O erro mais comum a ser cometido por aqueles que seguem os passos de Dark Souls é tentar igualar as produções da From Software não apenas em formato, mas também em escopo.
Não por acaso, Mortal Shell é uma experiência 'Souls-like' agradável em grande parte por evitar tal erro. O game é enxuto, e acaba enquanto suas ideias originais ainda estão interessantes.
Desenvolvido na maior parte por um time de apenas quatro veteranos de estúdios grandes, Mortal Shell é uma aventura que tem entre 12 e 15 horas de duração.
O jogo não presume nenhum tipo de conhecimento prévio de jogos como Dark Souls e Bloodborne por parte do jogador, e ensina todas as suas mecânicas de maneira bem didática. Mas mesmo assim, quem estiver acostumado com os títulos da From Software e similares saberá instintivamente o que precisa ser feito para progredir.
Mortal Shell é um RPG de ação em terceira pessoa com foco em exploração e em um sistema de combate bastante punitivo, que cobra reflexos rápidos e timing perfeito nos controles.
Em posse de cada um dos quatro tipos de armas disponíveis na aventura, o jogador deve desferir ataques leves e pesados, além de se esquivar de e bloquear investidas dos oponentes. E é no comando de 'bloquear' que mora o grande diferencial de Mortal Shell: em vez de utilizar um escudo para impedir o inimigo, o protagonista do game endurece o próprio corpo, tornando-se praticamente imune por alguns instantes.
A mecânica é muito intrigante por poder ser utilizada a qualquer momento. É possível, por exemplo, endurecer no meio do arco de um ataque feito na hora errada - garantindo não apenas a própria segurança, como também a eficácia do ataque mal calculado, que continua após o bloqueio.
Apesar de criar situações de combates interessantes, a mecânica também é a principal culpada por fazer com que vários dos chefes do jogo sejam um pouco entediantes. Como o jogo antecipa o uso constante do bloqueio, alguns dos maiores vilões têm barras de vida maiores do que o necessário apenas para prolongar encontros triviais e criar uma certa sensação de dificuldade.
No geral, o nível dos chefes de Mortal Shell remete à primeira metade de Dark Souls 2: as batalhas têm pouco destaque, e se apequenam perante os divertidos trechos de exploração que as antecedem.
Outro conceito interessante encontrado em Mortal Shell é justamente o que dá nome ao game. O personagem que o jogador controla é capaz de possuir quatro corpos diferentes (as 'cascas') de guerreiros do passado. Os corpos existem no lugar das diferentes classes. Eles têm suas próprias forças e fraquezas, e se desenvolvem de maneira independente com a ajuda de árvores de habilidades individuais.
O sistema brilha ao permitir que o jogador experimente diferentes estratégias de combate sem precisar reiniciar todo o progresso de seu personagem. Em vez disso, basta trocar de corpo - algo que pode ser feito sem qualquer custo adicional quando você está na área que serve como base na aventura.
Por fim, vale mencionar aquela que é talvez a melhor ideia de Mortal Shell - e uma que poderia muito bem ser absorvida pela própria From Software: o sistema de familiaridade. Através dele, o jogador é obrigado a experimentar itens encontrados pelo cenário antes de descobrir quais são seus efeitos.
O uso repetido de tais itens ainda melhora sua eficácia, incentivando o jogador a realmente aproveitar todos os recursos que encontra, em vez de apenas fazer estoque - algo comum no gênero.
Misture ideias interessantes, um sistema de combate familiar e funcional a chefes e cenários simples e pouco ambiciosos: o resultado é um 'Souls-like' intrigante porém limitado, mas que sabe bem quais são suas limitações e acaba antes de começar a incomodar.
Em vez de tentar bater de frente com Dark Souls, Mortal Shell se contenta em seguí-lo à distância. E com suas ambições controladas, ele encontra forças para surpreender até mesmo veteranos da série.
- Lançamento
18.08.2020
- Publicadora
Playstack
- Desenvolvedora
Cold Symmetry