A Massive Monster o convoca para uma tarefa nada simples: instaurar e liderar o seu próprio culto religioso. Cult of the Lamb, que chega nesta quinta-feira (11), é uma experiência divertida, charmosa e fofa, ainda que macabra. 

O título distribuído pela Devolver Digital não é o melhor roguelike já feito, mas com certeza brilha e impacta com o gerenciamento da comunidade de fiéis. 

Imagem de Cult of the Lamb
Reprodução: Massive Monster/Devolver Digital

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Congregação 

Imagem de Cult of the Lamb
Reprodução: Massive Monster/Devolver Digital

A experiência de Cult of the Lamb é dividida em duas seções principais: o dungeon crawler roguelite, em que é preciso avançar por masmorras geradas aleatoriamente, e o que podemos chamar de “simulador de culto”, em que é necessário construir sua base e gerir sua congregação de fiéis. E essa segunda parte dessa joia chamada Cult of the Lamb é a que, com certeza, brilha mais. 

A Massive Monster teve sucesso em proporcionar o sentimento de fazer parte de uma comunidade viva – e é muito satisfatório construí-la ao seu redor, pois nada é entregue de mão beijada. 

Incubido de construir o império da fé d’ Aquele que Espera, você começa com o que é literalmente um terreno baldio: não há nada além de mato alto, árvores e entulhos de pedra. É necessário, então, edificar a sua Igreja do zero, organizando os animaizinhos que converter para que realizem uma série de tarefas diárias.

Imagem de Cult of the Lamb
Reprodução: Massive Monster/Devolver Digital

O gameplay na base de operações consiste no casamento de elementos de Age of Empires, Stardew Valley e Animal Crossing, resultando em uma mesa farta para os fãs de simulação.

Além de cortar madeira e extrair minérios, seus seguidores serão responsáveis por construir estruturas, cultivar alimentos, refinar materiais, limpar dejetos e, claro, orar no santuário. Quanto mais devoção acumular, mais você conseguirá avançar pela progressão do solo sagrado, desbloqueando novos edifícios e recursos que propiciem a sua sobrevivência nas missões. 

É incrível e recompensador acompanhar a sua comunidade crescendo junto com você. Pregar sermões diários, abençoar fiéis, ouvir confissões e realizar rituais é essencial para desbloquear novas habilidades, armas e garantir aumento de vida.

Também é importante garantir que a qualidade de vida deles está boa antes de partir para as masmorras, pois os membros podem se rebelar contra você e pregar contra a sua fé, com a chance de converter outros fiéis. 

Imagem de Cult of the Lamb
Reprodução: Massive Monster/Devolver Digital

E fique esperto para que o seu solo sagrado não se torne um lixão à céu aberto, pois seus seguidores vomitam e fazem cocô constantemente, o que pode ser fonte de doenças que, quando não tratadas, podem levar à morte. 

Um dos quesitos que tornam Cult of the Lamb tão divertido é a forma bem humorada com que a dicotomia do profano e sacro é abordada. O jogo fornece diversas ferramentas de personalização, deixando-o livre para construir e edificar a sua doutrina da forma que bem desejar. 

Ou seja, se quiser tacar o terror, sinta-se à vontade: assassine infiéis para servir de exemplo, sacrifique idosos para aumentar a fé da comunidade, instaure o canibalismo, faça um ritual de lavagem cerebral para que seus servos sejam mais eficientes. Temível ou misericordioso, como líder você precisará consumir a fé dos seguidores para ser mais forte na sua missão. 

Além de ser um gameplay relaxante e intuitivo, a sensação de conforto e recompensa ao ver o seu terreno decorado e com condições melhores para a sua população é marcante. Contudo, ainda mais comparado a títulos como Animal Crossing: New Horizons, nota-se que Cult of the Lamb carece de mecânicas básicas que facilitam o processo de decoração. 

Por exemplo, apagar uma trilha de pisos colocada no chão por engano é uma tarefa árdua porque precisa ser executada ladrilho a ladrilho, enquanto seria muito mais fácil selecionar vários e excluí-los de uma vez. 

Martírio

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Reprodução: Massive Monster/Devolver Digital

Para manter sua congregação de pé, é necessário encarar as dungeons aleatórias e se expor aos perigos como um verdadeiro mártir. Nas masmorras você coletará o material essencial, converterá novos fiéis e acompanhará o desenrolar da história. 

O enredo de Cult of the Lamb é simples: você é um cordeiro que deve expandir a fé de um deus satânico, destruindo infiéis e os sacerdotes da chamada “Antiga Fé”. A narrativa não evolui muito mais que isso, mas foi interessante perceber as críticas sutis e ácidas ao conservadorismo escondidas no game. 

Contudo, como roguelite, Cult of the Lamb poderia ser melhor, ainda mais em relação a expoentes do gênero, como Hades. O combate é ágil e, para maior precisão, o próprio jogo indica que se use o controle ao invés de mouse e teclado – no caso da versão de PC testada para esta crítica. Contudo, a fluidez dos confrontos é em parte comprometida por elementos demais na tela. 

Imagem de Cult of the Lamb
Reprodução: Massive Monster/Devolver Digital

Os mapas aleatórios são formados por diversos objetos decorativos como grama e pedras. O motivo de estarem ali é, sim, compreensível, visto que podem ser minerados pelo jogador. Porém, a tela seria um tanto menos confusa se esses elementos fossem dispostos em menor quantidade, e não seria tão frequente ser surpreendido por inimigos ocultos na grama alta. O impacto que isso acaba tendo no combate é nítido quando comparado, por exemplo, a Death’s Door, outro jogo da Devolver que possui cenários mais limpos e minimalistas.

Também é perceptível a repetição de um mesmo ataque durante todo o jogo, em que adversários disparam uma sequência de esferas amarelas em direção do jogador. Ele é usado frequentemente tanto por inimigos quanto por chefões, e isso colabora para uma tela que chega a ser confusa e para uma certa monotonia com o passar do tempo. As batalhas contra chefe, nesse quesito, poderiam ter maior variedade. 

A arma e habilidade especial são dispostas aleatoriamente no início de cada masmorra – sendo assim, não é possível escolher o que você vai usar para se defender. Enquanto, por um lado, isso incentiva maior flexibilidade do jogador e adiciona variedade ao gameplay, me peguei frustrada quando tive à disposição apenas uma arma que não gosto de usar e acabava morrendo por causa disso. 

Imagem de Cult of the Lamb
Reprodução: Massive Monster/Devolver Digital

É claro, antes do chefão, é comum encontrar um ferreiro que possibilita mudar seu armamento – contudo, não é garantia que sua arma de preferência estará lá. 

Ainda sim, os adversários se movem com agilidade, tornando os combates eletrizantes. A aleatoriedade presente nas dungeons também dá movimento e variedade ao roguelite. Um destaque fica para Clauneck, o vendedor de cartas de Tarô que encontramos com frequência nas dungeons. 

Cada carta possui seu próprio poder, garantindo efeitos especiais às armas, vida extra e mais. É notável que a inteligência artificial, inclusive, percebe quando o jogador precisa de uma “forcinha”: por exemplo, caso esteja com vida baixa logo no início da dungeon, cartas de vida e corações são encontrados com maior frequência. 

Incubência divina

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Reprodução: Massive Monster/Devolver Digital

Cult of the Lamb é relaxante, divertido e hilário – algumas surpresas que o jogo reserva, inclusive, prometem fazer você gargalhar alto. O choque da fofura com o macabro torna tudo ainda mais engraçado e único, e o game esbanja charme com seus personagens peculiares, cenários estilizados e trilha sonora eletrônica e relaxante. Os temas que tocam no seu culto são especialmente viciantes.  

O game da Massive Monster não se posiciona entre os melhores roguelites do mercado e percebeu-se alguns bugs durante os testes, como quedas de framerate quando muitos elementos se encontram na tela, texturas que piscam e edições no mapa que não salvam, mas nada que impacte de forma substancial a experiência. 

Imagem de Cult of the Lamb
Reprodução: Massive Monster/Devolver Digital

Para essa crítica, o jogo foi testado por cerca de sete dias, então fica a curiosidade para comprovar qual será a sobrevida de Cult of the Lamb uma vez que for lançado. Há várias atividades para fazer no mundo, como pescar, completar sidequests e até um minigame no estilo de Gwent, de The Witcher. Também há motivos para retornar às dungeons já completas, para além de manter o estoque de recursos da sua comunidade. 

Um ótimo indicativo é que, mesmo com o jogo já zerado, consigo me ver retornando a ele por muito tempo ainda só para visitar meu culto e interagir com meus seguidores. Isso, por si só, demonstra o carisma e poder do jogo.

Cult of the Lamb chega nesta quinta-feira (11) para PS4, PS5, Xbox One, Xbox Series X|S e PC (via Steam).

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Cult of the Lamb
  • Lançamento

    11.08.2022

  • Publicadora

    Devolver Digital

  • Desenvolvedora

    Massive Monster

  • Gênero

    Roguelite, aventura, simulação

  • Testado em

    PC

  • Plataformas

    PC Xbox One Xbox Series X Xbox Series S PlayStation 4 PlayStation 5 Nintendo Switch

Nota do crítico