Review: Metal Slug Tactics traz outro ângulo à mesma diversão
Game reinventa elementos clássicos da franquia em novo formato
Franquias como Metal Slug são algo raro, se formos parar para pensar. Temos muitas séries nos games que são tão velhas quanto, ou até mais, porém é difícil algumas delas se manterem tão fiéis a suas primeiras interações, tanto esteticamente, quanto mecanicamente. Final Fantasy, Mario, Doom, entre tantas outras se modificaram e aperfeiçoaram ao longo dos anos — alguns dirão que isso foi para o bem dessas franquias e outros dirão o contrário. Já Metal Slug não; o jogo se manteve bem fiel à sua ideia original ao longo de seus quase 30 anos de estrada, e Metal Slug Tactics vem para tentar dar um rebuliço nesses alicerces, apesar de se agarrar demais ao passado em alguns quesitos.
Metal Slug Tactics é um RPG tático com elementos de Roguelike, o primeiro da franquia do tipo. Você controla uma equipe de três personagens que devem passar por quatro diferentes biomas para enfim derrotar o vilão Donald Morden, que voltou mais uma vez, causando caos e destruição. Cada um dos biomas apresenta características e inimigos diferentes: no deserto, múmias podem infernizar a vida dos heróis, por exemplo. Da mesma forma, toda região apresenta um grande chefe final que deve ser derrotado para prosseguir. Caso todos os personagens morram, você volta para o começo e tenta de novo.
A parte Roguelike do jogo me lembrou Hades, onde entre cada “run” você desbloquea upgrades, personagens novos e conjunto de armas e habilidades que podem ser comprados com a moeda que ganha nas missões — não que isso seja exclusivo de Hades, é só que ele é muito bom nisso.
Os personagens começam cada tentativa no nível um e vão ganhando XP e upgrades conforme vão finalizando cada missão. Mas a parte que mais me lembrou do jogo da Supergiant foi a narrativa. Ao terminar uma run você não zera o jogo; na verdade, a história progride, com novos personagens e eventos aparecendo nas regiões. E mesmo se não conseguir completar a run, ainda há a chance de liberar cutscenes onde os personagens interagem na sua base. Tudo isso torna a experiência do jogo mais divertida, recompensadora e menos frustrante.
Em termos de estrutura o jogo é bem simples. Faça uma média de três missões em cada região, mate o chefe, e siga para o próximo local. A variedade de inimigos não é tão alta, e os chefes podem ficar um pouco manjados com o decorrer das diferentes runs, porém você pode customizar a dificuldade. As opções vão sendo liberadas conforme você obtém a vitória nas diferentes tentativas, o que também desbloqueia novos personagens. Mas a cereja do bolo está na estratégia, onde cada missão e mapa vão exigir diferentes abordagens do jogador.
O jogo não carrega Tactics no nome à toa. Cada missão demanda atenção redobrada. Devemos ficar espertos onde posicionar os personagens, a distância que eles podem atacar, quantos inimigos tem por perto, e por aí vai. Isso tudo é volátil, pois cada run é diferente da outra, com as habilidades e upgrades vindo de forma aleatória conforme se progride nela.
A mecânica de “Sinc”, onde as unidades podem ajudar no ataque da outra se estiverem no alcance, incrementa mais uma camada em cima disso. Diferentes heróis possuem diferentes armas e habilidades que interagem de formas variadas com essa mecânica, dando um ar de novidade em cada run, quando aparece uma habilidade nova para equipar, gerando combos surpreendentes e divertidos.
Porém, o jogo tem alguns percalços. Como disse no começo do texto, Metal Slug Tactics ainda se apega muito a certas questões dos jogos anteriores. A história em si é bem fraca, servindo mais como um pano de fundo para localizar a ação. Já a estética do jogo, apesar de ainda linda, o limita. Sejam as fontes do “HUD” um pouco simplórias demais, ou algumas animações que deixam a desejar, o que mais incomoda é a impossibilidade de girar a câmera para se localizar no mapa. A perspectiva das fases é um pouco confusa, e é fácil errar o posicionamento quando se tem diferentes níveis de altura, ou muitos inimigos na tela. Se a câmara pudesse girar no próprio eixo, esses problemas seriam sanados.
O que ajuda a lidar com isso é a possibilidade de retroceder o movimento da unidade, mas às vezes já é tarde demais. Os próprios mapas ficam repetitivos depois de um tempo, apesar de tentarem resolver isso com a posição dos inimigos sendo “randomizada”, mas o desafio nunca diminui, e o jogo continua sendo bastante carismático, com os chefes sendo as jóias da coroa dos animadores e designers
Desafios a mil, aquela pixel art canastrona da franquia, e muitas possibilidades de builds tornam jogar Metal Slug Tactics um frescor, mas em pequenas doses. Esse é aquele tipo de jogo que vai exigir o máximo da sua atenção, mas pode saturar se jogado por diversas horas seguidas. Um excelente jogo para se ter em um Nintendo Switch ou outro portátil, para assim que quiser um desafio é só pegar e atirar.