Nos pontos mais altos, Midnight Fight Express brilha com um combate super satisfatório, honrando o conceito de beat’em up moderno. Desenvolvido em sua maior parte por uma única pessoa, o jogo traz uma variedade impressionante de armas, golpes, cenários e, principalmente, inimigos.
Em contrapartida, o jogo apresenta uma narrativa mal desenvolvida e uma trilha sonora que, particularmente, detestei.
Jogo feito quase inteiramente pelo polonês Jacob Dzwinel, Midnight Fight Express é um beat’em up que coloca o jogador no papel de um homem conhecido como Cara de Bebê, que perdeu as memórias. Ele acorda de um longo sono com a chegada de um drone falante em sua casa, que nos é apresentado como Droninho, um robô que aparenta saber muito sobre a história do protagonista.
Juntos, você e Droninho partem em uma jornada de uma única noite para impedir um grupo de gangues que pretendm dominar a chamada Cidade do Amanhã, uma cidade com uma atmosfera que mistura Gotham City, de Batman, e Night City, de Cyberpunk.
Expresso do Tiro, Porrada e Bomba
Se você quer um jogo com batalhas satisfatórias e violentas, Midnight Fight Express entrega isso e muito mais com um combate surpreendentemente fluido. O jogo traz um total de 40 fases — algumas mais longas do que outras, com diferentes cenários e hordas de inimigos para enfrentar.
Variedade é a palavra perfeita para definir o combate de Midnight Fight Express. O jogo traz uma árvore de habilidades com opções de ataques, parry, finalizadores, agarramentos, corda e arma secundária.
Há um total de 40 habilidades desbloqueáveis, e o jogo permite que você personalize o combate da forma que preferir, com novos golpes sendo desbloqueados por pontos que você recebe ao fim de cada fase e cada habilidade custa um ponto.
Um aspecto que me incomodou nesse quesito é a falta de uma área com as habilidades desbloqueadas no menu de pausa, para consulta durante as fases. O jogo permite visualizar os golpes somente entre fases, o que desfalca um pouco a criatividade na hora da porrada.
Voltando para a variedade, há um importante elemento dos jogos beat’em up: a variedade de armas. Em Midnight Fight Express, tudo pode ser utilizado para a matança, desde armas, de fato, até pratos de comida e outros objetos inusitados.
O jogo dá, ao todo, 100 opções de armas. No começo, inclusive, as armas de fogo foram uma incógnita para mim, mas, aos poucos, fui me acostumando. Esse tipo de armamento é ideal para combate à distância e péssimo no combate corpo a corpo. Por isso, nesses casos, sempre é melhor optar por um bastão ou literalmente qualquer outra coisa que você possa usar para bater nos inimigos.
Joguei com um controle do Xbox Series e, para atirar, você deve mirar com o analógico direito e pressionar RT. Esse foi um ponto difícil para me acostumar, porque me parecia muito mais intuitivo, após uma vida de FPS e TPS, mirar com LT e atirar com RT. Entretanto, o LT é dedicado à ferramenta de Foco, que foi praticamente inútil em toda minha jornada.
Na minha visão, algumas escolhas de botões são pouco intuitivas, e isso não se limita somente aos tiros: senti isso também no LB, que tem duas diferentes funções dependendo do caso: finalizar um inimigo ou utilizar uma arma secundária. Para outros tipos de jogos, esse esquema de um único botão para diferentes situações pode funcionar, porém, para um beat’em up com combate frenético, não funcionou.
Esses são detalhes que, de fato, atrapalham a jogabilidade e a fluidez do jogo em certos pontos. Todavia, numa perspectiva mais abrangente, o combate é a melhor parte da experiência, com muito sangue e violência presentes.
Nos momentos de combate mais brilhantes, Midnight Fight Express me trouxe um vislumbre de um dos títulos de 2022 de que mais gostei: Sifu. Um beat’em up moderno desenvolvido pela Sloclap, que é uma excelente opção de jogo para aproveitar ainda mais o estilo de combate que vemos em Midnight Fight Express.
Capangas à direita, zumbis à esquerda
Midnight Fight Express surpreende com a diversidade de inimigos. O jogo não tem vergonha alguma de dar asas à imaginação e apresentar toda a criatividade de quem o trouxe à vida.
Começamos o jogo enfrentando os Bozos, que são, simplesmente, capangas da série C do Chefão, o grande vilão do jogo. Mas, a cada nova fase, mais grupos de inimigos nos são apresentados. Todos desenhados com muita criatividade, indo desde criminosos comuns, passando por desenvolvedores (sim) e até zumbis.
Alguns dos grupos de inimigos têm particularidades na hora do combate, podendo depender de armas específicas para derrotá-los.
Narrativa que dói
Minha jornada de nove horas pelas quarenta fases foi satisfatória em termos de combate. Mas, ao mesmo tempo, cada diálogo apresentado me fazia revirar os olhos.
O jogo traz um contexto narrativo no qual o jogador é colocado para lutar contra gangues que são como subsidiárias de um chefe maior. Ao longo do processo, você vai descobrindo um propósito nessa briga e qual é, de fato, a razão de você percorrer todos esses cenários matando brutalmente tudo e todos no caminho.
Meu problema com a história é que ela se revela, gradualmente, de maneira extremamente entediante, colocando mais diálogos do que o necessário em meio aos momentos de combate e cortando a fluidez das lutas para conversas desnecessárias.
Midnight Fight Express é localizado em português do Brasil, o que já é maravilhoso e facilita o entendimento da história. O problema é que, muitas vezes, nosso companheiro, Droninho, que é quem apresenta a narrativa durante a maior parte do tempo, tem falas que miram no humor “ácido” e acertam na forçação de barra.
No início, era até divertido ver os inúmeros palavrões e referências à brutalidade nos diálogos, mas, após algumas horas de jogatina, se torna uma história insuportável de se ouvir pela perspectiva do Droninho.
Apesar da narrativa ser um ponto tão baixo do jogo, gosto de acreditar que esse não é o foco do título, que tem o combate como maior atrativo.
Gritos, choro e música eletrônica
Os efeitos sonoros do jogo em momentos de combate são suficientemente bem feitos. Alguns dos sons de golpes, inclusive, trazem muito mais imersão ao jogo. Entretanto, os gritos — tanto seus, quando você morre durante as fases, quanto das suas vítimas, são insuportáveis.
Longos, dramáticos e repetitivos.
Quanto à trilha sonora, vejo como algo bem mais pessoal, mas eu desativei a música após poucas horas de jogo — o que, inclusive, me rendeu a conquista: “Por que fez isso com Noisecream?” Que consiste, essencialmente, em desligar o som musical.
É uma trilha sonora focada mais em música eletrônica. Particularmente, não gostei. Então, optei por uma playlist própria durante o gameplay, o que tornou o processo bem mais divertido.
Travamentos sem sentido
Joguei Midnight Fight Express no PC, atendendo todos os requisitos mínimos para um bom desempenho. Durante as nove horas de gameplay, três bugs aconteceram fazendo com que o jogo começasse a travar muito sem razão alguma. A única forma que encontrei de consertar foi reiniciar o jogo.
Entretanto, um dia antes do lançamento, foi liberada uma atualização que pode ter servido como correção, que foi literalmente o único problema de desempenho que tive durante a gameplay.
Julgamento: vale a pena jogar?
Midnight Fight Express definitivamente vale seu tempo. Com, ao todo, nove horas de gameplay, o jogo me proporcionou uma experiência super divertida e satisfatória. Com as diferentes fases, o título introduz novas mecânicas de gameplay o tempo inteiro, impedindo que se torne uma campanha enjoativa.
Ressalto que o jogo foi desenvolvido, majoritariamente, por uma única pessoa, mas, se eu não soubesse disso previamente, a possibilidade nunca viria à minha cabeça. É um jogo muito bem desenhado, tanto em termos de level design quanto de arte.
Midnight Fight Express estará disponível no catálogo do Xbox Game Pass a partir do lançamento, em 23 de agosto.
- Lançamento
23.08.2022
- Publicadora
Humble Games
- Desenvolvedora
Jacob Dzwinel
- Censura
16 anos
- Gênero
Beat'em Up
- Testado em
Xbox Series X
- Plataformas
Xbox One Xbox Series X PlayStation 5 PlayStation 4 Nintendo Switch Xbox Series S PC