Após algumas horas, acho que finalmente comecei a entender a vibe de Deathloop - e, ao mesmo tempo, ainda me sinto extremamente despreparado para falar sobre ele, já que só agora acredito ter aberto o game o suficiente para brincar no playground da morte que é a ilha de Blackreef.

Meses atrás, quando participei de um evento remoto sobre o novo jogo do Arkane Studios, mesmo vendo o gameplay em ação ainda era difícil entender o fluxo e ritmo do game inteiro, e a possibilidade de se frustrar com o inevitável ciclo de mortes constantes no qual o jogador vai se encontrar.

Ao finalmente ter o game em mãos e experimentá-lo por umas cinco horas, algumas dessas dúvidas foram respondidas pelo simples ato de jogar, enquanto outras se mantém no ar - mas, ao menos por enquanto, os mistérios, intrigas e quebra-cabeças a serem resolvidos (na bala, em geral) continuam prendendo minha atenção.

Situando o leitor desavisado, Deathloop tem como protagonista Colt, um homem que acorda sem memória em uma praia e logo descobre estar preso em um loop temporal, revivendo o mesmo dia de novo e de novo na misteriosa ilha de Blackreef.

Para escapar do ciclo, Colt deve assassinar os chamados "Visionários", grupo de oito pessoas que aparenta ter o controle da área, e que tem ligação com uma misteriosa organização ou projeto conhecida como AEON.

Caso não consiga matar os oito antes de ser morto ou atingir o fim do dia, Colt acorda novamente na praia, e deve reiniciar o ciclo novamente.

Cada Visionário tem suas particularidades, mas nenhum ao nível de Julianna, que além de ser a antagonista com quem Colt mais interage, pode ser potencialmente controlada por outro jogador para atrapalhar seus planos.

Algo importante de se salientar sobre a estrutura de Deathloop é que o ciclo temporal não acontece em tempo real: durante um "dia", o jogador poderá visitar quatro locais em quatro momentos diferentes do dia - manhã, meio-dia, tarde e noite -, podendo explorar cada uma dessas áreas e momento do dia no seu ritmo.

E "exploração" é a palavra-chave do game, já que embora eu imagine que seja tecnicamente possível derrotar os Visionários só na base do tiro e/ou facão, eles tendem a ser mais resistentes do que inimigos normais (para não entrar em detalhes ainda mais bizarras), vivem em fortalezas próprias, e em muitos casos só aparecem em determinados momentos de cada dia.

Por isso, lembrando um pouco Hitman, é necessário caçar por pistas espalhadas por Blackreef, que darão ao jogador uma ideia de quando é melhor atacar, e qual é a forma ideal para isso.

Há inimigos espalhados por todas as áreas da ilha, mas a inteligência artificial não é exatamente um primor, e ao menos na minha experiência é bem fácil eliminar duplas e até trios com ataques furtivos.

Mesmo ao ser detectado por múltiplos capangas, a solução mais fácil que encontrei até agora foi simplesmente "matar o mais próximo e correr para o lado oposto", e a perseguição (pontuada por uma trilha sonora que gruda na cabeça) logo termina.

Ao menos, ao contrário de jogos como Dishonored, Deathloop não dá nenhum incentivo para piedade. Você não pode "nocautear" inimigo nenhum, apenas matá-los, e se tiver um trabuco em mãos nada mais justo do que meter bala nos seus algozes - afinal, eles todos querem te matar, e a julgar pelos diálogos todos são lixos humanos.

Ainda assim, mesmo não sendo grandes ameaças, isso não significa que deve-se subestimá-los, já que alguns tiros ou golpes já matam Colt.

E aí, ao menos, que entra a grande sacada da Arkane para não frustrar os jogadores: graças a uma habilidade especial, o jogador tem duas "chances" de morrer antes de ser jogado de volta na praia e reiniciar o ciclo.

Ao ser morto, Colt é jogado em alguma parte da trilha que fez antes de ser derrubado, e ter uma nova chance de enfrentar seus inimigos ou simplesmente correr para o outro lado e esperar as coisas se acalmarem.

Ligado a isso está outro elemento fundamental para a experiência de jogo, o chamado Residuum. Após avançar o suficiente na história, o jogador poderá absorver essa substância espalhada por Blackreef, seja em objetos ou ao eliminar Visionários.

Por meio do Residuum, é possível infundir armas, objetos e poderes para que eles se mantenham com você de ciclo em ciclo - do contrário, Colt perde tudo o que tem em mãos ao acordar na praia.

Porém, tal qual em jogos como Dark Souls, caso seja morto nessas duas primeiras chances, Colt perde o Residuum acumulado, e deve voltar ao lugar de sua morte para reabsorvê-lo.

Sendo assim, o jogador é incentivado a procurar por armas, upgrades e poderes especiais, e infudir Residuum neles para que forme o arsenal ideal para enfrentar seus inimigos e quebrar o ciclo.

... E é justamente neste momento em que pareço me encontrar, em que o jogo parece se abrir e permitir ao jogador experimentar e explorar Blackreef, descobrindo não só a melhor forma de matar os Visionários, como também simplesmente entender o que diabos está acontecendo, porque o ciclo temporal existe, e qual a relação de Colt com tudo isso.

Se posso alguns poréns nessa experiência, o primeiro envolve o design das quatro regiões de Blackreef. Embora assim como outros games da Arkane que contam com diversos caminhos alternativos e passagens secretas, eles não parecem tão "inspirados" quanto em seus jogos anteriores.

Para ser justo, Dishonored 2 talvez tenha o melhor level design de um jogo nas últimas décadas, com mapas sobre mapas memoráveis, então é difícil se superar neste sentido, mas ainda assim nada saltou aos olhos até o momento.

É claro, a esperança é de que ainda há muito a se descobrir, e mesmo esses ambientes ainda ganham pontos graças à estética sessentista/setentista decadente que permeia Blackreef.

O outro porém - e talvez isso seja mais pessoal - é que por mais que o PS5 traga novidades como todas as funcionalidades do DualSense que tornam a experiência mais imersiva e tensa, a interface de pistas e objetivos só me faz querer jogar o jogo em um PC, já que os vários textos e fluxogramas não são muito bons de navegar com um controle.

Também não posso comentar sobre a experiência de invadir um jogo ou ser invadido por um jogador controlando Julianna, mas caso você fique tenso com isso é possível mudar facilmente a opção para não permitir que isso aconteça. Neste caso, a antagonista é controlada pelo computador

Isso posto, ainda pretendo explorar ativamente Blackreef e conhecer (e matar) seus habitantes bizarros até descobrir os mistérios de AEON e seus experimentos.

Deathloop chega ao PC e PS5 em 14 de setembro - totalmente localizado em português.

  • Publicadora

    Bethesda Softworks

  • Desenvolvedora

    Arkane Lyon

  • Gênero

    FPS