Review: Concrete Genie

Com um visual incrível, o novo exclusivo de PlayStation 4 não aproveita todo o potencial de um bom conceito

Por Breno Deolindo 10.10.2019 16H27

Exclusivo de PlayStation 4, Concrete Genie chamou a atenção desde que foi revelado por seu estilo cartunesco bastante diferenciado, assim como os coloridos monstros que vão surgindo na jornada de Ash, o protagonista.

Desobedecendo seus pais, o garoto vai à cidade de Denska, onde já havia morado, para um passeio. Munido com seu caderno de desenhos e muita imaginação, ele rapidamente é atacado por valentões que espalham as páginas de seus rabiscos e o colocam em um bondinho para o farol da cidade.

Lá, ele encontra Luna, personagem de um de seus desenhos e que surge como um “grafite animado” nas paredes do local. Apesar da aparência monstruosa, a criatura é bastante simpática, e orienta Ash a revitalizar a sombria Denska.

Agora munido com um pincel mágico, Ash inicia sua aventura para que a cidade volte aos tempos de glória. O objetivo principal do game é justamente iluminar lâmpadas apagadas que estão espalhadas por Denska, algo que pode ser feito por meio de simples desenhos nas paredes.

É aí que entra em ação a principal mecânica do game: o jogador passa a ter “modelos” de desenhos a serem feitos nas paredes. Árvores, arco-íris, cogumelos e cordões de lâmpadas são algumas das coisas que podem ser facilmente grafitadas em cores brilhantes.

São duas competentes opções para fazer suas artes - utilizar o sensor de movimento do Dualshock 4 como se estivesse movendo o pincel; ou ser mais conservador e realizar os traços com seu analógico direito.

Ambas são bastante satisfatórias e simples de se entender. Para os que, como eu, não possuem tanto talento para desenhar, podem ficar tranquilos: o game “arredonda” muito bem seus traços, e é difícil produzir alguma obra que não fique bonita.

Eventualmente, os desenhos simples não serão suficientes para acender todas as lâmpadas, e o jogador deverá recorrer aos Gênios, monstros de tinta que te ajudam a resolver puzzles e também fornecem a Super Tinta, que deve ser utilizada para limpar paredes contaminadas pela escuridão.

Mantendo o espírito criativo, os Gênios também são feitos pelo próprio jogador. Basta escolher entre algum dos modelos pré-definidos de corpo e acrescentar todos os detalhes que vierem em sua mente: chifres, chapéus e caudas podem ser desbloqueados ao encontrar páginas espalhadas por Denska.

Colocar os seus desenhos em prática não é uma tarefa tão pacífica quanto parece, pois os valentões do início do game ainda te perseguirão, mas não é nada que seja tão preocupante. É fácil distrair o grupo uma vez que você conhece os caminhos do cenário, e as perseguições a Ash costumam ser bem simples de escapar; no fim, os bullies funcionam mais como um entrave chato para sua liberdade.

O aspecto artístico do game é o que sobressai desde o início: pintar as paredes é muito simples e dá resultados que enchem os olhos. O mesmo vale para os carismáticos Gênios, que brilham tanto quanto qualquer outro elemento no cenário e ainda fornecem alguns bons momentos de interação com suas outras pinturas - um grafite de maçã, por exemplo, pode ser devorado por um monstrinho faminto.

Uma mensagem clara e bonita

Toda a envelopagem artística de Concrete Genie contém uma mensagem bastante explícita sobre bullying. Sem entrar em spoilers, o enredo do game tenta explorar os motivos que levam as pessoas a agirem como valentões.

Em tempos de jogos como Celeste e Sea of Solitude, abordar temas psicológicos não é mais uma novidade tão grande, mas ainda é bastante válido. O game serve como uma luva para o público infantil, mas ainda consegue apertar o coração de adulto em determinados momentos.

Uma brusca e bem-vinda mudança

Por mais que a mecânica de pinturas e criação de Gênios seja a base de Concrete Genie, há uma grande adição na gama de controles possíveis para o jogador. Para resolver algumas situações que surgem, Ash é obrigado a atacar inimigos, fazendo com que o jogo torne-se algo dentro do gênero de ação.

Essa ruptura drástica na expectativa é muito interessante, alterando sem mais nem menos os conceitos que o jogador se acostumou desde o início do game. Entretanto, ela parece um pouco apressada e menos profunda do que poderia ser.

Enquanto a variedade de pinturas é enorme, com dezenas de padrões possíveis e a liberdade criativa do jogador, o “modo ação” soa bastante limitado, com basicamente cinco comandos novos para Ash.

Isso é somado a inimigos sem muita variedade de golpes, que são relativamente fáceis de serem abatidos mas possuem barras de vida muito extensas e fogem pelo cenário, tornando os combates cansativos.

Poderia ser mais longo?

Tanto em seu gameplay quanto no enredo, Concrete Genie dá a impressão de ser uma experiência apressada. Isso não tira o mérito de sua mensagem e da sua beleza visual, mas atrapalha na imersão a esse universo.

O game tenta dar identidades próprias aos valentões por meio de animações, mas são tão rápidas e inofensivas que não transmitem o impacto que poderiam. É bem fácil se esquecer do nome dos “vilões” durante a jogatina.

O jogo é bem curto, e pode ser facilmente finalizado com menos de seis horas de gameplay. Sinto que com algumas horas extras, os valentões poderiam ser melhor explorados, dando um carisma único a cada um deles; entretanto, eles são apenas um grupo de bullies genéricos com um palmo de profundidade.

O mesmo pode ser dito para o gameplay de ação. Algo complexo como árvore de habilidades ou subir de nível não parece se encaixar bem na proposta do jogo, mas combos e combinações de golpes poderiam deixar esse trecho ainda mais prazeroso. Sem isso, o mais efetivo é simplesmente amassar os botões.

Concrete Genie é incrivelmente bonito, e seus gráficos que lembram desenhos em um papel merecem ser vistos. Juntamente com uma importante mensagem, isso resulta no ótimo conceito do game. Havia espaço para o universo e as possibilidades do game serem melhor explorados, mas isso não é um problema tão grande frente a tantas qualidades.

Nota do crítico