Rasgar elogios a Alan Wake 2 é quase inevitável, pois são todos justificados. Afinal, estamos falando do jogo que é, sem sombra de dúvidas, a obra-prima da Remedy Entertainment e a segunda maior surpresa de 2023 nos games.
Explorando novas possibilidades para o terror de sobrevivência, a jornada desnorteante e inesquecível de Alan e Saga mistura horror, humor e esquisitice para criar um vortex magnético que prende do início ao fim – e além, perdurando com o jogador.
Horrores e maravilhas do mundo distorcido
Ao terminar o game, o aspecto que mais se destaca é o sucesso da narrativa – um elemento que o estúdio finlandês, enfim, adquiriu maestria. Mistérios e revelações são apresentados em dose equilibrada desde o primeiro capítulo, criando o magnetismo que rapidamente conquista o interesse.
É no choque entre real e irreal que a Remedy encontra abertura ao humor e ao espetáculo, esbanjando criatividade para apresentar ideias mirabolantes de gameplay com inserção de live-action. Também é nesses momentos que o estúdio mergulha de cabeça no universo compartilhado de seus jogos, que aqui alcança um novo e épico ápice.
O gancho exercido pelo jogo é amplificado pela complexidade fascinante dos personagens, algo que já era presente no primeiro jogo, mas que aqui foi construído além, oferecendo um olhar profundo no psicológico de Alan Wake e Saga Anderson.
No controle de Alan, a sensação de desnorteamento é constante. A psique abalada do protagonista é espelhada no gameplay de forma engenhosa. Exemplo disso é a dubiedade das sombras que habitam as ruas do Lado Obscuro, de forma que cada encontro é sempre formado por segundos de ansiedade antes da sombra atacar ou, senão, se dissipar no ar.
O desnorteamento atrelado às interações com o Lado Obscuro eleva o suspense de forma espetacular. Nas viagens de Saga às Sobreposições, o desconforto é palpável conforme exploramos ciclos de repetição até descobrir como avançar pelos cenários labirínticos.
Em poucas palavras, a ambientação de terror é primorosa nesse jogo – e que pena que ela não é acompanhada de mais monstros e sustos, principalmente no caso da agente do FBI. A sensação é que o horror é construído com muita eficácia, mas nunca é recompensado de forma apropriada. Fica a ansiedade, sendo assim, para ver a Remedy explorando esse aspecto com mais afinco no futuro.
Brilhantismo no gameplay investigativo
Alan Wake II se resume a dois jogos em um só, algo garantido pela inserção intercalada de duas jogabilidades diferentes. Há uma delas, contudo, que brilha mais: o gameplay investigativo com Saga.
Não é exagero afirmar que Alan Wake II está entre os melhores jogos investigativos já feitos. Além de verossímil, o quadro investigativo do Lugar Mental funciona brilhantemente, colocando nas mãos dos jogador a tarefa de interligar as evidências e encontrar a solução por si mesmo.
O quadro também garante uma forma fácil de recordar os principais acontecimentos e evidências até aquele ponto de forma acessível. É um recurso que cumpre seu papel tão bem que se a Remedy o restringir a esse jogo.
O Lugar Mental de Saga, inclusive, é cenário de um dos momentos mais primorosos de Alan Wake. O quadro de pistas ganha um novo sentido ao se unir ao desconforto do terror psicológico, em uma reflexão lúdica sobre a depressão. Não entraremos em detalhes para evitar spoilers mas, de fato, trata-se de uma das coisas mais tocantes que já vi em um game.
Saga Anderson entra para a história dos games como uma protagonista complexa e cativante, uma mulher negra que usa de sua inteligência e coragem para enfrentar um pesadelo desnorteante de frente e salvar aqueles que ama.
Percalços
Os acertos da Remedy se acumulam ao ponto de posicionar Alan Wake II entre os títulos mais consistentes do ano. A narrativa, ambientação, direção de arte, gameplay e combate garantem saldo positivo, mas o game não é imune a percalços.
Notoriamente, o jogo chegou com um glitch sério que corrompe o arquivo de jogo no capítulo Return 5. O erro já afligiu uma série de jogadores, forçando o recomeço após cerca de 10h de gameplay.
Passadas duas semanas desde o lançamento, percebe-se que este capítulo específico continua tomado por bugs – uma pena, pois se trata de um dos melhores com Saga. Nos nossos testes, inimigos ficaram presos em portas, houve queda na taxa de quadros e as partículas de luz do atordoamento com a lanterna foram trocadas por um grande quadrado branco.
Outro momento com Saga, uma batalha importante de Return 7, também segue com problemas de performance. Além da queda de FPS, os inimigos constantemente ficam presos ao chão ou ganham movimentos bruscos. Um momento que deveria ser épico e eletrizante, sendo assim, ficou bastante maluco e hilário.
Curiosamente, os problemas de performance afligem apenas alguns capítulos do game, ficando completamente ausentes na maioria da experiência.
Há duas problemáticas, porém, que são constantes: os pontos de salvamento automático são espaçados demais, ao ponto de forçar o costume de salvar manualmente com frequência. Também é constante o sumiço das flechas da balestra no corpo de inimigos abatidos, algo que inibe o uso de uma das armas mais fortes do jogo.
Mas, na somatória final, estes são problemas que parecem diminutos perto da impressão final deixada pelo game.
Conclusão
Alan Wake II é um espetáculo que não cansa de surpreender. Aqui, a Remedy Entertainment coloca em prática o amadurecimento adquirido ao longo de quase 30 anos de estúdio para entregar um título de terror de sobrevivência icônico.
A proposta de “tornar a ficção realidade” enfim encontra seu verdadeiro potencial, sendo usada como ponte para soluções de gameplay que esbanjam criatividade e inovação.
Embalada por gráficos de tirar o fôlego e uma narrativa que funciona tanto como peça como parte de um todo, esta é uma jornada metalinguística de introspecção que será lembrada por anos a fio.
Alan Wake II está disponível para PS5, Xbox Series X|S e PC (via Epic Games).
Hey, listen! Venha se inscrever no canal do The Enemy no YouTube. Siga também na Twitch, Twitter, Facebook e TikTok ou converse com o pessoal da redação no Discord.
Aliás, somos parceiros do BIG Festival, o principal evento de jogos da América Latina, que aproxima o público com o desenvolvedor de jogos. Vem saber mais!