Review: Armored Core VI é projeto passional de estúdio que dominou o mundo
Sem diluir sua essência, série de robôs gigantes retorna em novo patamar de primor técnico
Há algo de romântico em ver um estúdio que encontrou sucesso em outras praias retornar a uma franquia de seus tempos mais humildes.
A maneira como a FromSoftware resolveu dar uma nova chance a Armored Core pós-fenômeno Souls diz muito sobre a existência de Fires of Rubicon: um jogo que é fruto da paixão de criadores que, depois de ganhar a confiança do mundo, continuam acreditando que o que eles tinham feito antes do sucesso também merece ser valorizado.
E assim, Armored Core VI não é um Souls-like de robô gigante. Não faria sentido – eles querem que os fãs de Elden Ring e Dark Souls conheçam Armored Core, afinal.
O que o novo título oferece, então, é um apanhado de conceitos clássicos já vistos em jogos Armored Core anteriores desde o primeiro PlayStation, mas desta vez executados com primor técnico por um estúdio que sabe como poucos fazer um videogame gostoso de controlar.
Em um planeta pós-apocalíptico consumido por uma guerra interminável por recursos, a única coisa que os sobreviventes podem fazer é provar o que o caráter “interminável” da guerra realmente é literal. Mercenários como o que o jogador controla usam os robôs que dão nome à série para transformar violência em riqueza.
Seria mentira dizer que a narrativa de Armored Core VI: Fires of Rubicon se encerra em sua premissa, mas o que existe além disso não tem grande força. Rixas entre corporações pouco caracterizadas são descritas pelas vozes de personagens sem rostos em diálogos durante e entre as missões, e é difícil importar-se com qualquer um deles.
O que a narrativa de Fires of Rubicon traz de positivo são os panos de fundo para algumas de suas missões mais mirabolantes. Em uma delas, seu objetivo é destruir uma colossal nave autônoma de mineração que está atravessando as dunas. Quem a controla? Aonde ela vai? Não me lembro. Mas definitivamente me lembro de avançar por entre suas gigantescas pernas, desviando de disparos de canhões-laser, até encontrar e desmantelar seus pontos fracos um por um.
O New Game+ desbloqueia algumas missões com perspectivas invertidas em comparação com a campanha principal (como uma em que você precisa escoltar em vez de destruir tal nave), o que é uma sacada narrativa interessante. Mas, no geral, a história parece satisfeita em ficar em segundo plano.
No primeiro, o que realmente importa: a personalização e manuseio dos robôs chamados Armored Cores.
É difícil descrever o escopo da personalização possível em Fires of Rubicon sem soar hiperbólico. Você pode montar um robô pesado que gira sobre esteiras de tanques de guerra e ataca à distância com lançadores de foguetes e rifles de precisão, uma armadura levíssima que corta os ares em uma velocidade desnorteante e os inimigos com lâminas-laser, ou qualquer outra coisa entre esses dois extremos.
As missões da campanha são muito diversas, com cenas de batalha de todos os tipos: verticalizadas, de curta proximidade, com galerias de tiro contra inimigos distantes, e até mesmo contra chefes extremamente poderosos (que não, não são tão emblemáticos quanto os de um Souls-like da From).
Certos tipos de robôs terão grande facilidade em um tipo de missão, apenas para tropeçar miseravelmente na fase seguinte. E aí o jogador tem duas escolhas, ambas igualmente divertidas e desafiadoras: forçar a barra e tentar dominar completamente o Armored Core construído anteriormente, ou então voltar para a garagem e remonta-lo para se adequar aos novos desafios.
O que torna satisfatório esse ciclo de constantes reinvenções por parte do jogador é a maneira como a FromSoftware aperfeiçoou o sistema de controle dos robôs em comparação aos jogos anteriores da série.
Há títulos Armored Core em que manusear robôs velozes é frustrante pelos controles não oferecerem a precisão necessária para que você consiga movimenta-los como quer. Em outros, robôs mais lentos praticamente não têm chance contra grandes grupos de inimigos por falta de ferramentas de defesa a seu dispor. Mas nada disso acontece em Fires of Rubicon.
Seja dominando a mira de um rifle à distância ou costurando impulsos laterais até chegar na cara de um inimigo e soltar a espadada, você sempre se sente em total controle de sua criação (ainda que, pessoalmente, eu ache que a segunda opção é muito mais empolgante).
É claro que, seguindo a tradição da série, gerenciar recursos é tão essencial para o sucesso em combate quanto o manuseio do robô. Contadores de munição, medidores de superaquecimento e uma barra de energia são apenas alguns dos fatores que limitam sua ação nas batalhas – o que pode ser intimidador em um primeiro momento. Com a flexibilidade para alterar seu robô, porém, é possível apoiar-se em modificações específicas para compensar seus pontos fracos.
A ação de Armored Core VI é compartimentalizada em missões cujas durações variam violentamente. Algumas delas podem ser cumpridas em menos de dois minutos, enquanto outras persistem por quase uma hora.
Isso não é necessariamente um problema, mas pode causar frustrações: uma vez dentro da missão, fechar o jogo significa reiniciar o progresso quando você retornar. Em algumas oportunidades, entrei em uma missão achando que teria tempo para vence-la, apenas para me decepcionar e ter que sacrificar alguns minutos de avanço.
Muitas delas oferecem objetivos secundários de grande importância: alguns oferecem bônus monetários, enquanto outros, caso não sejam cumpridos, reduzem o seu pagamento total pela missão. O dinheiro, naturalmente, é o motivo pelo qual estamos ali: quanto mais cifras na conta, maior a liberdade do jogador de comprar novas peças e manipular as capacidades de seu Armored Core.
É provável que alguém mundo afora tenha se decepcionado com Armored Core VI: Fires of Rubicon por ele não ser imediatamente acessível a jogadores que se acostumaram com a FromSoftware de Dark Souls. De minha parte, fico contente que eles optaram por não diluir a fórmula de uma franquia que, por mais desconhecida que fosse, ainda merecia ser preservada por oferecer uma experiência única na indústria.
Eu não sei se, como dizia a música, todos se amarram em robôs gigantes. Mas Armored Core VI: Fires of Rubicon é um excelente argumento a favor deles.
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