Five Nights at Freddy’s – O Pesadelo Sem Fim é a próxima adaptação de games a agradar os jogadores. Com roteiro e produção de Scott Cawthon, criador dos jogos, o filme foi criado sob medida para os fãs, que encontrarão um festival de easter eggs e respostas a teorias de longa data.
O público geral, porém, deve deixar o cinema com uma experiência menos marcante. Comparado a outros lançamentos de Halloween da Blumhouse, como Sinistro e O Mistério da Ilha, Five Nights at Freddy’s entrega uma trama que se dobra para caber na lore dos jogos, deixando furos expressivos no caminho.
Pesadelo transformado em sonho
Como resultado do envolvimento de Cawthon, a produção não mede esforços para se manter fiel ao material original. A trama adapta e expande a história do primeiro game, acompanhado os cinco dias de Mike Schmidt (Joshua Hutcherson) como segurança noturno de uma pizzaria assolada por animatrônicos assassinos.
No indie de terror de 2014, Mike atua como protagonista “nulo”, carecendo de aparência e personalidade para garantir maior imersão do jogador. Sendo assim, por quase dez anos, os fãs teorizam sobre a motivação que levou ao aceite de uma proposta de trabalho tão insalubre – algo que o filme responde de forma satisfatória.
Apesar de não ser imune a furos de roteiro, principalmente no terceiro ato, o arco de Mike é fundamentado o suficiente para tornar as motivações do protagonista convincentes, algo propiciado pela entrega satisfatória de Josh Hutcherson.
Além de dar rosto e história ao protagonista “nulo”, o filme materializa o mundo carismático e perturbador de Five Nights at Freddy’s. Antes restritos a pixels, os elementos dos jogos ganham vida para preencher a o quadro, configurando autenticidade ao filme.
Os olhos atentos dos jogadores não terão descanso. Similar a outras adaptações de games recentes, o filme proporciona um festival de easter eggs: do refrigerante e ventilador na mesa de Mike à macabra mensagem “I am still here” (“Ainda estou aqui”), as referências são inúmeras.
Por mais que se trate de uma história digna dos piores pesadelos, o resultado é um sonho realizado para os fãs.
Show de efeitos práticos
Ao deixar o cinema, uma das impressões mais duradouras é que, em Five Nights at Freddy’s, uma ameaça tão irreal conseguiu se tornar bastante real por quase duas horas. O design de produção e efeitos práticos são primorosos.
A escolha de uso de efeitos práticos escolhidos para os animatrônicos, em especial, é o grande acerto do filme e, possivelmente, será o destaque da experiência do público geral.
Materializados pela premiada Creature Shop de Jim Henson – responsável pelos fantoches de Vila Sésamo e o filme mais recente dos Muppets –, os animatrônicos têm excelência em ocultar o fato que se tratam de fantasias usadas por atores humanos. A entrega final convence o espectador de que se tratam de maquinários ameaçadores e, ao mesmo tempo, cheios de carisma.
Espelhando-se no material original, o design sonoro foi outro foco da produção. Nos games, as deixas sonoras são usadas de forma engenhosa não apenas para proporcionar pavor constante, mas comunicar ações que precisam ser tomadas pelo jogador caso queira sobreviver. Nas telonas, os efeitos sonoros foram usados de forma similar, favorecendo a presença impositiva dos animatrônicos.
O trabalho empenhado no design de produção é perceptível, com sets primorosos nos mínimos detalhes, propiciando a riqueza de easter eggs.
Também se destaca a direção de Emma Tammi, principalmente no uso inteligência de enquadramentos e clipes de câmeras de segurança para evidenciar a movimentação dos animatrônicos pela pizzaria – um aspecto adaptado dos jogos que favorece o sentimento de familiaridade.
Um elemento chave que a adaptação não entrega bem, porém, é o roteiro.
Trama inconsistente
Assinado pela diretora Emma Tammi e pelo próprio Cawthon, o roteiro possui nítidas inconsistências. Principalmente após o primeiro ato, que corresponde ao ápice do filme, a história se contradiz e revela uma aparente divisão de perspectivas.
De um lado, há a visão do autor da lore, que oferece revelações que aprofundam o universo dos jogos de forma um tanto óbvia, mas convincente o suficiente. De outro, há a inserção de personagens inéditos bastante cartunescos e rasos que tem a aparente intenção de tornar a trama mais apelativa ao público geral – um propósito que não foi cumprido.
Estamos falando, infelizmente, de três personagens femininas: a policial Vanessa (Elizabeth Lail), a tia com tons de madrasta da Disney Jane (Mary Stuart Masterson) e a irmã mais nova de Mike, Abby (Kat Conner Sterling).
A entrega das três atrizes deixa a desejar, apesar de não haver muito com o que trabalhar. Vanessa, em especial, possui um arco gritantemente contraditório, que deixa de fazer sentido com a revelação do final do filme.
Também é notável a falta de embasamento e tempo de tela de Steve Raglan, o consultor de carreira interpretado por Matthew Lillard (Scooby-Doo) – uma ausência que será frustrante principalmente para os fãs.
Quem deve assistir?
Por mais que a trama seja pouco memorável, o exoesqueleto de Five Nights at Freddy’s é estruturado o suficiente para se unir a Super Mario Bros. O Filme, The Last of Us e outros como os bons exemplos recentes de adaptações de games.
O filme arrisca um apelo universal, com trechos slasher aterrorizantes alternados por interações adoráveis com os animatrônicos, mas o resultado é inconsistente. Ainda assim, dessa bagunça incongruente os campeões são os animatrônicos, que devem conquistar o público e ampliar o alcance da marca Five Nights at Freddy’s.
Acima de tudo, esta é uma experiência imperdível para os fãs, que serão responsáveis por abarrotar as salas e ser a força motora de promoção do filme.
Five Nights at Freddy’s – O Pesadelo Sem Fim chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (26).
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