Imagine você chegar atrasado em todos os compromissos que tem marcado em um dia. Todo mundo já está lá. Se for uma festa, você perdeu boa parte da diversão. Se for uma reunião, perdeu muitas informações importantes. Mas você insiste em ir, mesmo assim, e dar sua contribuição para que os compromissos continuem a acontecer, pois você é uma pessoa legal, e pode ter algo de bom para acrescentar. Esse é o sentimento com Concord, novo exclusivo da Sony, jogo online e focado em multiplayer, que será lançado no PS5 e PC em 20 de agosto.
Testei o beta de Concord nos últimos dois dias e os sentimentos foram mistos. Produção do Firewalk Studios, um grupo novato e formado por veterenaos do PlayStation Studios, Concord promete marcar sua estreia cheio de incertezas. Não se trata de um jogo ruim, muito menos mal feito, mas o timing parece errado, se é que podemos classificar assim. Ao mesmo tempo, o mercado de games é meio incoerente, por muitas vezes, e algumas "zebras" surgem a todo momento. Seria este mais um caso de azarão que vai encontrar seu lugar ao sol?
Quando Concord foi anunciado, com um grande trailer, muitas foram as comparações com Guardiões da Galáxia, grupo de aventureiros da Marvel que ninguém sequer conhecia, até que viraram filme, 10 anos atrás. Não é para menos: o que vimos no trailer inicial foi uma dinâmica parecida. Personagens de raças variadas, mercenários que viajam pelo espaço e piadinhas, piadinhas mil que dão o tom do tipo de humor que o jogo iria oferecer. Tudo bem próximo não apenas de "Guardiões", mas também de outras produções do Marvel Studios - algo que dita narrativas populares usando conceitos de heroísmo e ação nos últimos anos.
Mas vamos ao que interessa: a jogabilidade. Concord é um "hero shooter", como é chamado do gênero que abraça jogos no estilo Overwatch. Há duas equipes que disputam pontos em um mapa, onde cada personagem é um herói com habilidade distinta, entre os outros. Normalmente as partidas envolvem disputar "kills" e, em alguns casos, capturar bandeiras ou acompanhar cargas que se movem até o outro lado do cenário. O beta de Concord continha alguns destes modos, mas ele se concentrava no primeiro, o de eliminar adversários e vencer a partida com base nisso.
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A jogabilidade é em primeira pessoa e existem heróis especializados em dano, cura, suporte e por aí vai. As ofertas são boas, há uma variedade que agrada e dá para criar dinâmicas interessantes entre seus parceiros de time, mas não vai muito além. Tudo é bem básico, talvez por ser um beta, mas a impressão que ficou é que Concord não vai tentar ser muito além disso. Há os rotineiros sistemas de níveis, elementos de personalização dos personagens - que são desbloqueáveis, não compráveis -, além de missões que variam de acordo com a época ou partidas e que envolvem tarefas pontuais (eliminar uma quantidade de alvos, realizar assistências, etc).
Na verdade, para além de tentar ser um hero shooter, Concord tenta mesclar vários jogos em um. Quem tem um certo repertório em jogos de tiro mais atuais do mercado vai reconhecer outras similaridades: há elementos de Fortnite, Valorant e Apex Legends, tudo isso misturado ao título da Blizzard. Isso é bom? Isso é ruim? Depende. O próprio Fortnite foi criado com forte inspiração em outro game de seu gênero, o PUBG. Valorant se baseia em Counter-Strike. League of Legends veio de Dota, os exemplos não faltam. A máxima do "nada se cria, tudo se copia" é válida em todos os aspectos? Nem sempre. É preciso ter criatividade até na hora de tentar copiar.
Não é exatamente um crime lançar um jogo que se parece com o outro. Seguir tendências, algoritmos, gerar um produto que é fruto de suas influências. Os produtores do Firewalk podem ser muito fãs de hero shooter e quiseram fazer o seu, contribuir com sua visão para o mundo. O problema é como isso é recebido pela percepção do público.
O beta inicial de Concord é decente. Não encontrei nenhum problema que me incomodasse ou jogabilidade ruim. A transição de menus talvez possa ser um pouco mais rápida, mas apenas isso. Me divertiu por algumas horas. Joguei, inclusive, algumas partidas utilizando o PlayStation Portal, para testar a conexão do reprodutor portátil em um game multiplayer competitivo. Não posso dizer que foi chato. Acredito que seja um game que vai encontrar seu público e sempre podemos ter surpresas. Ninguém diria que Helldivers 2 seria um enorme sucesso como foi, mesmo sendo um título pago. Aliás, é bom destacar este ponto, inclusive...
Concord é um jogo pago. Sua pré-venda mais barata está por R$ 199,50 na PSN brasileira. Não é um valor baixo e é comparável com outros grandes títulos - incluindo o já citado Helldivers 2, que também é multiplayer mas com uma proposta completamente diferente. A maioria de seus concorrentes são gratuitos. Mesmo o já super citado Overwatch começou como um título comercializado mas que migrou para o formato "free to play". É um pouco complicado justificar o investimento em algo deste valor, com tanta oferta disponível no mercado, para não dizer que são "ofertas melhores", pois isso pode variar de acordo com o gosto deo freguês.
O beta inicial de Concord já está em sua fase final. Foi limitado a assinantes PS Plus e compradores da pré-venda, além de imprensa. Todo mundo vai ter a oportunidade de testar em um segundo acesso, que ocorre entre os dias 18 e 21 de julho. Te indico bastante se você tem o costume de jogar hero shooters, mas sobre seu futuro no mercado, vale o meme: vamos ver o que vem por aí, não dá para saber ainda.