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Review: Far Cry New Dawn

Pós-apocalipse traz rigidez à fórmula de liberdade da Ubisoft

Por Bruno Silva 17.02.2019 06H00

Far Cry não precisa provar para ninguém a robustez de sua fórmula, que tem criado, há pelo menos sete anos, ótimos “parques de diversão” para quem curte ação desenfreada em um jogo. Sua eficácia é comprovada mais uma vez em Far Cry New Dawn, que promove algumas mudanças no gameplay de efeito negativo, mas ainda assim não compromete a experiência.

New Dawn pode ser classificado como um dos jogos da franquia que usam a base de um jogo anterior para realizar experimentos ousados, na mesma seara de títulos como o futurista Blood Dragon ou o pré-histórico Primal. Desta vez, no entanto, a mudança é menos radical. O título é continuação direta de Far Cry 5, explorando uma temática bem conhecida nos games: um mundo devastado pela guerra nuclear.

Sem se incomodar em dar spoilers do final de Far Cry 5, a Ubisoft nos coloca de volta em Hope County, a terra outrora dominada pelo culto religioso de Joseph Seed. Como ele previu, o fim do mundo chegou, e você encara uma realidade em que a natureza voltou a mandar na Terra, 17 anos após a queda das bombas atômicas.

Crédito: Ubisoft/Divulgação

A primeira consideração a ser feita sobre esse mundo pós-apocalíptico é a de que ele foge do padrão desse tipo de jogo. Paisagens vistosas e um excesso de plantas rosas dão a New Dawn uma paleta de cor bem diferente do cinza e marrom ao qual estamos acostumados a ver no fim do mundo dos videogames (e curiosamente parecido com o do vindouro RAGE 2). O visual dá uma nova cara a um cenário manjado.

A trama, por sua vez, coloca novos atores e velhos conhecidos em cena. Você faz parte de um grupo de sobreviventes das explosões nucleares que tenta reconstruir a vida em Hope County, mas vê seus esforços serem rechaçados pela chegada dos Salteadores, uma gangue disposta a passar por cima de qualquer um para conseguir o que quer.

Se juntas já causam...

Ubisoft/Divulgação

Como manda a tradição de Far Cry, há foco nos vilões. As da vez são duas irmãs, as gêmeas Mickey e Lou. Juntas, elas representam os dois lados de um típico antagonista da franquia: uma é fria e calculista, outra é totalmente imprevisível. Ao dividir o estereótipo testado e comprovado por Vaas e Pagan Min em dois personagens diferentes, New Dawn acaba diminuindo o carisma de ambas, deixando-as um nível abaixo de seus antecessores.

Não à toa, New Dawn acaba recorrendo aos vilões do game anterior, que agora se transformam em improváveis aliados na luta contra os Salteadores. Repensados como um grupo religioso ligado à natureza, os integrantes do Novo Éden mal lembram os fanáticos que aterrorizaram Hope Country em Far Cry 5, deixando ainda mais inócua a tentativa de comentário social do game anterior.

Para quem não se interessa pela história, New Dawn traz poucas mudanças, mas elas são bastante significativas. O jogo adota mecânicas inspiradas em RPG que, em linhas gerais, retiram um pouco da liberdade para tomar qualquer abordagem na hora de agir, uma marca registrada da saga.

Ubisoft/Divulgação

Os inimigos, seus aliados de campo (outro elemento herdado de Far Cry 5) e as suas armas têm quatro níveis diferentes. Embora sejam poucos, são bem diferentes entre si: usar uma arma nível 1 para derrotar um oponente nível 2 é muito difícil.

Sendo assim, instaura-se uma mecânica similar ao dos novos Assassin's Creed: para encarar certos perigos do mundo - e em Far Cry eles são muitos - é preciso subir de nível. O grinding não chega a ser tão extenso, mas é o suficiente para impedir que você faça bagunça no mundo aberto da maneira que quiser.

Diversão restrita

Ubisoft/Divulgação

Níveis a parte, New Dawn segue a mesma dinâmica dos jogos anteriores, com os mesmos comandos, árvores de habilidades, postos avançados para tomar e missões lisérgicas. Quase todas as atividades do jogo estão ligadas ao fortalecimento do seu personagem e da sua base, que precisa se recuperar da investida dos Salteadores que dá início à trama.

O principal recurso que move sua base adiante é o etanol, usado para melhorar as várias estações de sua base. É preciso aprimorá-las para aumentar o nível geral da base (algo exigido pela trama). Há algumas maneiras de obter esse recurso, mas as mais eficazes envolvem tomar os postos avançados dos Salteadores.

As estruturas da base também regem suas capacidades individuais, essenciais para o progresso por conta da nova estrutura baseada em RPG. Aprimorar estações de saúde aumentam sua vida, melhorar estações de armas permitem que você crie armas melhores, vitais para enfrentar inimigos difíceis, e por aí vai.

Ubisoft/Divulgação

Falando em criar, Far Cry 5 também dispõe de um sistema de crafting, no qual você precisa coletar recursos para fazer armas e veículos. Não é nada muito complexo, mas todas as mecânicas do jogo convergem para um ponto em que certas ações são necessárias para que você fique preparado para encarar a natureza - ou ela, em alguns níveis a mais do que você, certamente o engolirá.

Prova disso foi quando estava tomando uma base inimiga. Para obter mais etanol e conseguir os aprimoramentos mais avançados da base, existe uma opção de devolver o controle dos postos avançados para o inimigo, aumentando o nível dos inimigos que a ocupam.

No início do jogo, tentei reconquistar duas bases em nível 2 sem as armas adequadas. Mesmo me desvencilhando da maioria dos guardas, foi bem mais difícil conseguir tomá-las - e, em uma das tentativas, um urso nível 4 invadiu o tiroteio e acabou com a festa de todo mundo, inclusive a minha.

Todo esse cenário consegue passar muito bem a ideia de que você está em desvantagem em um cenário perigoso, mas infelizmente, a contrapartida para ficar mais forte é se submeter a atividades que você talvez não queira fazer, ao menos não naquele momento.

Apesar das mudanças, Far Cry New Dawn continua fiel ao estilo de sua franquia. Ultrapassada a barreira do grinding inicial, o título continua fazendo jus a ideia de mundo aberto maluco pelo qual a série ficou conhecida.

Nota do crítico