Review: PS Portal tem problemas mas pode achar seu público

Vale o investimento ou é rasgar dinheiro?

Por Felipe Vinha 19.07.2024 14H10

O PlayStation Portal foi, enfim, lançado no Brasil no final de junho. O aparelho, que não é um videogame portátil por si só, funciona como um reprodutor remoto do PS5. Suas páginas de anúncio, inclusive, o nomeiam assim. Nenhuma delas chama o dispositivo de "videogame", "console" ou algo similar. Mas será que vale a pena gastar cerca de R$ 1500 em um? Estou aqui para tentar te dar uma resposta exata sobre este questionamento e talvez indicar qual seria o público que vai aproveitar melhor este lançamento.

Vamos começar pelo básico: sim, o PS Portal é um reprodutor remoto. O dono de um aparelho deste também precisa ter um PS5 em casa. Além disso, o PS5 precisa estar conectado com a Internet e ligado ou, ao menos, estar em repouso - em repouso, frise-se, e não totalmente desligado. Assim o Portal vai poder utilizar a função Remote Play para se conectar e jogar sem que o usuário precise ligar a TV. Não é preciso usar a mesma rede Wi-Fi para isso. Entendida a premissa e funcionamento básico, vamos às primeiras impressões.

Início dos testes

Estou com o PS Portal já há alguns dias. Fiz as configurações iniciais assim que ele chegou e realizei os primeiros testes. Tudo é bem rápido. É só tirar da caixa (que é muito bonita e elegante, inclusive), atualizar e entrar com suas credenciais da PlayStation Network. Ele logo se conecta com seu PS5 quase que imediatamente. Há, literalmente, um efeito de "portal" se abrindo para que a conexão seja estabelecida, o que é uma sacada legal. Pense em algo como os portais do Doutor Estranho, nos filmes da Marvel, só que com as cores temáticas do PlayStation, em vez de laranja.

Há um menu de configurações e opções no PS Portal, mas ele é bem básico. É possível modificar brilho da tela, exibição de porcentagem da bateria, configurar conexão Wi-Fi e ligar ou desligar o Modo Avião, ainda que eu não tenha entendido bem a funcionalidade. Se o aparelho funciona apenas conectado com a Internet, para que um Modo Avião? Questões de segurança ao, de fato, pegar um avião? Talvez. Mas era mais fácil apenas desligar completamente o reprodutor, enquanto ele permanece na bolsa.

Reprodução/Felipe Vinha

Também é possível, nas configurações, se conectar ao PS Link, um novo headset portátil também lançado pela Sony. Infelizmente o Portal não possui conectividade Bluetooth, o fone oficial da Sony utiliza conexão sem fio proprietária. Por outro lado, felizmente o dispositivo também tem uma saída P2 para fones de ouvido mais tradicionais, colocando no chinelo a maioria dos celulares modernos mais atuais - leia esta última frase com um pouquinho de ironia, ou talvez não.

Tecnicidades e preço do PS Portal

Aliás, em termos técnicos, o PS Portal contém algumas configurações bem interessantes. Ele tem uma bateria duradoura de 4370 mAh de 16 Wh, 6GB de memória ROM, uma GPU Qualcomm Adreno 610 e um processador equivalente a um Snapdragon 662. Isso já o colocaria acima do PSP original e até mesmo do PS Vita, mas por qualquer motivo a Sony escolheu mantê-lo apenas como um reprodutor remoto e não como um portátil independente. O display não é OLED, outro ponto um pouco "capenga", e sim LCD, mas não faz feio em termos de resolução e brilho e cores. Tudo é bem claro e "limpo", com oito polegadas em tamanho.

Reprodução/Felipe Vinha

Tudo bem, o motivo talvez seja o mais óbvio de todos: reduzir custos. Ainda assim, o PS Portal não é tão barato. Lá fora ele custa US$ 200, e mesmo assim esgotou quando começou a ser vendido. Por aqui, seu preço está "justo" se pensarmos em conversão da cotação mais atual do dólar e possíveis impostos de importação. A conversão direta seria algo como R$ 1200. Ele ser vendido a R$ 1500 não me parece a coisa mais absurda do mundo. Isso, claro, se você tiver plena ciência de que estamos falando de um reprodutor remoto e não compre enganado, achando que está levando um novo videogame portátil para casa.

Limitações do PS Portal

Agora alguns problemas que são mais importantes e gritantes. Para começo de conversa, o PS Portal é um reprodutor remoto apenas para jogos instalados no seu PS5, e somente no PS5. Ele não reprodução remota com o PS4 e nem é compatível com qualquer outro conteúdo no PS5. Ou seja: nada de assistir Netflix, Crunchyroll, Prime Video ou qualquer app de streaming pelo PS Portal. Nem filmes em Blu-ray. Também não é possível rodar jogos via nuvem no aparelho, mas isso faz pouca diferença para nós, já que este serviço não está disponível no Brasil. Tudo isso pode pesar bastante para quem planeja usar todas as funções de seu console remotamente.

Reprodução/Felipe Vinha

Além disso, como citamos, o aparelho não tem Bluetooth. Isso o torna incompatível até mesmo com o primeiro headset oficial da Sony para o PS5, o PS Pulse. Apenas a versão Elite e a edição de Earbuds funciona sem fio com o PS Portal, por meio da conexão PS Link. É um tanto inaceitável que um dispositivo de natureza portátil não apresente Bluetooth em 2024, onde essa tecnologia é cada vez mais comum e presente, até mesmo em eletrodomésticos mais comuns por aí.

Não é melhor ter um celular?

É verdade que o PS Portal é um mero reprodutor remoto. A função, hoje, existe em diversos outros aparelhos e compatíveis com o PS5. É possível usar o Remote Play de forma oficial em um PC, Mac ou celulares e tablets Android e iOS. No Steam Deck há ainda formas não-oficiais, mas funcionais, de usar a mesma funcionalidade, via aplicativos terceiros. Todos são igualmente compatíveis com o DualSense, joystick oficial do PS5, o que facilita a jogatina se você quiser simular estar usando seu próprio PS5.

Mas é a mesma coisa? Sim e não. O PS Portal é um aparelho exclusivamente dedicado a isso. Muita gente pode preferir ter um dispositivo assim, apenas para jogo e nada mais, sem mais notificações, navegadores ou outros aplicativos. A performance depende mais da qualidade da sua conexão Wi-Fi do que do aparelho em si. A Sony garante que a performance é melhor no PS Portal mas, até onde pude perceber, isso é balela. Há análises técnicas mais profundas que dizem que o Portal possui um atraso de 80 milisegundos na transmissão do jogo, mas não foi notável durante meus testes - joguei games competitivos online, como Street Fighter 6 e Helldivers 2, sem dores de cabeça. A presença de um DualSense acoplado faz toda a diferença e dispensa ficar "pareando" seu controle padrão com outros aparelhos, o que também é uma boa vantagem.

Reprodução/Felipe Vinha

Teoricamente, o PS Portal não tem razão para existir. Ele é mais barato que um celular, sim, mas é mais caro que um controle para ser usado em um celular que você já tem - e, se você tem um PS5, você tem um celular, com toda a certeza. Mas é aquilo, tem sempre quem prefira ter um aparelho 100% dedicado a uma função do que pode ser atrativa para muita gente. E esse é um ponto interessante a ser destacado.

Para quem é o PS Portal?

Pessoas que não estão com o orçamento apertado e querem gastar com algum aparelho novo de videogame. Esse é o resumo mais básico. Não é um dispositivo com preço proibitivo, mas não é todo mundo que tem R$ 1500 sobrando na conta bancária para gastar assim, mesmo em suaves parcelas. Mas ele é interessante para quem vive em uma casa cheia e conta apenas com uma TV, onde o PS5 provavelmente está ligado. Pessoas que têm muitos filhos, parentes que gostam de usar a TV para outro motivo que não sejam games ou até mesmo para jogar algo dentro de uma privacidade mínima.

Nenhum destes foi meu caso. Comprei porque sou adepto de aparelhos da Sony e especialmente se estiverem a um valor acessível. Além disso, no meu caso, estou jogando um pouco antes de dormir, deitado na minha cama, no quarto (a TV com o PS5 fica na sala). A conexão funciona a partir do roteador Wi-Fi que tenho na parede do meu corredor, pois o principal, que também fica na sala, é um pouco distante e o sinal ficaria bastante fraco.

Reprodução/Felipe Vinha

Ainda assim, mesmo com alguns pontos positivos, fica difícil recomendar o PS Portal indiscriminadamente. O aparelho tem falhas gigantes e faltam funções. Quem sabe mais melhorias possam ser adicionadas com o tempo? É sempre uma possibilidade. Do jeito que está, hoje, ele até vai encontrar seu público. Mas está longe de ser um "must have" para todo tipo de usuário.

É bonito, sim, elegante, também. Tem uma ergonomia muito boa e a tela é bonita e brilhante o suficiente para te empolgar. Mas tenha certeza do que está comprando, e se isso atende alguma "dor" sua, em termos práticos.

Nota do crítico