Review: Dragon Ball Sparking! Zero é retorno em grande estilo
Jogo tem seus pontos desinteressantes, mas brilha muito como um verdadeiro game de Dragon Ball
Fazer um novo jogo de Dragon Ball pode ser uma tarefa árdua. Ainda que seja uma marca extremamente comercial e fácil de vender, não é exatamente simples criar algo que ainda não tenha sido feito. Por outro lado, é também fácil apenas promover uma verdadeira bagunça, “tacar” mais de 100 personagens para um elenco robusto e ter uma fórmula fácil de agradar aos fãs.
É mais ou menos assim que funciona com Dragon Ball Sparking! Zero. Depois de apostar forte nas lutas tradicionais com Dragon Ball FighterZ e no RPG narrativo com Dragon Ball Z: Kakarot, a Bandai Namco decide, mais uma vez, voltar seus olhos para a antiga série “Budokai Tenkaichi”, que foi febre na época do PS2.
Para quem não sabe, no Japão, os jogos “Dragon Ball Budokai Tenkaichi” eram chamados de “Dragon Ball Sparking!”, sempre com exclamação, para mostrar que se tratava de um game explosivo e recheado de ação. Sabe-se lá por qual motivo agora eles decidiram optar por esta marca padronizada no mundo todo, mas é sempre bom ver o Budokai Tenkaichi de volta. Estes eram alguns dos títulos mais divertidos de toda a série.
E pode-se dizer que Dragon Ball Sparking! Zero faz o serviço direitinho. Este não é um jogo para todo mundo. Na verdade, ele tem um público bem específico: os fãs mais apaixonados de Dragon Ball. Com seus mais de 180 personagens, este é um fruto do mais puro amor pela franquia do agora saudoso Akira Toriyama. Temos aqui personagens que vão desde o primeiro “Dragon Ballzinho”, passando pela fase Z, Super e até mesmo o esquecido, porém inesquecível, GT.
Elenco robusto, porém, não faz um bom jogo. Você pode inserir quase mil personagens se não tiver um conteúdo decente e uma jogabilidade acima da média. Ou no mínimo divertida. E isso a gente tem aqui também. Guerreiros Z, temos boas notícias.
O clássico voltou
Os jogos “Budokai Tenkaichi” se distanciam bastante do que é um jogo de luta tradicional. Eles apresentam arenas 3D vastas, movimentação livre. Se hoje temos o “gênero” conhecido como “anime fighters”, estes games de Dragon Ball foram alguns dos principais responsáveis por sua popularização. Eles trouxeram toda uma nova forma de se entender e se divertir com jogos de luta, tirando várias camadas técnicas dos controles e dando espaço para a diversão.
Para quem já conhece os games passados, pouca coisa mudou. E falo isso no melhor sentido possível. A experiência clássica está tão de volta que o jogo te deixa escolher se quer jogar com esquema de controles novos ou se prefere o tradicional. No fundo, pouca coisa muda, de acordo com a escolha, apenas a ordem em que alguns botões se posicionam. De resto, permanece quase tudo a mesma coisa.
Um botão, por exemplo, emite combos de socos e golpes contra o oponente. Outro carrega o Ki. Segurar um botão de ombro e apertar outro ativa golpes especiais, como Masenko, Kamehameha ou Kikouho. Tudo muito fácil e simples, mas não vá pensando que dá para ganhar sempre assim. Ao menos não nos embates mais complicados.
Há dificuldade no poder máximo
Como apontamos em um de nossos previews, é possível vencer algumas lutas apenas “spamando” ataques especiais, mas um oponente humano não vai esperar você carregar seu Ki calmamente para liberar o próximo Super Kamehameha. É preciso ter uma estratégia mínima para encaixar golpes, esquivar de outros e lidar com os contra-ataques.
Dragon Ball Sparking! Zero não é um jogo de luta mas existem algumas camadas que são possíveis de se realizar, estratégias de combates e formas de abordar oponentes. Especialmente por conta das diferenças entre personagens. Sim, Dragon Ball Sparking! Zero conta com 180 lutadores, além de eventuais DLCs, e eles trazem vários repetidos, como Gokus e Vegetas, mas eles possuem golpes diferentes – assim sendo, estratégias distintas.
Um Goku comum pode se transformar em Super Saiyajin na luta, mas também pode se manter no nível base. Se o jogador quiser, pode ainda já escolher o Goku no Instinto Superior para iniciar o combate, e por aí vai. Tudo depende de quem você vai enfrentar e como vai fazer isso.
Por falar neste ponto, o multiplayer de Dragon Ball Sparking! Zero estava limitado. Como recebemos o jogo previamente, só foi possível testar o modo online por alguns dias. E, nestes dias, nem sempre tínhamos jogadores disponíveis para enfrentar. Durante os testes, chegamos a conectar em uma sala com outro oponente, mas o querido nunca dava “pronto” para iniciar a batalha. Isso também vale para o conteúdo criado por usuários. E, por falar nisso…
O elo fraco de Dragon Ball Sparking! Zero
Dragon Ball Sparking! Zero não precisaria reinventar a roda, mas, ainda assim, ele tentou. O jogo já é bom apenas por ser uma nova versão do clássico Budokai Tenkaichi. A produção introduziu um sistema de criação capaz de gerar linhas do tempo alternativas e montar seus próprios cenários, definindo até mesmo alguns diálogos.
O sistema lembra um pouco jogos como LittleBigPlanet ou, para exemplos mais recentes, Fortnite e Roblox. Você pode criar uma pequena história, cenário, personagens e disponibilizar online para que outros jogadores participem da história. A ideia é interessante e pode render alguns resultados curiosos após o lançamento – novamente, pela pouca quantidade de gente com acesso ao game pré-lançamento, não foi possível explorar tantos resultados.
O grande problema nisso é mais textual do que qualquer outra coisa. Por conta da localização alguns textos não fazem tanto sentido e soam artificiais. Além disso, apesar de trazer possibilidades quase infinitas, os resultados foram um pouco limitados no nosso teste. O próprio game traz alguns cenários de “o que aconteceria se” de fábrica, mas isso não é exatamente novo, tendo em vista que algo similar foi apresentado em Dragon Ball Xenoverse 2.
Dragon Ball Sparking! Zero brilha
Não se deixe enganar pelo elo fraco, porém. Dragon Ball Sparking! Zero é um jogão para os fãs e que, talvez, pode atrair quem ainda não conhece tanto da série e possa ser fisgado pela estreia do vindouro Dragon Ball Daima, anime inédito que chega agora, também em outubro.
O game faz direitinho o serviço, e o fanservice, e lida bem com as expectativas do retorno de um verdadeiro Budokai Tenkaichi. Além disso, os gráficos estão a par do que é a atual geração de consoles. O bom e velho cel shading ainda funciona bem para jogos de anime modernos, mas em Dragon Ball Sparking! Zero temos efeitos visuais adicionais nos golpes, no Ki dos personagens e nas mudanças de cena.
É um desbunde ver os efeitos que os ataques especiais ativam, especialmente se forem dos mais devastadores. Cenários destrutíveis são parte do pacote, como não poderiam deixar de ser, e há muito mais interação de acordo com as escolhas que o jogador faz sobre onde quer combater.
E, claro, há o modo história disfarçado de lutas ininterruptas. O jogador pode escolher que caminho vai seguir – história de Goku, de Vegeta, de Freeza, Goku Black, entre outros – e reviver vários momentos de Dragon Ball Z ou Super, sempre com a mínima quantidade de narrativa possível, se focando nas lutas. Confesso que pode ser um pouco banal repetir Goku versus Raditz pela milésima vez, mas esse retorno de Budokai Tenkaichi dá um gostinho diferente para a coisa toda.
Se você tem um console ou PC compatível e é fã de Dragon Ball, da obra de Toriyama como um todo, não importa sua fase favorita. Dragon Ball Sparking! Zero é o jogo certo para comprar neste finalzinho de ano, sempre concorrido com grandes lançamentos. Vale reservar um espaço no orçamento para aproveitar mais essa grande homenagem aos Guerreiros Z, suas histórias, batalhas épicas e diversão quase infinita, desta vez.