The Last of Us chega aos 10 anos com um legado inigualado

O jogo que estabeleceu um novo paradigma para qualidade narrativa nos games

Por Diego Lima 19.06.2023 19H30

O potencial dos videogames como um meio para contar histórias foi subestimado por décadas. Mesmo que, desde os anos 1990, jogos como Final Fantasy VI e Chrono Trigger já existissem, por exemplo, a maior parte das pessoas que viviam fora da "bolha" dos jogos demorou até The Last of Us, lançado em 2013, para entender quão impactantes poderiam ser os universos criados para esse tipo de mídia interativa.

Jogos, filmes e as diferenças que existem

Quando pensamos em outras formas de arte que combinam imagem e som para construir uma história, como o cinema ou mesmo o teatro, é nítido que o apreciador de um filme ou uma peça assume um papel passivo.

Espectadores, como a palavra indica, acompanham os acontecimentos, sim, mas não interferem, em momento algum, no desenrolar do que está em exibição. Existem exceções, como no caso de Bandersnatch, da série Black Mirror, mas a regra é a ausência de interação.

Jogos, por outro lado, exigem que os jogadores coloquem os acontecimentos em curso. Em muitos casos, de maneira roteirizada, sim, mas ainda resta o sentimento de responsabilidade em quem está com o controle nas mãos.

No controle de Joel, durante o clímax do primeiro The Last of Us, por exemplo, é difícil ignorar o desespero sentido pelo protagonista, que nos leva a matar dezenas de cientistas que poderiam salvar a humanidade somente porque ele, assim como muitos de nós, queria salvar Ellie.

O jogo definitivo do console em que foi lançado

Desenvolvido pela Naughty Dog como um exclusivo de PS3, o primeiro The Last of Us marcou o ponto de revitalização, na medida do possível, daquele que com certeza foi o console mais fraco da Sony.

Se, por um lado, o PS1, o PS2 e o PS4 lideraram as gerações de que fizeram parte (na comparação direta com os consoles da Microsoft, rivais dos da Sony), o PS3 marcou um ponto fora da curva — e foi The Last of Us que fez com que muitos jogadores cogitassem, finalmente, adquirir um PS3.

Honestamente, não é difícil entender o motivo. Até aquele momento, em 2013, por mais que Hideo Kojima já estivesse trabalhando com a aplicação de ideias cinematográficas na série Metal Gear Solid, por exemplo, faltava um jogo que unisse a proeza técnica ao "gosto popular", digamos assim.

Uma jornada extremamente pessoal

A aposta da Naughty Dog, em parceria com a PlayStation, não foi uma história cheia de reviravoltas políticas em um mundo extremamente complexo ou uma jornada fantástica marcado por elementos mágicos. Não. Foi um drama situado em uma realidade distópica na qual o protagonista era um homem traumatizado por ter testemunhado a morte da única filha.

Foi um momento histórico para os jogos. O primeiro The Last of Us não apenas foi um sucesso comercial como também conquistou críticos do mundo inteiro, se tornando um dos jogos mais bem avaliados de todos os tempos.

O jogo impressionou até mesmo as pessoas que associavam jogos somente a desafios interativos pensados para crianças e adolescentes. As atuações eram de alto nível, o desenvolvimento dos personagens ao longo da trama era considerável e a jogabilidade, focada na furtividade, era engajante. Um pacote completo, basicamente.

A sequência, intitulada The Last of Us Part II, aumentaria ainda mais o nível ao deixar jogadores extremamente apreensivos em relação ao que seria obrigados a fazer para dar prosseguimento à história. No papel de Ellie, jogadores cometem atrocidades impensáveis. No de Abby, somos obrigados a enfrentar aquela que, no primeiro jogo, nos esforçamos tanto para salvar.

Poucos são os jogos que despertam sentimentos tão intensos nos jogadores quanto The Last of Us. É justamente por isso que essa franquia, que se destacou tanto até mesmo fora da bolha dos games, deixou um legado que não pode ser igualado em termos de como comprova a eficácia narrativa da mídia que conhecemos como videogames.

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Em apenas uma década, The Last of Us inspirou séries gigantes, que vão desde o reboot de God of War, que passou de um hack and slash totalmente focado na ação para uma aventura profundamente emotiva, até Uncharted e A Plague Tale.

A indústria, simplesmente, nunca mais foi a mesma depois de conhecermos as histórias de Joel, Ellie, Abby, Dina e todos os outros personagens que compõem esse universo.


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