Review: Kingdom Come: Deliverance 2 não conta uma história, ele te faz vivê-la
O RPG de ação é um dos melhores games de 2025
Kingdom Come: Deliverance 2 é uma verdadeira aventura medieval pelo Leste Europeu. Lutas épicas, batalhas em castelos, grandes cenários para explorar e principalmente uma grande história para ser contada.
Passei mais de 60 horas das últimas semanas só desfrutando desse jogo, que pra mim não está recebendo a atenção que merece. Durante as 10 horas iniciais já era de se notar mas agora dá pra cravar: Kingdom Come Deliverance 2 lembra muito The Witcher 3 de várias maneiras diferentes.
Kingdom Come: Deliverance foi lançado lá em 2018. O ano em que tivemos God of War, Red Dead Redemption, Marvel's Spider-Man e muitos outros jogos sensacionais, o que fez com que o RPG acabasse ficando um pouco de lado. Mas isso não tira a qualidade dele.
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Agora, após 7 anos, temos a continuação da história de Henry, que perdeu tudo e está reconstruindo sua vida. Caso você não tenha jogado o primeiro jogo, Kingdom Come Deliverance é um RPG de ação clássico: um mundo enorme pra você explorar, muitas missões secundárias e, claro, uma história envolvente.
O jogo também tem alguns elementos de sobrevivência. Você precisa dormir, comer, você sangra sem parar caso não use uma atadura, se cair de alguma altura significa que você vai machucar seus pés e ainda precisa se limpar da sujeira e do sangue. Tudo isso afeta o personagem.
Só que uma das coisas mais criticadas é o combate. O sistema é um pouco complexo, mas para Kingdom Come Deliverance 2 ele foi simplificado, com apenas 4 ou 3 pontos de ataque, dependendo da arma.
Isso torna mais fácil de entender essa mecânica, já que ela é a parte mais diferente do game, mas também deixa tudo mais estratégico. Você precisa olhar pro seu adversário e pensar com calma onde dar os ataques, ainda mais se você não quiser tomar um contra-ataque e ficar em desvantagem.
Como em um bom mundo medieval, você tem diversas armas para usar: espadas curtas e longas, alabardas, clavas e machados para as armas de corpo-a-corpo; à distância temos arco e flecha, bestas e a bombarda, que é uma arma de pólvora.
Todas elas são bem únicas e possuem seus meios para serem usadas da melhor maneira possível. Eu mesmo percebi que eu não tinha a habilidade necessária para usar o arco e flecha e optei por usar as bestas do início ao fim, já que achei mais eficiente também.
No começo você vai ter bastante dificuldade nos combates. Não só pela forma diferenciada dele, mas porque seu personagem é realmente ruim nisso. Você precisa aprender combos e técnicas com outros personagens, e aí sim você vai ver todo o potencial desse combate. Quanto mais você progride no jogo, mais técnicas você domina e mais completo fica o combate.
Ainda nesse aspecto, uma melhoria em relação ao primeiro jogo é enfrentar múltiplos inimigos. No antecessor, duelar com vários inimigos era uma experiência péssima, principalmente para novatos. Já no novo game, ela é bem divertida e simples de entender, mas você vai precisar ter uma certa tática pra não sair prejudicado.
Outro ponto importantíssimo no jogo são as conversas. Os desenvolvedores compartilharam que no primeiro jogo da franquia existia algo em torno de 800 mil palavras. Em Kingdom Come 2, existem mais de nove milhões de palavras.
Você vai conversar muito com os NPCs, e a habilidade de “Erudição” pode te ajudar a ganhar na lábia muita coisa, ou seja, bater papo é outro fator que vai fazer diferença. E assim como no combate e em todos outros atributos, quanto mais você faz, melhor você vai ficando nisso. Por isso, o ínicio é devagar e cruel com o jogador.
Se você não tem paciência para diálogos, pode ter certeza que esse jogo não é pra você. Porém, se você superar essa barreira, pode ter certeza que você vai se divertir. O jogo tem muitas conversas engraçadas, sérias e tristes. Essas conversas reagem a como seu personagem está no mundo, caso você esteja sujo de sangue, fedido ou qualquer outra coisa, os NPCs vão comentar sobre isso.
Ainda falando da jogabilidade, caso você seja da rataria, você pode optar pela furtividade, que acaba sendo um jeito fácil e simples de conseguir eliminar os inimigos e ganhar dinheiro. A estratégia é válida em todos momentos do jogo, mas principalmente no início, quando seus equipamentos não são dos melhores.
As mecânicas de furto não tiveram grandes mudanças além de alguns minigames serem um pouco mais fáceis, então a experiência do jogo anterior com certeza vai te ajudar nesse começo. Mas com um pouco de prática, você vira um mestre do furto.
O sistema de reputação também está presente e isso vai afetar a forma que as pessoas percebem você na cidade. Isso se dá também ao sistema de crimes e punições do jogo. Se você for pego com itens roubados, por ter matado alguém ou qualquer outro motivo, você pode pagar para se livrar e ainda existe a chance do guarda corrupto pegar alguns itens de volta, ou você pode ficar preso em praça pública pra todo mundo ver.
Essa reputação muda com conversas ou atitudes dentro daquele local e, muitas vezes, isso pode te ajudar ou atrapalhar na sua sequência de missões com aqueles NPCs, mas nada que interfira no andamento do jogo. É mais um sistema para dar essa sensação de que todas suas escolhas afetam o mundo que você está.
Outra parte muito presente dentro de vários momentos da sua jogatina são os mini games de craft, seja forjar uma arma ou então uma ferradura, ir para a bancada de alquimia para fazer algum remédio ou um veneno, ou então só fazer a sua comidinha na panela.
Todos esses sistemas e os minigames culminam na sua progressão do jogo. Botar a mão na massa pra fazer as coisas te dá experiência para sair evoluindo suas habilidades. Você também pode encontrar livros que, ao serem estudados, vão te dar XP.
Dito isso, a progressão é extremamente natural e a cada level que você ganha, você nota a diferença. Você tem o peso dessa evolução no seu personagem, principalmente quando começa a ver que muitas coisas que eram muito difíceis nas primeiras horas ficam simples.
Indo agora para um lado mais visual do jogo, os gráficos não são impressionantes, mas ainda rendem belíssimas paisagens, o que torna a viagem a cavalo algo bem relaxante.
De modo geral, a aparência é boa, mas tive alguns problemas visuais durante a jogatina. Alguns efeitos de luzes extremamente saturados a ponto de você não entender muito os objetos, e que eram quase sempre flashs que sumiam rapidamente, por exemplo, ou alguns bugs de NPC. Felizmente, todos esses erros visuais são conhecidos pela desenvolvedora, não à toa eles deixaram avisado que isso poderia ocorrer, e que iriam mexer nisso antes do jogo ser lançado.
Também tive alguns problemas com crashes e NPCs bugados, com quem não era possível interagir, me forçando a reiniciar o jogo pra conseguir completar uma missão.
Passando para o mapa e o mundo do jogo, que são algo bizarro: cenários variados, com tudo muito bonito e vivo. Era fácil se perder, já que sempre há algo para seguir e encontrar outro lugar para ser explorado. É realmente surreal.
Um mundo tão formidável precisava de NPCs interessantes e vivos, o que obviamente tem. Todas as interações, conversas e rotinas deles são bem feitas e bem elaboradas. Todos os NPCs possuem a sua rotina diária e noturna e isso influencia em tudo, seja nas missões, seja nas conversas e até na forma que você vai decidir jogar.
Outro momento dos NPCs que me diverti durante a jogatina aconteceu quando eu estava só passando pela cidade, vi dois NPCs discutindo e, do nada, eles estavam saindo na mão. Quando olhei pro lado, começaram a chegar vários NPCs pra ficar assistindo e fazendo comentários horrorizados sobre a cena. Em certo ponto, o Guarda da cidade viu que ia começar uma briga e meteu o pé; falou que não era problema dele e saiu vazado.
Falo com tranquilidade que as sidequests são a melhor parte desse jogo. Muitas delas me lembravam The Witcher 3 pela profundidade e pelas histórias que a gente vai conhecendo nelas. Não são só quests de “ir até ali” ou “pegar aquilo ali”. Em certo ponto você precisa fazer isso, mas tudo tem um motivo e um porquê.
Encontrar coisas ou pessoas no meio da exploração é muito comum. Às vezes, durante o seu fast travel o jogo te indica que tem alguma interação ali, seja um bandido, seja um pastor ou só um aldeão passeando. Por isso você nunca sabe o que esperar das viagens.
Como o jogo envolve muito diálogo, é claro que precisamos falar da história, já que pra um jogo que foi preciso mais de 60 horas pra zerar, não poderia ser pouca coisa.
Você começa em meio a uma grande invasão ao castelo e rapidamente você vê Godwin e Hans Capon enfiados nessa história. Controlando o padre já conhecido da franquia, você conhece o Diabo Seco, que vai te guiando nos objetivos nesse início,até chegar em Hans tomando uma flechada e dizendo que a única coisa que eles tinham que ter feito era ter entregue uma mensagem em Trosky. Depois, a tela foi cortada duas semanas antes.
Em algum momento você sabe que vai retornar para aquele ponto, e você agora vai viver a história de Henry junto de Capon para chegar ao momento em que não vemos o protagonista da série.
Acompanhando o começo da jornada, você entende que precisam entregar uma mensagem em outra cidade e, no meio dessa confusão toda, vocês são atacados e precisam fugir até serem salvos por uma senhora curandeira na floresta. Assim iniciando a sua saga.
Essa jornada é longa, principalmente se você é daqueles que se perde fazendo missões secundárias e esquece dos objetivos principais. Consegui zerar a história com aproximadamente 50 horas, mas deixei muitas missões para revisitar agora no pós-game.
Assim como no primeiro jogo, aparentemente tudo conspira contra o nosso protagonista Henry. Se tiver algo pra dar errado, vai dar, e as primeiras horas do jogo deixam isso claro. Porém, durante toda a história você acompanha uma evolução incrível dele, que passa de um guarda de Hans Capon para um grande líder, precisando tomar decisões muito complicadas e que vão afetar a ele e a todos em sua volta. Nesse caminho, Henry ainda vai conhecer diversos personagens e quase todos eles são extremamente carismáticos, fazendo você criar vínculos com eles.
Outro fator muito presente em Kingdom Come é o de que tudo pode acontecer. Amigos podem ser inimigos, inimigos podem ser amigos, e desconfiar de todos pode evitar ter sangue derramado.
Isso faz com que, além da sua história pessoal como Henry, você também acompanhe as vidas de vários outros coadjuvantes, que também são ricas e profundas — seja em suas motivações ou suas experiências prévias.
Dessa forma, o desenvolvimento da história fica muito natural; você vai explorando e conhecendo personagens que você se importa, e naturalmente vai querer descobrir mais sobre eles, mas nem todas as histórias são felizes. Você vê que não é só Henry que está passando ou passou por adversidades.
Sem dar spoilers, porque é uma história que você vai querer desvendar sozinho, é surreal como as escolhas e decisões tomadas durante a jogatina são impactantes e importantes. No final, você vai sentir o peso de todas elas. Eu tomei algumas decisões que me fizeram questionar muita coisa, e de maneiras que eu jamais esperaria.
Kingdom Come Deliverance 2 é tranquilamente um dos melhores RPGs de ação que joguei nos últimos anos e um dos melhores de 2025 até agora. O game não só te conta uma história incrível mas te faz viver ela.
Onde todas as suas tomadas de decisões e escolhas são importantes e mudam o andamento do mundo que você está presente de várias maneiras.