Junto da terceira temporada de Stranger Things que estreou em 4 de julho na Netflix; também foi lançado o game de título (quase) homônimo: Stranger Things 3: O Jogo. A princípio, o título foi lançado para PC, Xbox One, PlayStation 4 e Nintendo Switch e, apenas em 30 de agosto, chegou aos dispositivos móveis (iOS e Android).
Em linhas gerais, o game faz um ótimo trabalho em recriar Stranger Things 3, oferecendo oito capítulos aos jogadores que recontam os oito episódios da terceira temporada, quase passo a passo. Todavia, essa “mesmice” pode não valer muito a pena para quem está procurando uma experiência diferenciada.
Inclusive, como o jogo reconta a temporada, é altamente recomendado que você veja a terceira parte da série antes de jogar. Quem não assistir tudo e ainda assim encarar o game, lidará com spoilers pesados do seriado - ainda mais levando em conta que Stranger Things 3: O Jogo recria algumas cenas do show com perfeição.
Gameplay
Em termos de jogabilidade o game é bastante simples, mesmo sendo preciso controlar dois bonecos ao mesmo tempo. No console você irá apertar praticamente todos os botões do joystick em algum momento ou outro; e nos dispositivos mobile, existe opção de touchscreen e suporte a alguns controles de videogame para quem não quer ficar tocando na tela do aparelho móvel.
De toda forma, você irá controlar sempre dois personagens, sendo que um deles responde diretamente aos seus comandos e o outro lhe acompanhará o tempo todo, mas suas ações são controladas pela inteligência artificial do game (que é mais compulsivamente agressiva do que inteligentemente prática, vez ou outra causando mais problemas do que ajudando).
Vale ainda ressaltar que nem todos estão disponíveis logo de cara; até porque os 12 bonecos jogáveis vão sendo desbloqueados aos pouquinhos - da mesma forma que acontecia no jogo da primeira temporada, Stranger Things: The Game, exclusivo para iOS e Android e desenvolvido também pela BonusXP. Esse aspecto, inclusive, é o pilar de duas mecânicas bastante interessantes: a primeira é a questão estratégica e a segunda é o coop local.
A parte tática é porque você precisará de alguns bonecos específicos para liberar acesso a determinadas áreas; já que cada personagem jogável é singular, com armas e habilidades especiais bem diferentes uns dos outros. Por conta disso, algumas idas e vindas acabam acontecendo com frequência.
Essa mecânica de exploração de Stranger Things 3: O Jogo acaba fazendo com que todos personagens jogáveis sejam utilizados ao longo da jogatina. Por outro lado, a experiência pode se tornar maçante porque o jogo se estende muito com esse backtracking. Quando eu cheguei no capítulo 6 (de 8), não aguentava mais realizar pequenas tarefas para personagens secundários.
Esses favores na maioria das vezes te levam a ganhar um item X que ajudará a abrir um caminho Y e assim, ativar a alavanca W para poder liberar o elevador Z. Ainda assim, a experiência em coop pode tornar a aventura menos cansativa, já que você irá interagir e prosseguir sempre ao lado de outra pessoa, que controlará o segundo personagem do time.
Nos consoles e nos PCs é possível jogar de forma cooperativa com outra pessoa, desde que localmente (tela dividida) e a função também parece estar presente nos dispositivos mobile, mas não me foi possível testar essa opção até a data do lançamento desta análise, porém. De toda forma, jogar ao lado de alguém tornará tudo automaticamente divertido e as poucas horas de jogo passarão ainda mais rápido.
Gráficos e som
Em termos técnicos, Stranger Things 3: O Jogo é bastante competente, principalmente levando em conta sua temática, isto é, a inspiração em filmes clássicos de ficção científica com crianças como protagonistas. Como a série da Netflix retrata essas aventuras na década de 1980, parece tão natural quanto respirar que o game siga uma estética retrô também, o que se reflete em seus gráficos.
Todavia, como os gráficos recriam o estilo 16 bits e, na década de 1980 ainda estávamos nos 8 bits, pode ser que você sinta uma certa estranheza com essa retratação um tanto anacrônica; ainda que nada disso atrapalhe ao ponto de fazer desistir de jogar. A visão isométrica também trouxe um charme a mais para o jogo, deixando a parte visual um pouco mais atrativa.
Já a trilha sonora, por mais que ela simule o gênero synthwave característico do seriado (e que pessoalmente eu adoro); senti que as faixas se repetiam com frequência e isso contribuiu muito para que eu, particularmente, me sentisse de “saco cheio” muitas vezes.
Achei gravíssimo pecar justamente neste aspecto técnico, uma vez que a onda retrô que temos revivido se apoia muito nesse conceito audiovisual do synthwave. Em outras palavras, a estética parece mal trabalhada já que os gráficos, por mais simpáticos que sejam, não casam com a trilha sonora.
Violência e desafio
E se no seriado o aspecto de gore estava muito bem representado, no jogo já não consegue essa proeza assim tão facilmente. Em alguns momentos o jogo até brinca com isso e engana o jogador, mas de forma geral, a violência (visceral, psicológica e verbal) que os episódios da terceira temporada oferecem, estão presentes, porém, não causam o mesmo impacto.
As batalhas contra os chefes por sua vez acontecem poucas vezes, mas quando chegam, evocam um sentimento de impotência que, inconscientemente, lhe fará repensar muito bem e até mesmo traçar um plano. Essas partes são bem legais de se jogar, ainda mais se for em coop, mas elevam ao extremo um problema de desequilíbrio no poder de fogo / dano dos personagens contras as criaturas de Stranger Things 3: O Jogo.
Isso pode até ter sido feito de propósito para tornar a experiência mais crível e assim emanar uma maior imersão do jogador, mas o trabalho não ficou satisfatório. E se você procurar um desafio ainda maior quando finalizar a aventura principal, pode também encarar o modo Eliminador. Nele, você pode rejogar toda a campanha, mas se os personagens morrerem, eles não retornam mais, adicionando uma tensão ainda maior à jogatina.
Veredito
Stranger Things 3: O Jogo está totalmente legendado em português e hoje está disponível para ser jogado em praticamente todas as plataformas. É altamente recomendado para quem quer estender um pouco mais a graciosa e impactante aventura que aconteceu na cidade de Hawkins durante a terceira temporada da série.
Contudo, é um jogo cheio de altos e baixos: aspectos bons e ruins que conversam entre si constantemente sem que um lado se sobressaia de forma mais consistente. Ele tem muitos prós que vão de encontro direto aos seus contras e isso acontece em muitos níveis; técnicos, mecânicos e narrativos.
Para ser justa, a possibilidade de criar objetos e upgrades com itens recolhidos pelos cenários, talvez seja o único recurso que eu não tenha nenhuma reclamação a respeito, mas sim apenas elogios, porque a mecânica é realmente relevante e intuitiva.
Então, se você não se importa tanto com esses conceitos e está a fim de revisitar Hawkins com Eleven, Lucas, Hopper, Steve e tantos outros durante a terceira temporada, pule de cabeça em Stranger Things 3: O Jogo. Do contrário, caso não seja uma prioridade sua, considere jogar a versão mobile quando não tiver mais nada para fazer e bater aquela saudade da turma. Alguns minutos do game serão suficientes para dar conta da nostalgia.