Precisa de um jogo em primeira pessoa com estética cyberpunk desenvolvido por um estúdio polonês em novembro de 2020? Ghostrunner é uma boa pedida.
Precisa de um jogo em primeira pessoa com estética cyberpunk desenvolvido por um estúdio polonês para além de novembro de 2020? Ghostrunner continua sendo uma boa pedida.
Novo jogo futurista do estúdio One More Level feito em colaboração com a Sligate Ironworks (do remake de Rise of the Triad) e produção da icônica 3D Realms, Ghostrunner é uma mistura curiosa do antigo e novo, com mecânicas e movimentação modernas baseado em jogos como Mirror's Edge e Dishonored, mas com um estilo e combate frenético que lembra os títulos de ação clássicos dos anos 1990.
(Que, justamente, foi um dos momentos de maior popularidade do gênero cyberpunk)
O game se passa em uma estrutura conhecida como Torre Dharma, último refúgio da humanidade após um cataclisma devastar o resto da Terra. Você controla o titular Ghostrunner, um guerreiro cibernético que, 20 anos antes dos eventos do início da narrativa, é derrotado em um golpe contra o criador da estrutura, Adam, feito por sua antiga parceira, Mara.
Desperto após décadas inoperante, o guerreiro (apelidado de Jack) deve escalar da base até o topo da Torre para se vingar de Mara que, agora conhecida como Keymaster, ou Mestre das Chaves, tornou-se uma tirana brutal com planos perversos para o restante da raça humana.
Durante sua subida por Dharma, Jack conta com dois principais aliados: Zoe, parte do grupo de resistência conhecida como Escaladores, que encontrou e reconstruiu o Ghostrunner; e o Arquiteto, uma inteligência artificial criada com base nas memórias e personalidade de Adam que diz querer proteger os humanos restantes na Torre.
No caminho, porém, estão inimigos conhecidos como Keys (ou Chaves - o que preciso admitir é um nome engraçado para um jogo com estética tão sombria), que tem como objetivo proteger Mara e eliminar Jack de uma vez por todas.
Algo que você precisa saber sobre Ghostrunner: É um jogo difícil. Algumas vezes quase perverso neste sentido. Jack, tal qual seus inimigos, é derrotado após um golpe - por isso, qualquer passo em falso, qualquer erro de timing, e qualquer golpe feito no momento errado provavelmente vai te levar para o último checkpoint e tentar novamente.
Mas, tal qual jogos como Hotline Miami antes dele, o principal atrativo do game é não só superar o desafio proposto, como também fazê-lo da forma mais veloz, efetiva e quase coreografada.
O loop do jogo é essencialmente um aprendizado na base do murro na faca, com o jogador testando diferentes formas de lidar com inimigos e alcançar lugares para avançar na Torre até encontrar seu jeito ideal para avançar o jogo.
A partir daí, é só refinar suas habilidades para fatiar os capangas.
Não vou mentir que alcancei vários momentos de frustração durante o decorrer do jogo, mas - pelo menos na maioria das vezes -, a culpa da tentativa fracassada era mais minha do que do jogo em si.
Pelo menos, conforme a narrativa progride, Jack desbloqueia diferentes habilidades especiais que podem significar a diferença entre vida e morte em certos casos, indo desde um golpe/avanço extremamente rápido até a capacidade de hackear inimigos.
Há, porém, algo importante a ser considerado: este não é um jogo ideal para um gamepad. Por sua velocidade frenética e nível de dificuldade que requer não só pensamento como tempo de reação rápida e relativa precisão, o teclado e mouse acabam por ser a melhor pedida para o jogo em si.
Compondo o gameplay está um mundo com uma estética maravilhosamente decadente, refletindo o estado de lenta autodestruição da liderança da Torre e do resto da humanidade. Os ambientes contam com um aspecto forte de claustrofobia urbana, com ambientes escuros de concreto, mesmo em áreas abertas, trazendo uma sensação constante de opressão e compressão.
E, como estamos falando de um jogo cyberpunk, logicamente podemos encontrar vários lugares com sinais em neon, luzes frias, e repletos de melhorias tecnológicas. Pontualmente, o jogador também pode até visitar uma realidade virtual, conhecida como Cibervácuo, para aprender e utilizar suas diferentes habilidades especiais.
Isso sem falar em algumas homenagens e referências especiais encontradas se o jogador olhar bem pelo mapa, que vão desde a moto de Kaneda em Akira, grafites com homenagens a Gremlins e Cyberpunk 2077, e até falas de inimigos vindas JoJo's Bizarre Adventure - o que faz me lembrar das várias piadas e elementos de cultura pop de outros jogos clássicos da 3D Realms.
Para acompanhar este visual, o jogo conta com a excelente trilha sonora de Daniel Deluxe, cujas batidas eletrônicas compõem e ressaltam o ritmo rápido e o loop de "Lute. Morra. Repita" que são centrais ao gameplay.
Após terminar a jornada para o topo da Torre Dharma, vejo Ghostrunner menos como um jogo de ação e mais um quebra-cabeças cyberpunk de violência veloz e brutal, em que o pensamento rápido e a execução perfeita são essenciais para (literalmente) atravessar pelos inimigos.
Algumas partes são talvez injustas demais, e um ou outro encontro pareceu ter sido resolvido mais por sorte do que mera habilidade, mas no geral o jogo oferece um desafio pesado, mas que pode ser superado com algum esforço.
É justo dizer que o nome do estúdio One More Level é apropriado para seu game, já que ao alcançar o elevador que termina cada fase, minha vontade era de continuar para o mapa seguinte - embora, pelo lado negativo, já que o jogo só salva o progresso entre cada fase, se houver algum bug ou problema técnico, você vai ter que voltar desde o começo.
No fim, Ghostrunner não faz nada de radicalmente novo, e nada mais é do que uma simples história de busca de autonomia em um ambiente autoritário, envolto em um gameplay desafiador, veloz e divertido, e ideal para fãs do gênero cyberpunk, ação em primeira pessoa, ou ambos.