Nesse ponto da história, é bem provável que você já tenha ouvido falar em Mullet Mad Jack. O jogo brasileiro do estúdio Hammer95 foi extremamente elogiado pela crítica, chegando a figurar no Hall da Fama do OpenCritic como um dos jogos com melhor avaliação de 2024. Bom, esse é mais um texto elogiando o trabalho da desenvolvedora independente, que conseguiu misturar nostalgia com um ritmo frenético e viciante.
Boa parte do projeto vem de Alessandro Martinello, diretor que é fã de animes dos anos 80 e 90, e responsável pelas artes e ambientação do universo do game. Em um futuro pós-apocalíptico, quem domina o planeta são robôs bilionários — ou Robilionários —, e os humanos precisam de dopamina constante para sobreviver.
Nesse contexto, o protagonista Jack se vê contratado para resgatar a maior influenciadora daquele mundo, que foi sequestrada pelos Robilionários. Com apenas 10 segundos de vida, o jogador embarca numa aventura rápida e muito frenética. A influencer está no topo de um arranha-céu, e é necessário subir por andares repletos de robôs para conseguir encontrá-la.
No FPS de altíssima intensidade, cada eliminação rende dois segundos a mais de vida, obrigando o jogador a ser muito rápido a cada andar. Não é só o tempo que está contra ele, pois ataques dos robôs também subtraem alguns preciosos segundos do contador da morte. Felizmente, é possível ganhar ainda mais tempo com muito estilo: combos de eliminações, headshots e assassinatos usando armas espalhadas pelo cenário são algumas das opções.
Isso se soma a uma mecânica quase roguelike. Os únicos checkpoints aparecem a cada 10 andares, depois de enfrentar um chefão — que costumam ser fáceis, vale citar. Para os que têm receio das frustrações de progresso perdido, não há muito a temer aqui. Cada fase dura no máximo um minuto e meio, chutando bem alto; logo, é bem rápido voltar para o ponto em que já se estava.
Como qualquer roguelike, há “builds” para dar novas habilidades ao protagonista. Uma variedade considerável de armas que podem ser evoluídas até o nível 3, passivas que dão bônus de segundos ao executar determinadas ações, e até invulnerabilidade contra alguns elementos do cenário estão no repertório. Um destaque inesperado fica com o upgrade que deixa o silencioso Jack mais falastrão, dando uma pitada de humor à gameplay.
A sensação constante é de poder e desafio. Jack é um tanque de guerra quase imparável, mas alguns erros de planejamento podem custar sua vida, assim como em Hotline Miami. A tela definitivamente fica um pouco poluída em meio à ação, mas isso ajuda a manter a urgência de continuar avançando e destruindo os robôs que surgem. Se você está parado, algo está errado.
A campanha tem mais de 80 fases seguindo esse formato, e há um modo infinito para quem quer mergulhar de vez na freneticidade. Pode parecer bastante, mas há alguns recursos para que as fases sempre pareçam frescas; geradas aleatoriamente, elas contam com vários obstáculos que vão sendo adicionados conforme se avança pela história, deixando tudo mais desafiador e divertido.
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Nada disso funcionaria sem as inspirações nos animes das antigas. Além de ser visualmente lindo, o jogo traz várias brincadeiras que são facilmente reconhecíveis por quem viveu um pouco dessa época. O game é dublado originalmente em inglês, e as legendas em português brincam bastante com a “liberdade poética” dos estúdios de dublagem — quem se divertia com as piadas de YuYu Hakusho certamente vai esboçar algumas risadas.
O retrô também é muito bem utilizado em um “unboxing digital” que se apresenta já no menu inicial. Simulando a experiência de abrir jogos antigos, Mullet Mad Jack mostra como seria sua caixa e seu manual de instruções nos anos 90. Apesar de curto, o unboxing também mostra muito bom humor e ajuda o jogador a ficar ainda mais imerso naquele mundo.
E por mais que a “vibe” seja o fio condutor mais importante, o enredo até surpreende com algumas viradas. O apelo fica no nonsense e não em grandes aprofundamentos de personagem, mas isso não deixa a história menos divertida.
Mullet Mad Jack é muito merecedor de todo o sucesso que vem fazendo. Desenvolvido por apenas três brasileiros do Rio Grande do Sul, que ainda tiveram de enfrentar a catástrofe climática do estado durante o processo de lançamento, o game mostra que é possível fazer muito com pouco, basta ter carinho pelo seu projeto e transformá-lo em algo genuinamente gostoso. Não é preciso pensar muito para entender que o game saiu do coração de todos os envolvidos em seu desenvolvimento, e o resultado não poderia ser outro.
- Lançamento
15.05.2024
- Publicadora
Epopeia Games
- Desenvolvedora
Hammer95