O Brazil's Independent Games Festival (BIG) ainda está rolando em São Paulo e durante a feira, o The Enemy teve oportunidade de conversar com Gustavo Steinberg, diretor do evento.
Um dos questionamentos que fizemos foi referente à carta aberta que os desenvolvedores direcionaram ao BIG Festival no ano passado. “A gente teve aquela grande conversa, a gente ouviu bastante quais eram as principais reclamações”, afirmou Gustavo.
Segundo o diretor do festival, um espaço maior para contribuições em palestras foi aberto depois de toda essa conversa. A Panorama Brasil, a parte de jogos “não competitivos” do BIG Festival - isto é, jogos que, embora sejam excelentes, não entraram na competição - também foi integrada ao evento.
Por fim, Gustavo ainda cita que os critérios para a seleção de jogos foram colocadas de forma mais clara neste ano, seguindo um dos pedidos da carta dos devs.
Gustavo atribui parte dessas imperfeições passadas à sua estrutura de produção, o que indiretamente afeta a comunicação do evento com os desenvolvedores.
De acordo com o diretor do BIG Festival, a estrutura de produção do evento é muito pequena. “Às vezes eu que entro no e-mail e fico respondendo os tickets do help desk”, exemplifica Gustavo.
“A gente faz tudo meio junto. Obviamente quando chega a época do evento a gente tem uma equipe mais parruda, né”, o diretor explica em entrevista.
Um hub de descobertas
Gustavo também destacou que o BIG Festival recebeu neste ano mais de 120 estrangeiros. “Mais de 2/3 deles vieram [ao Brasil] por conta própria”, comenta o diretor da feira.
Ele também cita que os estrangeiros preferem vir ao nosso país, quando o assunto é evento de games. “A gente está se consolidando como um hub de negócios na América Latina”, explica Gustavo.
Para exemplificar, o diretor cita uma aproximação com outros eventos do segmento, como o Nordic Game Discovery Contest, principal evento voltado a negócios de games do norte da Europa, que acontece na Suécia.
Neste evento, a curadoria faz um tour por vários países e seleciona os melhores projetos de jogos. O BIG Festival 2019 é o primeiro evento do Brasil em que eles escolheram um game indie brasileiro para participar da iniciativa.
A grande final acontece apenas em maio do próximo, mas vale apontar a grande visibilidade que o projeto final irá ganhar, caso vença a competição.
“A gente é a Artists Alley da Comic Con, só que de games”, brinca Gustavo para mostrar como o BIG Festival tem se consolidado como um hub de descobertas.
Expansão nas parcerias
O diretor do BIG Festival também cita a parceria com o Humble Bundle em meio às mudanças do evento. Essa ação conjunta consiste em um concurso feito exclusivamente com devs latino-americanos, o Humble BIG New Talent.
Ele também cita o Google Day acontecendo dentro do BIG Festival; e uma ampliação na parceria com o Facebook Gaming que possibilitou uma Game Jam exclusiva com 10 estúdios brasileiros de games.
Essa Game Jam acontece no BIG Festival 2019 em meio ao espaço voltado para negócios e o público pode assistir aos desenvolvedores.
Além disso, o acontecimento contará com intervenções de profissionais do Facebook com dicas sobre como otimizar os games para as redes sociais, dentre outros.
Por fim, Gustavo ainda cita o concurso de cosplays em parceria com a Live Arena. Para participar, basta publicar uma foto do cosplay no Instagram com a hashtag #livearena e quem tiver mais likes ganha uma bolsa de estudos de um novo curso voltado à área cosplay.
“Existem validações internacionais e nacionais basicamente porque a gente vem mantendo um trabalho consistente de curadoria ao longo dos anos”, explica Gustavo.
Sobre a mudança de local
Ao longos dos últimos anos, o BIG Festival sempre acontecia (quando em São Paulo), no Centro Cultural São Paulo (CCSP). Neste ano, o evento acontece no Clube Homs.
“A gente já se consolidou como hub de negócios, mas sempre fomos voltados ao comércio também, desde a primeira edição. Tem o espaço de visitação, aberto para o público. Agora, as marcas não perceberam isso claramente ainda”, brinca Gustavo.
A mudança de local do BIG Festival foi um ato mais estratégico do que necessário, uma vez que o Centro Cultural não permitia um espaço para lojas, por exemplo, por conta do tipo de parceria feita com o evento.
Ir para um espaço privado e menor, parece ter resolvido esta questão, pelo que explicou Gustavo. Além disso, o Clube Homs comporta menos pessoas e isso significa não apenas uma reduzida no número de atrações (no caso, as palestras), como também uma diminuição de público.
“O número de palestras foi reduzido, mas os temas estão mais fortes”, garante Gustavo. “No ano passado foram 30 mil pessoas, e neste ano temos metade dos dias”.
Isto porque o BIG Festival 2019 conta com 4 dias abertos ao público, contra 8 do ano passado. Ainda assim, Gustavo espera chegar a 20 mil visitantes neste ano.
E no Rio de Janeiro?
Também no ano passado, o BIG Festival teve uma edição no Rio de Janeiro. O evento aconteceu simultaneamente com o de São Paulo, mas neste ano, isto não aconteceu.
Até mesmo uma edição BIG Festival RJ no segundo semestre de 2019 pode não acontecer. “Existe a possibilidade de a gente conseguir alguma coisa no segundo semestre, mas está cada vez mais difícil”, comenta Gustavo. Ainda assim, o BIG Festival não se dará por vencido. “A ideia é a gente continuar a ter edições no Rio, sim”.
O motivo de uma edição Rio de Janeiro não ter acontecido simultaneamente com o de São Paulo foi basicamente por conta de problemas burocráticos envolvendo a Lei de Incentivo à Cultura.
“A Lei de Incentivo não abriu [seu edital] ainda”, explicou Gustavo. Além disso, a principal ferramenta que viabiliza o acontecimento de milhares de projetos culturais no país, sofreu uma redução no teto de captação por projeto.
O corte foi de R$ 60 milhões para R$ 1 milhão, e esta redução nas verbas certamente é uma agravante. “O Rio está vivendo uma situação complexa, como o Brasil todo, existem essas questões”, complementa o diretor do BIG Festival.
“Mas lá foi uma tecnicalidade. Mudaram a Lei de Incentivo no dia 27 de dezembro de 2018, antes de assumir o novo governo. E ainda não regulamentaram o edital. O edital vai ser aberto agora em julho”.
Ainda assim, existem grandes chances de o BIG Festival acontecer no Rio de Janeiro no próximo ano, garante Gustavo. “É quase certeza que no próximo ano vai ter”.