GTA 5 é brilhante desde o primeiro segundo
Joguei a introdução pela milésima vez no PS5
Há algum tempo, me perguntei se um dia seria obrigado a jogar a introdução de GTA 5 de novo. Bom, com a chegada das versões de PS5 e Xbox Series, veio também a resposta: sim.
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Já ciente dos acontecimentos, decidi focar em como aquela sequência de abertura inteira foi dirigida; tentei enxergar uma mesma introdução por outra perspectiva, que me permitisse ver qualidades além da função de tutorial jogável.
Ironicamente, a primeira coisa que me chamou atenção foi a troca de personagem do Trevor para o Michael. Foi o bastante para fazer passar a sensação de que aqueles poucos minutos levariam uma década para acabar.
Quando, finalmente, entrou a cutscene em que Michael supostamente morre, acabei percebendo algo que me deixou intrigado: nem passou pela minha cabeça trocar de volta pro Michael antes daquela cena.
Mesmo que Michael assuma o controle do carro, que também dirigimos brevemente na introdução, acabei absorvendo tudo pela visão do Trevor. Esse é um ótimo exemplo de como mecânicas do jogo podem ajudar no desenvolvimento e na imersão da narrativa, mas ainda vamos além. Afinal, a introdução não se resume à missão em questão.
Passada essa cena do banco, temos aquele corte maravilhoso para o enterro do Michael, que começa com o padre, pastor ou sei lá detonando o Michael.
"Ele nem sempre foi um bom marido, nem sempre foi um bom cidadão e não teve uma morte heróica", é dito sobre Michael. Essa introdução é muito típica do humor de GTA. Né?
A Rockstar sabe quando a história do jogo precisa ser levada a sério (se é que precisa) e quando é fundamental tirar sarro da situação.
De fato, o Michael não era um cara legal. Isso não pode mudar só porque ele "morreu". Aliás, as pessoas podiam até estar chorando pela morte dele, mas, para aquele padre, a verdade precisava ser dita mesmo em um momento de dor, o que pode parecer insensível.
No final das contas, nada disso importa. Michael não estava morto. As pessoas não estavam realmente chorando por ele e, mesmo que algumas ali não soubessem da verdade, dificilmente elas se sentiam apegadas de verdade ao personagem em questão. O mais provável é que sejam apenas figurantes tentando consolar Amanda.
Logo em seguida, aparece o logo de Grand Theft Auto V, o jogo AAA que não sai das listas de jogos mais vendidos do mês desde que foi lançado, lá em 2013.
A próxima cena, situada bem depois do enterro falso, coloca Michael diante de um psicólogo. Ele chegou "no fim da estrada", como diz na conversa. Esse era o objetivo da vida cheia de riscos que Michael levou.
O psicólogo pergunta, antes de qualquer coisa, sobre o filho do Michael. “James é um bom menino?” E o Michael dá aquela pirada, em que ele avalia o que seria um "bom menino" dentro da lógica social contemporânea.
Ele começa falando que o filho dele não ajuda os pobres, achando que essa poderia ser uma das respostas que o psicólogo estava esperando se o filho dele fosse um "bom menino". Em seguida, ele fala que o James fica sentado o dia inteiro fumando maconha e descascando banana enquanto joga algum jogo.
Essa frase se dirige a várias pessoas simultaneamente. Ao James, obviamente. Ao jogador, já que pode também ser uma piada com quem tá jogando. E a quem confunde não cometer crimes com ser um cidadão exemplar.
Obviamente, não é como se o Michael tivesse moral para tratar do assunto, mas, provavelmente, esse é exatamente o ponto: ninguém tem. Não existe cidadão exemplar.
Essa conversa do Michael é fundamental para dar o tom de uma história em que o jogador nunca é o cara "bonzinho", jamais. E aqueles que deveriam representar o bem se mostram tão corruptos quanto os que vão abertamente contra todas as leis ao longo da história.
Esses cidadãos exemplares, inclusive, são mais covardes ainda, porque metem a bravata do "bom cidadão" sempre que podem, mas contribuem pouco ou nada para tornar o mundo um lugar mais receptivo. Qualquer paralelo com a realidade é mera coincidência.
Honestamente, não pretendo jogar essa abertura de novo. No entanto, foi legal rever todas essas cenas com um novo foco até a chegada do Franklin, que aparece depois daquela música maravilhosa que rola enquanto vemos paisagens de Los Santos.
Ah, GTA 5... Me pergunto se algum jogo da série um dia superará o fenômeno que foi o quinto jogo numerado da franquia. Confesso: acho quase impossível.