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Review: NBA 2K18

Um jogo igual ao Kobe Bryant: ótimo dentro das quadras, complicado do lado de fora

Por Guilherme Jacobs 26.09.2017 17H22

A evolução dos jogos de basquete nos últimos anos, particularmente os desenvolvidos pela Visual Concepts e lançados pela 2K Sports, se move em direção a um objetivo. Uma vez que as mecânicas dentro da quadra foram dominadas, os estúdios procuram recriar toda a experiência fora da mesma. Modos campanha nos quais você escolhe sua equipe, patrocinador, lida com dramas pessoas e interage com diversos personagens são o padrão agora, e já entraram em games de outras modalidades, como FIFA e Madden NFL.

NBA 2K18 - o mais novo título na linhagem da Visual Concepts - procura dar um passo além disso. Mais uma vez, a principal atração do jogo, junto com a presença dos 30 times (e todos os jogadores) atuais da liga norte-americana de basquete e diversas equipes históricas totalmente licenciadas, é o modo campanha no qual você cria seu personagem e tenta levá-lo de um desconhecido até o mais alto patamar do esporte. Mas se em anos anteriores o foco era mais na narrativa, ao ponto de que o diretor de cinema Spike Lee foi convidado para supervisionar a história, aqui ela é sacrificada em nome de um sistema mais moderno, totalmente online e muito dependente de microtransações.

2K Games

Fora das quadras

Seguindo o exemplo dos maiores títulos do mercado atualmente, como Destiny Call of Duty: WWII, 2K18 adiciona um hub social onde diversos jogadores podem ver uns aos outros e participar de atividades. Batizado de The Neighborhood, ele é, ao mesmo tempo, um exemplo excelente de como a Visual Concepts reinventa a roda periodicamente com sua franquia de NBA, e de como práticas negativas de publishers podem prejudicar um produto que seria, doutra forma, espetacular. 

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O modo carreira funciona totalmente dentro dessa moldura. Com o objetivo de levar seu jogador até a nota 99, você pode praticar na quadra do time, ganhar mais energia na academia - onde há diversos minigames para recriar os exercícios - fechar contratos de patrocínio com seu agente e experimentar as diversas regalias da vida de um jogador da NBA comprando roupas caras, fazendo tatuagens e mudando o estilo do seu cabelo. Também é possível ir para outras quadras e jogar contra adversários no multiplayer online.

É um sistema arriscado. The Neighborhood, por um lado, é um conceito novo nos jogos de esporte, um gênero que facilmente cai no estigma do 'mais do mesmo' se mal gerenciado, e é até possível perdoar a Visual Concepts pelos problemas que, claramente, vêm pela inexperiência do estúdio com essa ideia. Há muitas telas de carregamento entre uma e outra área, o local, apesar de estar recheado de outros jogadores, parece vazio e sem vida, e alguns minigames são confusos e difíceis de se controlar. Isso tudo são defeitos, mas é compreensível ver que há pontos negativos em algo novo como isso. Além disso, depois que um certo tempo passa e você encontra o seu ritmo - eu sempre jogo duas partidas da liga e depois faço uma sessão de academia e treino - o modo carreira passará a ser um ambiente mais confortável e divertido.

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O que torna a campanha frustrante, entretanto, são decisões que, aposto eu, vieram diretamente da 2K. Ter um espaço social é legal, mas construir tudo ao redor dele foi um erro tremendo, especialmente ao sacrificar a qualidade narrativa. Em nome de uma experiência mais ligada ao conceito de games como serviço, 2K18 perde qualquer semblante de um roteiro de qualidade. Há personagens e até mesmo momentos divertidos na história, mas apenas o suficiente para dar a ideia de um enredo. Além disso, quase tudo - da progressão de habilidades do seu jogador até um corte de cabelo novo - na Neighborhood gira em torno da moeda virtual do jogo, a VC. E como vocês já devem estar imaginando, isso significa uma quantidade absurda de microtransações.

"O que torna a campanha frustrante, entretanto, são decisões que, aposto eu, vieram diretamente da 2K"

Sim, você adquire VC jogando, e quanto melhor sua atuação na quadra, mais moedas são adicionadas à sua conta. Mas a quantidade que você ganha é pequena em comparação a todo o resto. Evoluir o personagem requer muito dinheiro virtual - quanto mais avançada a habilidade, mais caro é o custo para melhorá-la novamente. Naturalmente, isso vai fazer você pensar duas vezes antes de gastar qualquer coisa em uma tatuagem ou roupa nova. Até agora em meu tempo jogando, só comprei dois acessórios, ambos antes de perceber o quão desequilibrado o sistema era. Desde então, decidi usar o VC apenas para melhorar minha nota.

É uma escolha infeliz, e mesmo com uma atualização recente reduzindo os preços das coisas, o sistema é claramente quebrado. Eu espero que a má recepção não signifique que a 2K vai mandar a Visual Concepts pular fora dessa empreitada. Há boas maneiras de mesclar os elementos de multiplayer social com histórias cativantes e boa progressão, mas quando NBA 2K18 tenta fazer um malabarismo com tudo isso, o que chama mais atenção são as coisas que caem e quebram no chão.

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Dentro das quadras

Felizmente, enquanto há claras falhas no sistema ao redor do núcleo do jogo, NBA 2K18 acerta em cheio em praticamente todos os elementos de gameplay e apresentação. O trabalho de mecânicas funciona de forma impressionante, mais uma vez. Jogadores menos experientes rapidamente vão se sentir em casa com o básico, dominando o necessário para se divertir nas partidas e realizar os fundamentos do basquete. Já os veteranos vão entrar de cabeça nos elementos mais avançados, executando bloqueios, corta-luz e mudando sistemas de defesa.

Acho que não é exagero dizer que NBA 2K permanece o jogo de esporte mais complexo e profundo quando o assunto é jogabilidade. É fácil notar o quão maleável é o estilo de jogo quando a bola começa a quicar. Quase tudo que é executado nas partidas profissionais pode ser reproduzido in-game, o que à primeira vista pode ser intimidador, mas vai se tornando uma arma mais e mais confiável conforme você passa mais tempo aprendendo os comandos e dominando os sistemas de mecânicas da Visual Concepts.

NBA 2K18 segue o bom e velho esquema do "fácil de se aprender, difícil de se dominar." Você consegue fazer o básico sem grandes dificuldades, o que significa que a barreira de entrada para se divertir é baixa, mas se você pretende jogar no mais alto nível e enfrentar pessoas no PvP, é melhor se preparar para uma longa estrada. O basquete moderno é uma versão incrivelmente mais profunda do esporte que se popularizou mundialmente nos anos 90 com Michael Jordan, então nada mais justo que os games sigma essa evolução.

Se na NBA moderna as posições estão morrendo, bolas de 3 são cada vez mais importantes e os pick-and-rolls (corta luz) são o feijão com arroz dos ataques, tudo isso se reflete em 2K18. A quantidade de mecânicas pode parecer absurda, mas a Visual Concepts tem como objetivo criar algo que reproduz o que é visto nas quadras norte-americanas, e isso significa gerir mais e mais variáveis. A desenvolvedora, em grande parte, acerta em cheio.

Este é um jogo que não impede a entrada de novos jogadores, mas em nenhum momento eu me atreveria a chamá-lo de casual. O público que a 2K tem em mente são aqueles que passam horas assistindo aos melhores do mundo jogando basquete, e isso dá a Visual Concepts liberdade para se aprofundar ao máximo com suas mecânicas. É impressionante ver como o estúdio consegue trazer os conceitos complexos do mundo real para dentro do virtual e executá-los com o simples apertar de botões ou teclas.

"Este é um jogo que não impede a entrada de novos jogadores, mas em nenhum momento eu me atreveria a chamá-lo de casual."

Até os elementos mais simples, como passe e arremesso, são construídos com o maior cuidado. Não é atoa que alguns atletas da NBA dizem usar 2K para aprender mais sobre basquete e como times adversários jogam. O grau de realismo aplicado ao jogo é fantástico, e isso vai além da jogabilidade. Visualmente, 2K18 é um espetáculo. Os ginásios estão presentes em toda sua glória, e os jogadores são reproduzidos com uma fidelidade impressionante, especialmente as grandes estrelas da atualidade.

Conteúdo, conteúdo, conteúdo.

NBA 2K18 é recheado de conteúdo. Além do tradicional modo carreira, você pode jogar uma temporada da liga (seja no papel dos jogadores ou até mesmo do gerente geral, lidando com contratações, trocas e crises), participar de confrontos online ou se divertir com partidas hipotéticas. Será que o time de estrelas da conferência oeste atual, com Russell Westbrook, Stephen Curry, Kevin Durant, James Harden, Kawhi Leonard e outros nomes de peso, consegue encarar um esquadrão com os maiores nomes da história do Los Angeles Lakers, como Magic Johnson, Shaquille O'Neal, Kareem Abdul-Jabbar e Kobe Bryant?

Obviamente, conteúdo, por si só, não é um ponto positivo. Mas no geral, a Visual Concepts faz um bom trabalho em tornar todo modo ou tipo de jogo atraente. Algumas interfaces podiam ser mais simples e visualmente atraentes, mas o pacote completo de NBA 2K18 justifica, em grande parte, o seu preço e espaço no armazenamento (no PS4, ele ocupará 56.66 GB do seu HD). Esse é, tranquilamente, um jogo que te dará semanas e meses de jogatinas.

Há exceções. Esse é o modo campanha da série NBA 2K mais falho em anos, mas toda vez em que a bola sobe e você começa a jogar o que realmente interessa, as partidas de basquete, os defeitos desaparecem no fundo e o que sobra é uma excelente, profunda e complexa experiência reproduzindo um esporte que evolui e muda numa velocidade impressionante. Sempre que NBA 2K18 está dentro das quadras, ele é espetacular. Fora dela? Aí as coisas ficam complicadas.

"O Kobe Bryant dos games"

Ele é, em outras palavras, o Kobe Bryant dos games.

NBA 2K18 está disponível no PlayStation 4, Xbox One, Nintendo Switch e PC. Clique no nome das plataformas para ver o preço das versões digitais do jogo em cada uma. O jogo foi testado num PS4 normal.

Nota do crítico