A moda dos últimos tempos no mundo dos games tem sido os jogos cooperativos. Você deve se lembrar da febre que foi Among Us lá no início da pandemia, assim como o surgimento de vários “sucessores” de Left 4 Dead.
Isso abriu os olhos das produtoras e não demorou muito para ver muitos títulos com esse tema e o mais novo exemplar a chegar aos consoles foi Rainbow Six Extraction, da Ubisoft.
No game, o mundo foi tomado por uma ameaça parasita alienígena chamada Archean, que foi identificada na Cidade do México e que se adaptou muito bem à vida na Terra, passando a se espalhar como uma praga global. Assim, forças táticas do mundo inteiro se uniram para tentar impedir que esse parasita se alastre e tome conta do nosso planeta.
Os parasitas infectam pessoas e tomam controle de suas vítimas em nível celular, transformando-os de forma permanente em seres desprovidos de qualquer traço de humanidade — e recobertos de uma geleca preta — e se espalhando em uma velocidade assustadora.
Esse é um resumo muito rápido da trama de Rainbow Six Extraction, que se passa em um futuro próximo onde os agentes de Rainbow Six Siege existem e, no lugar de tentar se matar para explodir bases civis, eles se unem para impedir um mal maior: o fim da humanidade.
Ameaça Global — mas só nos EUA
A trama, digna de um filme dos anos 1990, é uma mistura de um universo de zumbis futuristas com o toque militar de Tom Clancy, o falecido autor e roteirista responsável (direta e indiretamente) por diversos filmes e séries da TV como Jack Ryan, A Soma de Todos os Medos, Jogos Patrióticos e Caçada ao Outubro Vermelho.
Por isso mesmo, vemos diversos personagens conhecidos dos fãs do shooter em primeira pessoa como Virgil, IQ, Hibana, Smoke e muitos outros. E, assim como em Siege, os agentes possuem habilidades especiais que vão ajudá-los em missões que se passam em diversas regiões dos EUA: Nova York, São Francisco, Alaska e Novo México.
O foco principal é ser um jogo cooperativo no qual três jogadores precisam combinar esforços para adentrar em locais tomados pelos Archeanos e realizar uma série de missões que vão desde reconhecimento, resgate de agentes, destruição de ovos parasitas ou matança generalizada de infectados.
Em cada incursão, o jogador tem três objetivos para serem realizados, sendo possível optar por deixar o cenário a qualquer momento, levando consigo toda a experiência adquirida.
Porém, quanto mais longe você for, mais recompensas ganha.
Em termos de armamento, apesar de ser um jogo que se passa em um futuro próximo, você não vai ver armas muito diferentes do mundo atual, com a maioria dos modelos delas (e até mesmo de alguns gadgets que os agentes usam) podendo existir facilmente no nosso mundo — se é que não existem.
O elenco conta com 18 agentes de todos os cantos do mundo que se moveram para os EUA para defender o mundo desse ataque parasita. Cada um deles, como eu falei antes, tem habilidades e itens dedicados para cada missão específica: alguns são mais indicados para missões de reconhecimento, outros de infiltração, enquanto um ou outro serão excelentes para resgate.
Cabe a você identificar qual se encaixa mais em cada situação.
Cooperativo ou solo?
Nosso redator Diego Lima teve a oportunidade de jogar a prévia de Rainbow Six Extraction no acesso antecipado e, naquela oportunidade, ele foi bem enfático em dizer que não entendia o apelo do jogo.
E, sendo justo, eu entendo completamente o porquê ele disse isso.
Os jogos do universo de Rainbow Six são mirados em um público muito específico: jogadores que gostam de ação tática com tema militar. E bom, esse é um nicho com um escopo muito fechado do mundo dos games, e querer adentrar nesse universo requer muito, mas muito interesse.
A barreira de entrada para o universo de Rainbow Six Extraction é ainda mais alta, tendo em vista que para o jogador adentrar nesse universo quase é necessário uma conjunção estelar, pois além de ser um jogo tático militar, há o componente cooperativo online que, convenhamos, também requer que você tenha amigos que gostem desse tipo de jogo. Ou seja, o funil é ainda mais apertado.
Talvez, por eu me encaixar em muitos desses filtros, consegui gostar muito mais de Extraction do que meu caro amigo de redação:
- Temática militar? Check.
- Amigos que gostam de Rainbow Six? Sim.
- Game online? Check Check.
- Cooperativo? É comigo mesmo.
Mesmo assim tenho algumas ressalvas, especialmente tendo em vista que as primeiras visitas ao mundo de Extraction são extremamente frustrantes. Conversando com algumas pessoas durante minhas primeiras partidas, descobri que 100% das pessoas foram derrotadas pelos Archeanos em suas primeiras incursões.
É óbvio que isso acontece. Quando tudo é novo, é necessário um tempo para aprender as mecânicas, e o tutorial não é suficiente para você aprender como tudo acontece aqui. Logo após o tutorial você é induzido a jogar em uma partida cooperativa, ao invés de ser incentivado a jogar uma partida solo.
Ser derrotado na primeira vez não é um problema. O problema é que quando você é derrotado, seu agente fica “preso” na fase onde ele caiu e só é liberado para ser jogado novamente depois que você resgatá-lo. E mesmo assim, vai ser necessário passar mais duas ou três partidas para que ele seja habilitado para uso novamente.
E isso fica ainda mais frustrante pelo alto grau de dificuldade para quem está entrando naquele cenário pela primeira vez, mesmo na dificuldade “moderada” - a mais baixa de todas. E também é frustrante para quem está jogando ao seu lado, afinal, o Extraction é balanceado para três jogadores unidos, jogando taticamente e dominando as habilidades de seus agentes.
Extraction não foi feito para um único agente — quer dizer, foi, tendo em vista que existe a modalidade solo (mas lembra que eu disse que ela está escondida?). Isso significa que se um aliado cair, os outros dois vão passar um perrengue. Se dois caírem, o último sobrevivente também vai cair.
Tirar do jogador a possibilidade de experimentar, de aprender com seus erros é, na minha opinião, totalmente contra-intuitivo. E certamente essa decisão de game design por parte do time de Montreal pode afastar muitos jogadores. Entendo que esta é uma das formas de o jogo incentivar a testar outros agentes, porém, é inevitável o sentimento de frustração que vem acompanhado desse “incentivo” - como aconteceu com o Diego.
Para evitar que isso aconteça, recomendo que você se aventure nos estágios pelo menos uma vez jogando sozinho e entenda como é o mapa e suas missões. Depois disso você vai poder aproveitar o que o game tem a oferecer.
Para jogar com amigos
Ainda falando da mecânica, lembre-se: este é um jogo tático. Sair atirando contra tudo e contra todos é algo que só é recomendado para quem é realmente familiarizado com as mecânicas.
Extraction herdou muitas mecânicas de Siege como a inclinação para mirar em cantos, os agentes, o universo. No início você só vai andar agachado, tentando eliminar os Archeanos um a um com suas armas silenciadas. Porém, conforme vai adquirindo experiência, vai se sentindo mais à vontade para usar escopetas ou explosivos para abrir caminho.
O jogo tem uma variedade bem limitada de inimigos, e você só vai ver mais variedade com alguns chefes mais avançados, conhecidos como Singularidades. Proteu, por exemplo, é um chefe que mimetiza agentes e ainda traz habilidades únicas para seu arsenal. Essas aberrações são terrivelmente assustadoras e precisam ser enfrentadas em um grupo bem coordenado.
E eis que mora a questão: por vezes você vai cair em um grupo bacana, que se comunica bem — sim, comunicação é essencial para esse jogo — para conseguir derrotar o chefe. Porém, em outras, vai ser um bando de gente doida que não sabe o que fazer. E, por esse motivo, recomendo que você jogue com amigos.
Depender de pessoas aleatórias é extremamente prejudicial para sua experiência de jogo. O caso de Extraction não é como em jogos cooperativos como Back 4 Blood ou Left 4 Dead, que em muitos casos só requerem uma boa mira com armas, e não pede habilidades super específicas (ou, ao menos, não depende delas).
Ao mesmo tempo, são justamente essas habilidades que são o grande diferencial, e o calcanhar de Aquiles do shooter da Ubisoft
No fim das contas eu me diverti, mas também entendo que Rainbow Six Extraction pode não ser para todo mundo. Ao que o jogo se propõe, é bastante competente e divertido, com alto potencial de frustração — principalmente nas dificuldades mais elevadas. Se você tem um grupo de amigos que buscam uma variedade na jogatina de sexta à noite (independentemente da plataforma, tendo em vista que o game tem Crossplay) eu digo: vai lá e experimente.
Agora vem meu hot take: eu acredito que esse jogo deveria ser grátis para jogar e aproveitar as imensas oportunidades para expandir a base de jogadores. O game já tem um monte de colecionáveis como roupas, capacetes e até mesmo skins para armas que poderiam ser usados como base para monetizar o jogo. Quem se beneficia são os assinantes do Xbox Game Pass, da Microsoft, que podem jogar sem gastar um centavo além do plano de assinatura.
Apenas espero que o jogo tenha bastante suporte por parte da Ubisoft em alimentá-lo com novos cenários, eventos e, quem sabe, missões em outros países do mundo. Seria interessante, ao menos uma vez, não ver os EUA como o umbigo do mundo — e não foi dessa vez que isso aconteceu.
- Lançamento
20.01.2022
- Publicadora
Ubisoft Entertainment
- Desenvolvedora
Ubisoft Entertainment
- Censura
16 anos
- Gênero
FPS