Review: Life is Strange 2 - Episódio 3: Wastelands
Sean e Daniel retornam em um capítulo que valoriza o que há de melhor na série: a relação entre os irmãos
Confesso que, depois do segundo episódio decepcionante, até tinha esquecido de Life is Strange 2. A história dos irmãos Diaz já não pesava tanto quanto no capítulo de estreia, e encarei a terceira parte da saga, Wastelands, com as expectativas lá embaixo.
Antes de tudo, é preciso criticar o intervalo de tempo entre os episódios: Rules foi lançado em janeiro deste ano, e somente quatro meses depois Wastelands foi disponibilizado. Para uma narrativa tão sutil, esse tempo é mais do que suficiente para se desapegar dos personagens principais e perder alguns detalhes da história.
O terceiro capítulo começa recapitulando o que já havia acontecido com Sean e Daniel: depois de terem seu pai morto e se virem obrigados a fugir de Seattle, eles passam pela casa dos avós - onde encontram Chris, o Captain Spirit -, e novamente precisam escapar da polícia.
As desventuras os levam a Cassidy, garota que Sean conheceu em uma feira. Junto dela e Finn, seu colega problemático, os protagonistas passam a morar em um acampamento e trabalhar em uma fazenda clandestina de maconha.
Seguindo um clichê gigantesco, a fazenda é propriedade de Merril, personagem extremamente rude. Aumentando ainda mais o clichê, o chefe de Sean e Daniel possui um capanga brucutu, Big Joe.
A personalidade de ambos não é explorada durante quase todo o capítulo, e a sensação transmitida é de que eles são malvados apenas para favorecer o desenrolar da história.
Wastelands não possui muitas novidades na jogabilidade: há mini-games de atirar facas e, pasmem, cortar plantas de maconha, mas são bastante esporádicos. No geral, o que mais destoa é a presença de mais interações com o poder de Daniel.
O retorno do protagonismo
Senti muita falta da relação fraternal entre Sean e Daniel no segundo episódio da série. Felizmente, ela retorna com bastante força em Wastelands: o caçula, sempre exibindo sua rebeldia, fica bastante próximo de Finn, já que ele fornece sua tão desejada liberdade: brincar com facas e falar o que quiser, sem medo das consequências.
Nesse panorama, Sean fica quase que jogado para o escanteio, e precisa reconquistar seu irmão aos poucos. Cada diálogo é importante em Wastelands; o jogador sente que não pode se afastar ainda mais de Daniel, e precisa escolher suas falas com todo o cuidado possível.
Coisas simples, como ajudar o irmão nas tarefas domésticas ou deixar de ficar até mais tarde em uma festa para dormir ao lado dele, são muito recompensantes e dão a sensação de que você está lidando com os personagens da maneira correta.
Em meio a essa instável relação de irmãos, Sean precisa relembrar o caçula de que seus poderes não são bem vistos pela sociedade, algo que se torna muito difícil com as influências de Finn. A personalidade forte - e, por vezes, apenas chata - de Daniel afeta seus comportamentos como um todo, e o jogador é responsável pela complicada missão de controlar os impulsos do garoto sem censurá-lo.
Sean também tem que lidar com seus sentimentos por Cassidy, um sutil interesse amoroso que cumpre a função de seu “porto-seguro” no acampamento. Naturalmente, o pequeno Daniel sente ciúmes da garota, outro ponto que precisa ser gerenciado pelo jogador a cada diálogo.
Existe um caminho certo?
A grande mudança desse episódio, superando até mesmo Roads nesse quesito, é o peso das decisões.
Foi a primeira vez em Life is Strange 2 que me senti obrigado a explorar mais caminhos do que aquele que escolhi inicialmente. Em alguns casos por puro arrependimento, outros por curiosidade mesmo.
De qualquer maneira, Wastelands deixa o jogador pensando se fez a melhor decisão a favor de Sean e Daniel, e esse é o grande trunfo dos jogos narrativos. Há uma sensação de que você é responsável por aqueles garotos, e as consequências do que você escolhe caem sobre seus ombros.
Conquistando novamente o jogador com um relacionamento genuíno entre dois irmãos, o terceiro episódio de Life is Strange 2 supera por muito o anterior, e se equipara ao primeiro em carga emocional.
Os vilões mal aproveitados, e algumas cenas soam como "filler" - apenas uma enrolação para alcançar o clímax. Ainda assim, caso você também tenha se decepcionado com Rules, vale dar uma nova chance à série.