série acabariam com o protagonista acenando passivamente com a cabeça aqui tomam rumos inusitados e até engraçados dependendo da resposta selecionada pelo jogador. Chega de ouvir quieto as reclamações de um NPC folgado: retruque em um tom de ameaça e veja-o se recolher a sua insignificância.
Com a segurança de que suas escolhas podem alterar o rumo da história, ou na pior das hipóteses apenas render um diálogo divertido, o jogador tem mais tranquilidade para enfrentar a colossal tarefa de explorar todo o mundo do jogo – potencialmente maior até mesmo que o de Origins.
Para preencher os espaços entre grandes cidades e acampamentos atenienses ou espartanos, Odyssey aposta na mesma moeda que fez de Black Flag um favorito entre fãs da série. Combates navais voltam a ser um fator importante na jornada, já que uma vastidão azul separa as ilhas que formam o arquipélago grego.
Desta vez, o jogador pode personalizar seu barco – a Adastreia – como administra as habilidades e equipamentos do próprio protagonista. É até mesmo possível recrutar inimigos e personagens-chave encontrados durante a história para sua tripulação; cada um tem uma raridade e rende bônus de atributos diferentes.
Após acabar com a barra de vida de uma embarcação rival, o jogador tem a opção de invadi-la a pé para matar o resto da tripulação e saquear todas as suas riquezas, ou então apenas lança-la em direção ao fundo do mar.
Em terra, Odyssey melhora em relação a seu predecessor ao dar contexto a todas as atividades e missões realizadas por Alexios ou Kassandra. A cada nova área, o jogador pode perseguir, assassinar, destruir e roubar em nome de Atenas ou Esparta, lentamente enfraquecendo as forças de um lado em preparação para um grande confronto final.
A exploração de cada área do game acaba com uma batalha de conquista, na qual o jogador tenta defender ou tomar território ao lado dos exércitos das facções em guerra. Defender é mais fácil; mas até mesmo roubar território espartano, por exemplo, pode ser uma tarefa tranquila quando os generais mais poderosos que o defendem já foram mortos em emboscadas.
Um objetivo tangível como a conquista de um novo território serve como uma grande motivação para que o jogador explore cada ícone no mapa – algo que fez muita falta em Origins. Além disso, cada batalha de conquista rende equipamentos poderosos e benefícios específicos para cada uma das facções.
Todas as novidades não mudam o fato de que Odyssey está para Origins como Brotherhood estava para Assassin’s Creed II. Apesar da nova árvore de habilidades, o combate ainda é um desengonçado híbrido entre as origens da série e Dark Souls. O stealth ainda é limitado pelo fato de que inimigos de nível mais alto não morrem quando ‘assassinados’. E ativar a visão de águia para mapear inimigos e objetivos ainda parece uma infeliz, porém necessária trapaça.
Mas elas também servem como prova de que Assassin’s Creed Odyssey não é a Ubisoft mais uma vez se acomodando após achar uma fórmula de sucesso: o game tem a ambição e, ao que as primeiras horas indicam, a qualidade para deixar Origins comendo poeira.