Review: Trials of Mana

Clássico perdido da era 16-bits ganha ótimo remake 3D de história e combates simples e divertidos

Por Claudio Prandoni 04.05.2020 09H00

Entre altos e baixos, a série Mana sempre carregou verdadeiros elementos de jornadas lendárias, cheias de magia e fantasia. Prova maior disso é este novo Trials of Mana, um ótimo remake em 3D de um dos episódios mais celebrados da série - e também um dos mais difíceis de curtir até então.

Lançado originalmente em 1995 para o Super Famicom apenas no Japão, o cartucho Seiken Densetsu 3 brilhou como um dos melhores RPGs de ação na vasta biblioteca do videogame da Nintendo.

Graças ao sucesso de crítica de Secret of Mana dois anos antes era esperado que o título chegasse também ao ocidente, mas não foi o que aconteceu. Baixas vendas neste lado do mundo tornaram difícil justificar o investimento na localização de um jogo cheio de textos e diálogos, especialmente por ele apresentar seis personagens diferentes para escolher, com uma imensa variedade de conversas.

Décadas depois, o que começou como um projeto humilde de remakes da franquia enfim floresceu nesta versão de Trials of Mana, a redenção final de Seiken Densetsu 3. O jogo mostra que a equipe de desenvolvimento da Square Enix aprendeu com as limitações e problemas dos remakes de Adventure e Secret of Mana para enfim dar à franquia o tratamento que ela merece e uma chance justa de cativar o público ocidental.

Trials of Mana começa com uma proposta bem original: o jogador deve escolher três dentre seis heróis diferentes, sendo que um deles será o protagonista e os outros dois companheiros ao longo da aventura.

Cada personagem tem uma história de origem própria e habilidades únicas, garantindo de cara uma enorme variedade e motivos para jogar de novo após terminar a campanha, que leva pouco mais de 20 horas para finalizar.

Ainda que ao longo do caminho os aventureiros se encontrem e resultem em partes iguais da jornada seja lá qual combinação você selecionar, há diferenças grandes o bastante de cenários e vilões para justificar os replays.

Na prática, trata-se de uma aventura de fantasia tão repleta de magia que parece um conto de fadas. Os ingredientes básicos estão todos lá: cavaleiros sagrados, fadas, espíritos elementais, espadas lendárias e tudo mais que combinaria perfeitamente em uma campanha de D&D ou qualquer outro RPG japonês de videogame nos anos 80 e 90.

O resultado é uma jornada leve e descompromissada, fácil de acompanhar e também de se envolver. Isso é facilitado ainda mais pelos gráficos bem competentes, que trazem cenários e figuras coloridas, ainda que muitas das animações e interações com os lugares sejam bem básicos.

A trilha sonora, ao menos, ganhou tratamento mais apurado: o próprio compositor original de 1995, Hiroki Kikuta, supervisionou os novos arranjos e, para os mais nostálgicos, é possível também abrir mão das trilhas arranjadas (algumas até gravadas com orquestras reais!) e optar pelas músicas originais do Super Famicom.

Outro elemento de destaque em Trials of Mana é o sistema de combate, que brilha pela variedade de classes dos personagens e suas possibilidades de evolução ao longo da campanha. Cada herói tem uma classe específica que define sua atuação em combate, seja como espadachim, monge, mago de ataque ou suporte, lanceiro e ladino.

A princípio, todos são muito parecidos, mas confome a turma sobe de nível e aprende novas habilidades as combinações de estratégia vão se abrindo e são essenciais para se dar bem nos combates, em especial contra os chefões, que não costumam aliviar. Eventualmente, Trials of Mana permite mudar a classe dos personagens, com variações de luz e trevas, concedendo bônus de atributos e golpes diferentes.

Bem fiel à aventura original da era 16-bits, Trials of Mana em sua nova encarnação tridimensional se destaca ainda por trazer novos conteúdos após terminar a campanha na forma de uma dungeon inédita, uma chefona bem difícil e classes adicionais para os guerreiros. Por outro lado, o jogo perdeu o elemento multiplayer presente no original, tornando-se uma experiência completamente single player.

Em tempo, para quem quiser conhecer o Trials of Mana do Super Nintendo ele recebeu um lançamento oficial em inglês em 2019, na coletânea Collection of Mana, exclusiva do Switch.

Só é uma pena que, mesmo após tantas provações e desafios, Trials of Mana chega sem opções de legendas em português. Menus e textos em nosso idioma segue ainda como algo exclusivo dos episódios principais de Final Fantasy com relação aos games japoneses da Sqaure Enix, o que deixou de fora também (inexplicavelmente) o sucesso Kingdom Hearts 3.

Trials of Mana é um final feliz para uma trilogia repleta de desafios. Apesar de os remakes Adventures of Mana e Secret of Mana terem falhado em capturar o espírito dos games originais com qualidade, serviram de aprendizado e pontos de experiência para a Square Enix caprichar em Trials of Mana, que durante décadas era impossível de jogar de forma oficial no ocidente.

Mesmo com toda a simplicidade de uma trama típica de um RPG de ação dos anos 90 e a simplicidade às vezes extrema nos gráficos, é um game divertindo e cativante, simples e gostoso de jogar.

Nota do crítico